O ESTADO DE S.PAULO – 20/07/2020
O presidente Jair Bolsonaro disse ontem a apoiadores, no Palácio da Alvorada, que os votos que o elegeram há dois anos valerão até 2022. A declaração ocorre no momento em que o presidente é alvo de 48 pedidos de impeachment protocolados na Câmara, todos aguardando decisão do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“A gente acredita em vocês, vocês estão aqui no coração, fazem movimentos democráticos para exatamente mostrar que o voto de vocês de 2018 vai valer até 2022”, disse. “Quer trocar? Troque nas urnas”.
A conversa com apoiadores também interrompe um período em que Bolsonaro esteve recolhido na residência oficial e diminuiu o tom de declarações, enquanto um movimento de distensão ocorria nos bastidores para acalmar os ânimos no Executivo e no Judiciário.
De fato, ontem foi a primeira vez que Bolsonaro se encontrou com manifestantes que defendem o governo, desde que ele resolveu, há algumas semanas, baixar o tom nas críticas aos adversários. Já no sábado, o presidente havia encontrado apoiadores diante do espelho d’água do Palácio da Alvorada – o que ele não fazia há duas semanas, desde que teve confirmado o diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus. Ontem, ele caminhou até o espelho d’água do Alvorada novamente e se dispôs a fazer algumas declarações aos visitantes.
Nesse encontro, Bolsonaro ficou a alguns metros de distância dos apoiadores – que se aglomeraram do lado de fora do Palácio. Muitos deles estavam sem máscaras. “No momento, estou num bom relacionamento com o Parlamento, mas a renovação é natural, até para o cargo de presidente”, disse.
O presidente também voltou a criticar o projeto de lei sobre fake news, aprovado pelo Senado e atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados. O assunto tem atraído críticas de apoiadores e aliados de Bolsonaro, que consideram a proposta uma tentativa de cerceamento à liberdade de expressão. Ele comentou que acredita que o PL não será aprovado pelos deputados. “Pode ter certeza de que não vamos perder nossa liberdade de expressão. Essa mídia livre foi o que elegeu o presidente, que com certeza vai se reeleger de novo”, disse. Bolsonaro já disse em outras oportunidades que pretende vetar o projeto se ele passar pela Câmara.
Cloroquina. Diante dos apoiadores, o presidente segurou uma caixa de hidroxicloroquina, medicamento defendido por ele no tratamento da covid19, mas sem eficácia comprovada, de acordo com a Organização Mundial da saúde (OMS). Bolsonaro afirma que está usando o remédio para tratar a covid-19 e já o exibiu em transmissões em suas redes sociais.
Ainda aos apoiadores, disse que o Brasil está mudando. “Temos uma excelente equipe de ministros a começar pelo da Saúde, que está dando certo, e aos poucos vamos construindo o futuro do Brasil”, afirmou, referindo-se ao ministro interino, o general Eduardo Pazuello.
Mais cedo, alguns dos manifestantes apoiadores do governo ocuparam a Esplanada dos Ministérios carregando faixas com frases como “Queremos intervenção militar com Bolsonaro no poder”, em inglês. Também havia faixas com críticas ao Supremo e ao Congresso.
A tônica do protesto, no entanto, foi a presença de religiosos, além de crítica aos governos estaduais pelas quarentenas e fechamento dos comércios. Os manifestantes apoiavam o uso da cloroquina e carregam cruzes, para simbolizar cada um dos Estados e o Distrito Federal. Muitos deles ignoram o uso de máscaras.