FÓRUM VIRTUAL ACESSADO POR ATIRADOR DE EL PASO É RETIRADO DO AR

FÓRUM VIRTUAL ACESSADO POR ATIRADOR DE EL PASO É RETIRADO DO AR

6 de agosto de 2019
Última atualização: 6 de agosto de 2019
Helio Gama Neto

ÉPOCA – 05/08/2019

O 8chan, fórum virtual popular entre supremacistas brancos e extremistas variados, pode estar com seus dias contados. No domingo, a firma de cibersegurança Cloudfare, que fornece proteção a ataques online, disse que não iria continuar a fornecer seus serviços ao site. Até mesmo seu fundador, Fredrick Brennan, juntou-se a vozes de oposição e defendeu ao “New York Times” que a página seja tirada do ar. Tudo isso porque a plataforma, que nasceu para abrigar qualquer tipo discurso sem censuras, transformou-se em solo fértil para o ódio.

Nos últimos meses, ao menos três ataques a tiro foram anunciados no 8chan pouco antes de acontecerem — às mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, em março; a uma sinagoga em Poway, na Califórnia, em abril; e, neste final de semana, em El Paso, no Texas.

O suspeito de ter cometido o ataque que deixou 21 pessoas mortas em um Walmart neste sábado postou seu “manifesto” de quatro páginas no fórum, afirmando que seu ato era “uma resposta à invasão hispânica do Texas”. No texto, o jovem branco de 21 anos também declarou apoio ao atirador que tirou a vida de 51 pessoas na Nova Zelândia, um ataque declaradamente islamofóbico, e encorajava seus “irmãos” na plataforma a disseminar o conteúdo.

Ao “New York Times”, Brennan afirmou que tivera a ideia de construir o fórum enquanto estava sob o efeito de cogumelos psicodélicos, e buscava criar uma alternativa ao 4chan, plataforma similar que coloca mais limites ao discurso de ódio. Segundo o programador, seu objetivo era criar um espaço anônimo onde qualquer tipo de discurso fosse bem-vindo, independente do seu nível de toxidade — uma alternativa às visões “esquerdistas” que predominam na cultura e na política, ele diz.

Se, no início, a plataforma não recebia muita atenção, isto começou a mudar por volta de 2014, quando membros de um coletivo reacionário de gamers anti-feministas migraram para o 8chan após serem expulsos do 4chan. A partir daí, o site passou a abrigar grupos neonazistas, machistas e conspiracionistas que acreditam em um complô global para derrubar o governo de Donald Trump e movimentos similares.

Fóruns como o 8chan, que parou de ser indexado pelo Google em 2015, abrigam cada vez mais grupos que perdem visibilidade em cantos mainstream da internet, como o Facebook, o Google e o Twitter. Acusadas de não fazerem o suficiente para combater o ódio e a suposta interferência russa nas eleições americanas de 2016, as grandes companhias do Vale do Silício começaram a aplicar regras de moderação mais eficientes, expulsando, por exemplo, aqueles que propagam palavras de violência.

Críticos vêm defendendo que o fórum seja retirado do ar, levantando questionamentos sobre a efetividade da medida no combate ao discurso de ódio. Após os ataques de sábado, hackers tentaram derrubar a plataforma de diversas maneiras, mas só foram bem-sucedidos no domingo à noite, após o Cloudfare parar de fornecer sua proteção. Minutos após o anúncio oficial da empresa, o 8chan já não podia mais ser acessado.

Segundo Matthew Prince, chefe-executivo do serviço de segurança cibernética, a decisão de rescindir com o fórum foi tomada após considerarem que a plataforma abrigava um ambiente de extremismo, ignorando reclamações sobre a disseminação do ódio:

“Nós vemos um padrão em que esta comunidade sem lei demonstrou sua habilidade de criar prejuízos e danos reais”, disse Prince ao New York Times. “Se nós vemos uma coisa ruim acontecendo e podemos ajudar a contê-la, temos a obrigação de fazer isso”.

Ao que tudo indica, entretanto, a derrubada do 8chan é temporária. Em seu Twitter oficial, o site afirmou que deverá ficar fora do ar pelas próximas 24 ou 48 horas, enquanto buscam uma solução — um serviço que substitua o Cloudfare.

Apesar dos apelos de seu fundador e da comunidade virtual, a decisão final sobre o futuro do site sediado nas Filipinas cabe ao ex-veterano do Exército americano, Jim Watkins, a quem Brennan deu o controle do site em 2015 — apesar das pressões, ele sequer dá sinais de pensar em tirar o auto-intitulado “Canto mais escuro da internet” do ar. E, mesmo que o site nunca mais volte à atividade, a violência certamente voltará a florescer em outro lugar.


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Helio Gama Neto