De Nelson Rodrigues a Drummond, grandes escritores já assinaram contos, poesias e crônicas para O GLOBO

De Nelson Rodrigues a Drummond, grandes escritores já assinaram contos, poesias e crônicas para O GLOBO

29 de julho de 2020
Última atualização: 29 de julho de 2020
Helio Gama Neto

O GLOBO – 29/07/2020

Em 7 de janeiro de 1961, estreavam ao mesmo tempo no GLOBO Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. Eram textos publicados na coluna Porta de Livraria, do escritor Antônio Olinto, que anos depois se tornaria um dos imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Esse é um dos capítulos que expressam a trajetória de 95 anos de um jornal com tradição em reunir uma pluralidade de vozes importantes à compreensão do Brasil e do mundo. O debate de ideias sempre contou com colunistas e cronistas com amplo repertório para analisar fatos, tecer críticas e fazer observações sobre o cotidiano, além de se abrirem para a criação de contos e poesias.

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No primeiro sábado de 1961, Drummond publicou o poema “Janela”. Guimarães Rosa narrou sobre os dias de Folias de Reis e desmanche dos presépios de Natal. Não são os únicos grandes da cultura a imprimirem suas histórias no jornal. José Lins do Rego escreveu no GLOBO entre 1944 e 1956. Rubem Braga foi correspondente em Paris e teve uma daçãode 1959 a 1961. Fernando Sabino, a partir de 1977, assinou por 12 anos o espaço dominical Dito e Feito. Nelson Rodrigues passou duas vezes pela Redação. Na segunda, de 1962 até sua morte, em 1980, emprestou seu olhar a colunas esportivas e crônicas.

A imortal Nélida Piñon, que por vezes escreve artigos no jornal, conta que desde menina foi leitora do GLOBO. Afirma que, com certo didatismo, os cronistas lhe ensinaram a gênese das frases mais poéticas. Entre outros, lembra-se da paulistana Elsie Lessa, colunista que por mais tempo colaborou com o jornal, entre 1952 e 2000. Na época, era uma das poucas mulheres a exercer a função.

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— Todos, porém, iam além do relato, da jornada sentimental — diz a escritora, defendendo que, graças à imprensa diária, a crônica se tornou um gênero nobre no Brasil desde o século XIX. — Fiel a essa tendência consagrada, O GLOBO incluiu em suas edições aqueles mestres da prosa que enriqueciam o pensamento e a imaginação do leitor. Essas crônicas venceram os percalços do tempo e foram deixando rastros no linguajar comum, na memória coletiva.

Colunista do GLOBO, Artur Xexéo lembra que lia Nelson Rodrigues e Paulo Francis e diz que as colunas de Elsie Lessa e Nelson Motta (este ainda presente nas páginas do jornal) abriam seus horizontes. Na diversidade de pensamentos que se espalham pelo jornal, no impresso ou no site, ele presume que os leitores acabam escolhendo seus favoritos. Mas acredita que, em comum, as crônicas têm a função de oferecer intervalos:

— É algo que eleva o espírito. Você tem aquele monte de notícias, muitas vezes ruins, que te deixam para baixo, e a leitura da crônica oferece um alívio, um respiro. Mesmo quando trata de assuntos mais graves, há uma visão com a qual vai concordar ou não, vai te ajudar a interpretar uma notícia ou a assimilar um pensamento.

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Nesses parágrafos, há liberdade para assuntos diversos. Vão da política ao meio ambiente, da cultura ao urbanismo, da economia ao esporte. Nessa última seara, escreveram no GLOBO cronistas como Mario Filho, que dá nome ao estádio do Maracanã, e João Saldanha, técnico da seleção brasileira no fim dos anos 1960. Já na crítica de teatro, Barbara Heliodora foi um ícone. E os pensamentos de João Ubaldo Ribeiro, Otto Lara Resende e Artur da Távola reverberaram por gerações.

A coluna do cantor e compositor Caetano Veloso mexeu com os leitores por quatro anos. E colunistas e escritores como Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura continuam instigando novas reflexões. Zuenir diz que, se não é um gênero exclusivamente brasileiro, a crônica aclimatou-se por aqui com naturalidade. No primeiro texto sobre o Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha, ele já vê aspectos da crônica moderna. Depois, afirma, Machado de Assis fixou as bases dessa maneira de abordar o mundo, e João do Rio contribuiu com seu olhar sobre as ruas, abrindo os caminhos para cronistas por excelência, como Rubem Braga.

— Não sei se é a nossa natureza, que é muito charmosa, e essa nossa informalidade… O João Ubaldo deu uma definição para a crônica que acho fantástica: só não pode ser chata. Cabe entrevista, ensaio, piada, poesia, o que for, desde que tenha comunicação com o público — afirma.


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Helio Gama Neto