VIVA S/A – 01/05/2019
Entrevista com Fabio Gallo, presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER).
É mito dizer que a era digital acabou com as publicações impressas?
Não há dúvida de que as transformações tecnológicas provocaram uma mudança no modo como a informação passou a ser consumida, mas é exagerado afirmar que as publicações impressas estão mortas. Elas continuam e continuarão a ser relevantes. Ao longo da história, previsões como esta foram feitas em relação a outros veículos. Com o surgimento da televisão, por exemplo, acreditava-se, que o rádio acabaria. O que ocorreu, no entanto, foram adaptações e avanços. Agora, novamente, com o advento da internet, houve uma nova evolução e o rádio esta aí, vivo, cumprindo a sua missão de levar informação e entretenimento à população. Assim também ocorre com o impresso. É preciso salientar, no entanto, que revistas e jornais são muito mais que o produto em papel: são marcas, que entregam conteúdos de qualidade em diversos formatos como digital, vídeos, podcasts ou eventos. Em um mundo em que a disseminação das notícias falsas só aumenta, nosso papel de editores e curadores da informação é vital para a sociedade e para a democracia.
O que as estatísticas dizem a esse respeito?
Recente estudo divulgado pela FIPP (associação que reúne a mídia global e está sediada no Reino Unido) mostra que as 25 revistas de maior destaque nos Estados Unidos atingem mais adultos que os 25 melhores programas no horário nobre da televisão daquele país. O mesmo estudo destaca que, na média global, 58% dos assinantes ainda preferem o produto impresso e que entre 60% e 80% das receitas de uma editora continuam sendo gerados a partir de impressos. No Brasil, os números mais recentes são os do Instituto Verificador de Comunicação. Eles apontam para o fato de que as principais revistas semanais brasileiras cresceram em sua versão digital no ano de 2018, em relação ao ano anterior. Outro aspecto a ser considerado é a credibilidade do impresso. A Kantar Ibope Media produziu um estudo denominado Fake News, editado em 2016 e em 2017 e que será atualizado em breve. Pesquisas realizadas com leitores no Brasil, Estados Unidos, Reino Unido e França, mostraram que veículos consolidados de mídias impressas são mais confiáveis que as mídias sociais quando se trata de acreditar na informação que se lê. E as revistas de notícias impressas apareceram em primeiro lugar (72%) como a fonte mais confiável. Jornais aparecem com 67%.
A que você atribui a disseminação da ideia de que as revistas impressas estão com os dias contados?
Ao fato de se focar somente no produto impresso e não no conjunto de entregas que a mídia revista pode fazer. Quando se pensa de forma mais ampla, não há como crer que revistas ou qualquer outro meio esteja com seus dias contados.
Por que as editoras estão em dificuldades?
Vários foram os setores impactados pelas transformações tecnológicas, não somente o das editoras. E continuam sendo muitos os desafios impostos pelo novo modelo de negócios, diante dessa realidade imposta pelo mundo conectado. Gerar receitas continua sendo um deles. Conquistar, manter e engajar leitores também. Ao mesmo tempo em que todo esse processo foi disruptivo, muitas oportunidades surgiram também. A tecnologia tem transformado positivamente as empresas jornalísticas. Hoje, as ferramentas utilizadas a serviço do conhecimento do leitor possibilitam a produção de conteúdos mais relevantes e a ampliam as oportunidades de envolvimento com seu público em várias plataformas. As novas tecnologias têm também gerado alternativas de entregas de experiências inovadoras aos anunciantes. Temos muitos desafios, mas um campo imenso de possibilidades.