Como engajar equipes em times de transformação digital?
08 de março de 2022
O bate-papo desta terça no Café com Aner foi com a especialista em expansão de impressos no meio digital, inovação e em experiência do usuário Luciana Cardoso, gerente de produto da Quartz. Durante o bate-papo em que respondeu às perguntas dos jornalistas, Luciana falou sobre como engajar as equipes em projetos de inovação digital.
Luciana Cardoso destacou a necessidade de integração entre os times, formações de equipes multidisciplinares, a participação essencial de especialistas em tecnologia desde o início dos projetos e a quebra da estrutura hierárquica rígida, que não permite a circulação das informações de forma direta entre os funcionários.
“Por que as pessoas trocam tanto de emprego nesta área digital? Porque não estão enxergando o propósito do trabalho delas. Quando existe uma equipe integrada, fazendo o trabalho em conjunto, e não apenas partes dos trabalhos, as pessoas ficam felizes”, afirma.
Veja alguns pontos do bate-papo sobre inovação e equipes com Luciana Cardoso
É preciso usar a metodologia ágil. Entregar o trabalho aos poucos e não esperar um ano para medir o resultado e só depois colocar em prática. Essa espera desestimula as equipes. É preciso pensar as equipes de uma maneira multidisciplinar.
Tamanho ideal de equipe
Existem equipes com 80 pessoas que estão perdidas sem saber o que fazer. Se tiver equipes pequenas as pessoas se sentem ouvidas e se sentem parte. É claro que há o problema da sobrecarga, mas isso também pode ser ajustado de acordo com as necessidades.
Na Quartz, somos ao todo 90 funcionários, atuando de maneira rotacional. Atualmente estou cuidando de um grupo que estuda o aprimoramento das newsletters, mas já estive em um grupo sobre aplicativos. A cada momento a equipe muda, de acordo com o tema do estudo. Não é uma formação hierárquica, mas sou uma pessoa que ajuda a construir o produto a muitas mãos.
Propósito da empresa
É importante o funcionário saber qual o propósito da empresa. E isso serve para os produtos que você vai criar, também. O engajamento depende do interesse do funcionário e do propósito do projeto. Ter isso às claras facilita muito o engajamento.
Resistência dos jornalistas ao digital
Havia sim, problemas principalmente para trabalhar com o SEO. Nos últimos anos, isso diminuiu muito, por conta de se entender as necessidades das empresas. Hoje o jornalista sabe porque precisamos fazer uma versão digital e ter o paywall… porque se não converte assinatura, não fecha a conta… Isso foi dando argumentos para a entrada no digital.
A frase “Estou aqui para produzir conteúdo e pronto”… Isso não pode acontecer mais… Preciso saber o que está acontecendo ali do lado…Preciso que alguém leia do outro lado e me dê o feedback do que está lendo.
Equipes têm que ter autonomia
A equipe tem que ter clareza nas tarefas e objetivos de tudo. Na Quartz, duas vezes ao mês, temos encontro com toda a empresa em que são passados todas as informações sobre a situação atual da empresa, desde o financeiro até os projetos em que ela está focando, o que tem para a frente, próximos passos etc. A gestão tem que estar mais preocupada com essa transparência. Até para abrir o olhar de quem está muito mergulhado dentro do trabalho na equipe.
Papel da tecnologia
Acho primordial ter a equipe de tecnologia fazendo parte desde o início. Ajuda a definir os caminhos para que a equipe não escolha soluções difíceis de se implementar.
Feedback e Scrum masters
Sucesso do engajamento também depende de feedback. Não é só a reunião formal de 60 minutos com chefe falando sobre pontos negativos e positivos, com retorno apenas dali a seis meses. Retorno é no dia a dia… isso não funcionou, isso tá bom, isso pode ir de outro jeito?
Nem todas as equipes que podem: ter scrum masters como consultores para organizar o início do trabalho. É difícil ter pessoa pensando exclusivamente em metodologia. Mas se houver possibilidade, é uma ótima opção, porque no começo, é difícil saber o que fazer para mudar a estrutura de trabalho.
Mas como começar?
O papel do Scrum master ajuda a orientar processos. Ele funciona como um coach, para colaborar com os funcionários. É ele quem vai dizer: “Você não tá ajudando o suficiente”, mas não em tom de bronca de chefe. É uma ajuda de alguém que acompanha o processo e quer que o funcionário faça o melhor.
Tamanho da equipe
Não precisa ser gigante. O ideal são cinco pessoas, com alguém da área de dados e um jornalista. Pode ser alguém da redação que ajude o time de produto por um mês ou semana, que é acionado para participações eventuais.
É importante ter alguém responsável por trazer a visão do cliente. É quem vai olhar para fora e tenta equilibrar a produção, sempre pensando no cliente.
Outra pessoa deve ser responsável por traçar as prioridades, lista de atividades, organizando as entregas etc.
O fundamental na transformação digital é que as pessoas tenham noção muito clara dos objetivos e com poderes para trabalhar, construir o produto, ter visão do cliente.
Pesquisa com clientes
Geralmente as empresas falam… “Não tenho dinheiro para fazer pesquisa com os clientes”. Mas não é necessário dinheiro. Você pode ligar e falar com eles, pode mandar e-mail, subir pergunta no site, subir um formulário no Google… Saber o que o cliente quer deixa a equipe engajada, porque ela passa a saber para quem está fazendo o trabalho. Ela começa a enxergar valor no que está entregando.
SEO e o jornalismo
Até que ponto o SEO pode (ou não) comprometer os fundamentos jornalísticos?
O SEO ajuda a orientar mas não a definir o caminho editorial. Decidimos pela pauta e pesquisamos a tendência de buscas sobre aquele assunto no Google Trends. Mas não é porque as pessoas estão buscando que vamos seguir e cobrir um assunto que está fora da linha editorial do veículo.
Mudanças das organizações
Organizações tradicionais, em extratos, estão saindo de cena. A hierarquia e as dificuldades de comunicação trazem mensagens distorcidas e burocracia. As pessoas não têm liberdade para falar umas com as outras. Estamos buscando a organização do lado direito (da tela). Onde existe comunicação 360 graus e todos têm acesso a falar com todos. Na Quartz usamos o Slack, que permite a troca de comunicação em mensagens entre todos, desde o CEO. Não há barreiras.
Isso permite que a liderança se preocupe em mostrar a direção e ser parceira em fazer as coisas acontecerem. Parece uma mudança muito radical. Trabalhamos desta forma há 100 anos. Não vai ser mudado da noite para o dia. Mas o ideal é que as pessoas se ajudem e que a liderança colabore e não só cobre resultados.
Pirâmide da hierarquia: Hábito, medo, cultura ou ego?
É uma mistura de isso tudo. Começa no medo… se funciona assim há cem anos, para que vai mudar?
Outra é o hábito do controle. O ‘quero ter tudo embaixo do meu olho”.
Há ainda o ego. Algumas pessoas simplesmente não se adaptam. Muitas querem ter o controle, e outros não se acostumam a ver uma pessoa falando com alguém de sua equipe sem falar, antes, com ela.
Se não houver interesse da empresa não vai acontecer. A direção tem que comprar a ideia. Pagam-se grandes consultorias para que elas falem tudo que a equipe já estava falando. Se as empresas tivessem de fato caminho aberto entre as equipes, não precisaria pagar consultorias…
Como quebrar resistências
Você deve começar por um projeto pontual. Se conseguir a liberdade para criar uma pequena equipe multidisciplinar, isso já vai ajudar muito no processo de convencimento das chefias.
Clique aqui para ver a íntegra do bate-papo
O Café com Aner acontece sempre às terças-feiras, a partir das 15h, e vem tratando de temas importantes para os publishers. A iniciativa faz parte do projeto de modernização implementado pelo presidente da Aner, Rafael Soriano, que desde o início de sua gestão vem criando alternativas para aumentar a troca de informações entre os associados. A organização e coordenação dos Cafés com Aner é da diretora-executiva da instituição, Regina Bucco.
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