Revista aposta na difusão de autores brasileiros ao mercado de leitores anglófonos
DIÁRIO DE PERNAMBUCO – 11/03/2021
Juliana Aguiar
Desvendar os escritos do outro lado do oceano e explorar as criações, as memórias e as sensações não palpáveis descritas em narrativas fora do contexto da língua mãe é uma tendência e sempre um movimento de descoberta. O movimento de difusão da produção para além das barreiras nacionais fez surgir a revista Eita! Magazine, uma publicação voltada à difusão de autores brasileiros contemporâneos para o mercado de leitores anglófonos.
A ideia é fazer com que os autores nacionais contemporâneos sejam conhecidos no exterior, através dessa nova porta para a literatura do Brasil. Em sua edição 0, lançada no último mês, a revista traz quatro contos nunca publicados em língua inglesa e a primeira tradução do clássico conto O país das quimeras (The land of chimeras), de Machado de Assis, ao público internacional. A Eita! é produzida completamente em inglês e está à venda na Amazon por R$ 25.
Para a pernambucana Iana Araújo, editora da Eita! Magazine, a revista surge no intuito de corroborar com anseio dos escritores em divulgar a literatura brasileira de ficção e fantasia ao exterior. “É importante levar vozes brasileiras e latinoamercianos para o mercado editorial anglófono, cravando nosso espaço, sem precisar passar pelo crivo estilístico e estético local. Estamos acompanhando uma tendência, há uma abertura de nicho, uma busca por vozes mais diversas, que não se restringem apenas aos escritores ingleses e norte-americanos”, ressalta. O fluxo tem sido analiso por Iana há mais de dois anos.
“Temos observado o movimento de escritores que escrevem diretamente em inglês ou traduzem para publicar em revistas de língua inglesa, principalmente americanas. Mas há uma dificuldade pela distância com a língua, pelo contexto e pelas referências, coisas que apenas a escrita não traduz bem, que não é entendido. Então a gente tem acompanhado essa vontade do escritor brasileiro de ser publicado fora e fortalecido esse movimento.”
Iana trabalha com uma equipe multidisciplinar, formada por mais seis pessoas, entre tradutores, editores, revisores e publicitários de várias regiões, e conta também com a colaboração de voluntários. “Está sendo uma experiência muito interessante. Todos os nossos tradutores são escritores, então isso auxilia na sensibilidade da escrita e da tradução. Prezamos pelo contexto da história e do autor para transmitir o que ele está querendo passar”, conta a editora.
A escolha dos textos é feita a partir de editais públicos, divulgados no site e nas redes sociais da revista. O edital da edição 1 da revista está previsto para sair entre junho e julho. São cerca de cinco meses entre a divulgação do edital e a publicação dos novos exemplares. “Fizemos a nossa edição 0, foi nosso início. Estamos aprendendo, pegando o ritmo, testando os processos e vendo como funcionamos de fato.
A princípio, abrimos um edital para contos escritos em português – que serão traduzidos por nós -, e para os escritos já em inglês. O que prezamos é a diversidade de vozes, de regiões, de gênero, sexo e raça”, defende Iana. Os contos não precisam ser inéditos no Brasil, o critério de escolha é pelo ineditismo em língua inglesa. Além de divulgar, a revista tem o objetivo de remunerar os autores. “Temos uma campanha de financiamento coletivo internacional, onde os nossos leitores anglófonos podem apoiar a revista e 100% do que arrecadamos lá é revertido para o pagamento dos autores”, explica a editora.
A revista conta com um sistema de patrocínio internacional, chamado Patreon, onde qualquer pessoa pode escolher apoiar um projeto na plataforma. Funciona de forma similar ao Catarse, sistema de financiamento coletivo brasileiro. A ideia é que a revista seja autossustentável e que remunere bem os autores, em valores compatíveis ao mercado onde será publicado. Os escritores também recebem direitos autorais pelos contos.