Lulu Skantze e as tendências na Europa

Lulu Skantze e as tendências na Europa

17 de dezembro de 2024
Última atualização: 17 de dezembro de 2024
9min
Revista Bloom banca de livros móvel Penguin e livro proud south tendências para 2025
Revista Bloom, a banca de livros móvel Penguin e o livro Proud South: tendências para 2025. Imagem: Aner
Lulu Skantze

Tão importante quanto o que publicamos é observar as tendências ao nosso redor. Não só descobrimos leitores e comportamentos, mas também novas ideias. Onde vamos — e o que publicamos? Trabalhei com trend forecasting por um tempo, e uma das minhas funções como development art editor era justamente pesquisar o que estava acontecendo e sugerir marcas, parcerias e novas ideias às editoras com as quais eu trabalhava.

A primeira coisa é nunca perder a curiosidade. Sempre fui fascinada por observar hábitos. E todas aquelas coisas que parecem mundanas nos informam sobre o que estamos pensando, fazendo e sendo. O nosso trabalho como editores é pegar essas informações e transformar em algo interessante para ler, escrever e explorar.

Revista Bloom tendências na Europa
Revista Bloom: Tendências na Europa

Li Edelkoort: A Papisa das Tendências

Para mim, a papisa absoluta nessa área é Li Edelkoort. A holandesa fundadora da Trend Union, em Paris, é referência em tendências desde 1975. Ela tem um time de coolhunters espalhado pelo mundo, “sentindo” o que vamos querer fazer, consumir e curtir em seguida. Seus relatórios são leitura obrigatória para marcas gigantes. Faz sentido! Com base em suas observações, ela explica como estamos percebendo o mundo e como isso reflete no que vamos criar ou desejar.

Algumas empresas que já se beneficiaram de seus insights? Coca-Cola, Nissan, Gucci, L’Oréal, só para citar algumas. E ela não para por aí: além de consultoria, Li publica revistas, como a incrível BLOOM, lançada em 1998, que explora a relação entre botânica e design. Cada edição traz uma perspectiva única sobre como elementos naturais influenciam moda, decoração e estilo de vida. A edição mais recente, Bloom Issue #24: EARTH MATTERS, é belíssima e inspiradora.

Livro Proud South de Li Edelkoort mostra as tendências no Sul do Equador
Proud South: Valores do Hemisfério Sul

Outro projeto incrível da Li é o livro Proud South, que ela lançou em 2022, afirmando que o futuro criativo virá do Hemisfério Sul. E faz muito sentido. A obra celebra talentos da América Latina, África, Sul da Ásia e Sudeste Asiático, conectando artesanato local, materiais regionais, práticas ancestrais e valores indígenas — mas tudo com muita originalidade. Ela já anunciou que Proud South 2 está quase pronto. E tudo que Li diz vale ouro, então, se você ainda não conhece o trabalho dela, vale a pena conferir.

Curiosidades e Tendências

Recentemente, a Regina Bucco me pediu uma lista de coisas curiosas e interessantes. A conversa foi tão rica que decidi compartilhar algumas aqui, de forma um pouco aleatória, mas quem sabe elas possam inspirar grandes ideias.

Associe-se à Aner e faça parte deste movimento.

1. Offline Club

Já falamos aqui sobre o Offline Club, que saiu da Holanda e agora está em Londres, Paris e, parece, até em Porto Alegre. O mais interessante? Ele foi criado por três jovens de 27 anos: Ilya KneppelhoutValentijn Klok e Jordy van Bennekom que perceberam entre amigos a necessidade de desconectar, sem serem “forçados” por ninguém. É um movimento jovem que está se expandindo – como muitos dos quais menciono a seguir. São gerações que já cresceram digitais mas estão criando movimentos offline e usando as mídias sociais para viralizar. Contraditório…? Sim, mas por que não?

2. Festas de Leitura e o Reading Rhythms

Os clubes de livro estão bombando na Europa e em Nova York. Minha iniciativa favorita é o Reading Rhythms, onde as pessoas levam seus próprios livros, leem juntos em silêncio em bares ou cafés, e depois socializam. É uma mistura de clube do livro com festa. Algumas editoras já estão patrocinando esses eventos. A Random House, por exemplo, apoiou o evento mais recente, e o The New York Times até publicou um artigo sobre o tema chamado “It’s My Party and I’ll Read If I Want To”. É incrível ver a leitura virar uma experiência comunitária e celebrada, e, novamente, com um público bastante jovem (embora a idade não seja empecilho para participar!) 

3. Máquinas de Livros

Penguin Books banca de livros móvel tendência na Inglaterra

Adoro a ideia da Penguin Books, que instalou uma máquina de venda automática de livros na estação Exeter St Davids, no Reino Unido, ano passado. E a ideia é expandir a mais estações e aeroportos. Facilitar o acesso à leitura em espaços de trânsito rápido é genial, e acho que essa tendência tem muito potencial porque aqui também muitas bancas tradicionais fecharam. Quem sabe isso seja mesmo o futuro das bancas?

4. Moda Sustentável em Espaços Colaborativos

Movimentos de moda sustentável continuam crescendo. O De Steek Café, em Amsterdã, é um exemplo fantástico: lá você pode aprender a costurar, remendar e se conectar com outros que compartilham a mesma visão. A ideia de prolongar a vida útil das roupas é poderosa — usando uma peça por nove meses a mais, reduzimos em 30% nossa pegada de carbono. Além disso, espaços como esse acabam gerando muitas outras ideias criativas e sustentáveis. Tudo o que tem a ver com o assunto é bem-vindo no De Steek! Outro exemplo que conheci por lá é o Swap Club: com um sistema de pontos você doa e troca roupas usadas – dinheiro nunca é aceito nas transações. Para comprar você tem que doar!

5. TAUKO Magazine

Tauko Magazine tendencias de moda e costura
Tauko: opção para quem quer atividades offline

Também quero mencionar a TAUKO Magazine, com quem comecei a colaborar recentemente como conselheira. A Tauko, fundada pela Mila Moisio e Kaisa Rissanen, duas designers de moda e pesquisadoras de arte comprometidas com a sustentabilidade e o bem-estar planetário tem sede em Helsinque e Berlim. As fundadoras transformaram a TAUKO de uma marca de moda sustentável, estabelecida em 2008, em uma revista independente de costura em 2021, focada em costura, clima, cultura e comunidade. Juntas, elas, que são amigas há anos, criaram uma bela revista com tudo o que há de positivo: além do aspecto sustentável de costurar – elas também ensinam a reutilizar materiais, e a revista é inclusiva e diversa. Uma moda para todo mundo. Elas trabalham com vários designers que criam patterns exclusivas para a revista e cada edição é recheada de novas ideias. A palavra Tauko significa pausa em Finlandês e, simplesmente, a revista faz exatamente isto – uma pausa no consumo exagerado e uma revisão dos nossos valores, com muito estilo.

6. Svuota la Vetrina

Na Itália, surgiu o movimento “Svuota la Vetrina” esse ano em agosto, que começou  quando um cliente anônimo adquiriu todos os livros expostos na vitrine da livraria Hoepli, em Milão, totalizando cerca de 200 volumes e um valor aproximado de 10 mil euros. Claro que, ao ser publicada, a notícia viralizou. A redatora Daniela Nicolò, decidiu replicar a ação. Ela comprou todos os livros da vitrine da livraria “I Baffi”, também em Milão, e criou a página no Instagram “@svuota_la_vetrina” para incentivar outros a fazerem o mesmo.  Um gesto incrível que agora se espalhou por outras cidades italianas, com livros sendo muitas vezes doados para escolas (e está apenas começando).

7. MagLiteracy: revista para todos!

E já que estamos falando de boas ações, acho legal dividir o incrível trabalho do John Mennell e do seu time na organização Mag Literacy que trabalha com editores de revista distribuindo revistas para escolas. Recentemente, conversamos a respeito do trabalho incrível que eles fazem e da pergunta: por que revistas?

Ele também acredita que as revistas são ferramentas poderosas para promover a alfabetização por várias razões:

  • Diversidade de Títulos: Com milhares de títulos disponíveis, há revistas para todas as idades, interesses e idiomas, permitindo que os leitores encontrem conteúdo que os motive a ler. 

  • Acessibilidade e Engajamento: Artigos curtos e visuais atraentes tornam as revistas menos intimidantes, incentivando a leitura mesmo entre aqueles que podem ter dificuldades com textos mais longos. 
  • Estímulo à Curiosidade: As revistas educam e inspiram, despertando a curiosidade e promovendo o aprendizado contínuo, o que é essencial para estabelecer hábitos de leitura ao longo da vida. 


Ao distribuir revistas, a MagLiteracy.org busca não apenas fornecer material de leitura, mas também inspirar e educar, ajudando a quebrar o ciclo de analfabetismo e pobreza. Eles trabalham com doações de revistas não vendidas para editoras e bancas, e todo material que eles distribuem vem através de doações. Eles possuem quatro centros de distribuição, têm mais de 7000 títulos que participam em 60 categorias diferentes! Eles afirmam que “print magazines are the most powerful literacy engines on Earth” / As revistas impressas são os motores de alfabetização mais poderosos da Terra. … e eu não tenho como discordar disso!  

Por Que Observar Tendências?

Provavelmente, este artigo soa mais como uma coletânea de curiosidades do que como um artigo com uma única ideia central. E tudo bem, penso eu. Afinal, estamos falando de tendências para o futuro — e isso exige atenção ao que acontece ao nosso redor, nas mais diversas mídias e espaços.

As revistas, por exemplo, muitas vezes são reflexos desses movimentos, e nosso papel, ao observar, é transformar tudo isso em boas ideias. Então, o que você anda observando por aí? Talvez a próxima grande tendência já esteja ao seu lado, esperando apenas ser percebida.

Lulu Skantze
Editor
Lulu Skantze é fundadora e diretora criativa da Storytime, uma das maiores revistas infantis do Reino Unido. Publicada em cinco países e distribuída em mais de 60, a revista também está em plataformas digitais e audiobooks. Baseada em Amsterdã, Lulu trabalhou em agências de publicidade no Brasil e na Alemanha, além de grandes editoras europeias, dirigindo projetos para marcas como Disney, Mattel e Playstation. Palestrante e consultora em licenciamento, ela também colabora com artigos sobre empreendedorismo e tendências editoriais. Saiba mais em www.storytimemagazine.com e www.storytimehub.com Com base em Amsterdã, após viver em Londres por mais de 20 anos, Lulu trabalhou em agências de publicidade no Brasil e na Alemanha e para grandes editoras britânicas, francesas e italianas, dirigindo artisticamente projetos premiados e desenvolvendo produtos para Disney, Mattel, Hasbro, Playstation e muitas outras grandes marcas. Lulu acredita que todos somos feitos de histórias. Ela defende a importância da alfabetização, de conteúdos diversificados e positivos, acessíveis a todos, e esses valores são fundamentais para o conceito da Storytime. Para saber mais sobre sua marca, visite www.storytimemagazine.com e www.storytimehub.com.