O que você precisa saber sobre como seus dados pessoais são coletados — e quem os utiliza

O que você precisa saber sobre como seus dados pessoais são coletados — e quem os utiliza

16 de abril de 2019
Última atualização: 16 de abril de 2019
Aner

ÉPOCA NEGÓCIOS – 16/04/2019

Os dados pessoais nunca foram tão importantes — seja pela perspectiva dos consumidores, que desejam proteger suas informações, ou das empresas, que querem utilizá-los a seu favor. A importância dessas informações gerou até mesmo uma nova frase recorrente no mundo dos negócios, comparando os dados pessoais ao petróleo — uma referência à forma como eles alimentam as corporações mais lucrativas da atualidade, da mesma forma como os combustíveis fósseis faziam no passado.

O fator preocupante nesse cenário é que os consumidores dos quais as informações são extraídas muitas vezes sabem pouco sobre o quanto de seus dados são coletados, quem pode vê-los e quanto eles valem. Ou seja: diariamente, centenas de empresas que você sequer conhece podem estar reunindo fatos sobre você — alguns mais íntimos e outros, menos. Pensando nessas questões, o site da Wired elaborou um guia compilando diversas informações sobre o que representa esse “mercado” valioso de dados pessoais e o que podemos esperar disso no futuro.

O que são os dados pessoais?

O termo “dados pessoais” é bastante vago. Registros de saúde, números de documentos e detalhes bancários representam as informações mais sensíveis armazenadas online. Mensagens em mídias sociais, dados de localização e buscas feitas em mecanismos de pesquisa, por sua vez, também podem ser informações reveladoras — e esses dados também são monetizados de uma forma diferente do que o número do seu cartão de crédito. Existem ainda outros tipos de coleta de dados, que se enquadram em categorias separadas. Algumas delas são surpreendentes. Um exemplo: existem empresas que estão analisando a maneira como você toca no seu smartphone. Pois é.

Muitas vezes, fica claro para o usuário que algo está sendo coletado, mas os detalhes sobre essa operação estão ocultos em acordos de termos de serviço difíceis de analisar.

A Wired mostra alguns exemplos. Quando uma pessoa envia um frasco de saliva para a 23andme, uma empresa de análise de DNA, ela está ciente de que está compartilhando seu DNA com a empresa, mas pode não perceber que esse dado será revendido a empresas farmacêuticas. Muitos aplicativos usam a localização dos usuários para exibir anúncios personalizados, mas não necessariamente deixam claro que um fundo de hedge também pode comprar esses dados de localização para analisar quais lojas de varejo a pessoas frequenta.

Quem compra, vende e troca os dados pessoais?

Existe uma categoria de negócios que acumula, analisa e vende suas informações sem lhe dar absolutamente nada em troca. São os corretores de dados, empresas que compilam informações de fontes disponíveis publicamente, como registros de propriedades, licenças de casamento e casos judiciais. Essas companhias também podem coletar seus registros médicos, históricos de navegação, conexões em mídias sociais e compras online.

Embora as informações coletadas por esses corretores possam ser imprecisas ou desatualizadas, esses dados são, ainda assim, incrivelmente valiosos para corporações, profissionais de marketing, investidores e até indivíduos. Estima-se que empresas norte-americanas tenham gastado mais de US$ 19 bilhões em 2018 adquirindo e analisando dados de consumidores, de acordo com o Interactive Advertising Bureau.

Os corretores de dados também são recursos valiosos para agressores e stalkers. A prática de liberar publicamente informações pessoais de alguém sem o seu consentimento é possível, muitas vezes, por causa deles. Por mais que seja possível excluir uma conta do Facebook com certa facilidade, fazer com que empresas desse ramo removam as informações referentes ao perfil desativado é um processo demorado, complicado e, às vezes, impossível. Os trâmites são tão complexos que existe quem cobre para realizar esse tipo de serviço.

Dados pessoais também são usados por pesquisadores de inteligência artificial para treinar programas ou serviços. Usuários em todo o mundo enviam bilhões de fotos, vídeos, postagens de texto e clipes de áudio para sites como YouTube, Facebook, Instagram e Twitter diariamente — e essa mídia serve como “alimento” para algoritmos de machine leaning. Com esse volume de dados, a máquina aprende a “ver” o que está em uma fotografia ou determinar automaticamente se uma publicação viola a política de termos de uso de determinada rede social.

Existem, claro, casos polêmicos, como o recente episódio da Amazon e sua assistente virtual Alexa. Segundo a Bloomberg, funcionários que trabalham na evolução da assistente ouvem as gravações de voz capturadas nas residências e escritórios dos proprietários do alto-falante Echo.

O futuro da coleta de dados pessoais

Hoje, as informações pessoais são coletadas principalmente por telas — por meio de computadores e smartphones. Nos próximos anos, veremos a adoção generalizada de novos dispositivos que consomem dados, segundo a Wired. Serão alto-falantes inteligentes, vestimentas com sensores e monitores de saúde e diversos outros. E mesmo aqueles que não utilizarem esse tipo de dispositivo terão seus dados coletados por meio de câmeras de vigilância capazes de realizar o reconhecimento facial.

Já podemos ver sinais desse futuro hoje: a cantora Taylor Swift utilizou o reconhecimento facial sem a anuência do público em um show realizado no ano passado. Cidades como Rio de Janeiro começaram a utilizar a tecnologia para buscar criminosos. Ao que parece, existe apenas um caso que vai contra esse movimento: a cidade de São Francisco, onde surgiu um projeto de lei que pretende proibir o uso desse tipo de tecnologia por parte dos órgãos governamentais por conta da propensão da tecnologia colocar em risco os direitos e as liberdades civis — o que superaria seus supostos benefícios.

É certo que diversas questões deverão surgir nessa realidade repleta de dados. As faculdades poderão controlar digitalmente seus candidatos adolescentes? Queremos mesmo que as companhias de seguros de saúde monitorem nossos posts no Instagram? São apenas algumas das inúmeras perguntas que governos, artistas, acadêmicos e cidadãos deverão pensar e trabalhar para responder.

As próprias empresas de tecnologia começam a reconhecer que a coleta de dados pessoais precisa ser regulamentada. É o caso da Microsoft, que pediu a regulação federal do reconhecimento facial. O CEO da Apple, Tim Cook, já argumentou que a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos deveria intervir e criar uma câmara onde todos os corretores de dados sejam obrigados a registrar. Algumas iniciativas, no entanto, não são tão bem intencionadas assim. Em 2018, a Califórnia aprovou uma lei de privacidade que entrará em vigor em 1º de janeiro de 2020 — a menos que uma lei federal a substitua. Em resposta, empresas como Amazon, Apple, Facebook e Google estão pressionando o Congresso para aprovar uma nova legislação de privacidade menos rigorosa em 2019, antes que a lei da Califórnia entre em ação.

Aner
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