[PESQUISA] Consumo de Notícias: uma Escuta das Bolhas revela reações imediatas diante de conteúdos sobre política
ORBIS MEDIA REVIEW – 07/10/2020
ANA BRAMBILLA
Qual a sua primeira reação ao ver uma notícia? Isso depende, é claro, do conteúdo. Mas depende, sobretudo, dos seus valores pessoais. A terceira e nova pesquisa feita pelo Orbis Media Review mapeou como se dá o consumo de notícias nas redes sociais, especialmente sobre política. O levantamento intitulado Consumo de Notícias: uma Escuta das Bolhas se dedicou à reação mais espontânea e imediata que usuários relatam ter ao ler títulos de conteúdos jornalísticos de diferentes veículos, pretensamente neutros e expressamente posicionados.
As reações foram analisadas com base à linha ideológica declarada pelos participantes. Deste modo, foi possível notar que os usuários tendem a compartilhar conteúdos compatíveis às suas ideologias, justamente para grupos ou familiares que pensam da mesma forma (71%). Eles também preferem comentar notícias quando concordam com elas (55%), embora a quantidade de pessoas que dizem comentar notícias da oposição, mesmo antes de lê-las seja considerável (45%).
Bolhas como proteção ao cancelamento
O choque de ideias, porém, aparentemente necessário para a manutenção da democracia, tem extrapolado os limites do bom senso, no que ficou conhecido ultimamente como “cultura do cancelamento”. No ambiente hostil das discussões sobre política nas redes sociais, a bolha se consolida como um refúgio, uma proteção contra a agressividade; causa e consequência da dificuldade humana de ouvir o outro.
Não querer entrar no embate se expande ao ato de ignorar notícias da oposição. Sessenta por cento dos participantes confessaram simplesmente rolar a tela quando aparecem notícias de ideologia contrária à sua, ou enviam a seus pares, quem também se opõe a elas (53%).
Opostos, mas muito semelhantes
O aspecto mais curioso trazido por esta pesquisa foi o fato de que os dois pólos do debate político – direita e esquerda, aqui usados para fins de simplificação – reagem de maneira extremamente semelhante em relação ao conteúdo compatível e às notícias contrárias às suas respectivas posições. Não é possível afirmar, portanto, que determinado grupo político seja mais agressivo ou mais recluso em sua própria bolha, uma vez que as curvas dos gráficos de reações imediatas apresentam praticamente o mesmo desenho e que a amostragem foi composta de modo balanceado entre quem se declarou adepto à esquerda, centro-esquerda, direita ou centro-direita.
A pesquisa foi feita por meio de convite a perfis de redes sociais que atendiam a uma série de requisitos expostos no relatório. Entre julho e setembro, 310 respostas válidas foram coletadas de maneira anônima, via formulário online.