Como e por que o coronavírus transformou o mundo do trabalho para sempre

Como e por que o coronavírus transformou o mundo do trabalho para sempre

18 de março de 2020
Última atualização: 18 de março de 2020
Helio Gama Neto

ÉPOCA NEGÓCIOS – 17/03/2020

MARC TAWIL

Para uma parte significativa da população global e das empresas, o covid-19 será um professor severo e exigente, que deixará marcas profundas.

Escrevo essa coluna de Paris, França, segundo país europeu mais afetado pela pandemia do novo coronavírus. Como em um domingo de feriado prolongado, as ruas estão vazias e parques, creches, escolas, universidades, lojas, cafés e restaurantes seguem fechados (exceto farmácias e mercados) por ordem do governo.

O isolamento é quase total e, certamente, caminhará para isso. Esse tempo de caos e medo traz também uma rara oportunidade para refletir sobre o que acontecerá com o mundo do trabalho, do vírus em diante.

Muito mais rápidas do que a propagação do novo coronavírus, o covid-19, as medidas de contingência tomadas por empresas do planeta todo, dos pequenos comércios e startups às gigantes globais, chacoalharam o mundo do trabalho.

A pandemia colocou todos os trabalhadores da Terra na mesma – de estagiários a CEOs, de profissionais da limpeza a banqueiros.

Crises são um momento de encontro com a verdade para qualquer sociedade e o democrático vírus está aí para comprova-lo.

A experiência humana não irá mudar: ela já mudou.

O coronavírus exportado da China acelerou um processo de transformação que era aguardado, entretanto, não tão cedo nem de forma tão imediata.

Com países inteiros em quarentena, falo aqui de centenas de milhões de terráqueos em suas casas, e companhias se vendo obrigadas a dar saltos que até então refugavam para dar, existe uma oportunidade real de disrupção – uma espécie de globalização silenciosa sustentada pelas telecomunicações, inteligência artificial, impressão 3D, drones e IoT, entre outros.

A primeira grande lição aprendida nesses dias é que não precisamos nos ver para absolutamente tudo. Talvez até nem convivermos presencialmente, como ficará demonstrado nos próximos meses.

A virtualidade terá de oferecer novas experiências laborais – céleres, reais e intensas –, se quiser prender a nossa atenção e ver o nosso investimento financeiro. Tempo em casa significa qualidade de vida, novas formas de consumir entretenimento, notícias, de curtir com a família e os amigos. E sobretudo tempo de vida ganho longe de engarrafamentos intermináveis ou perdidos em trens, ônibus e metrôs.

Perguntas como “por que precisamos passar cinco horas de nossas vidas no trânsito para trabalhar oito horas no escritório?” se multiplicarão.

Dúvidas e mais dúvidas
Sim, eu sei, nem todo mundo terá a oportunidade de trabalhar remoto: fábricas, lojas, hotéis e restaurantes, que hoje penam em cidades fantasmas, entrarão no modo udpdate or die (atualize-se ou morra). E, para várias delas, somente instruir os funcionários a ficar em casa resolve uma fatia do problema.

Li relatos de executivos que jamais tinham baixado um mísero aplicativo de bate-papo ou agenda – obrigatoriedade para quem trabalha remoto.

Gerir o próprio tempo fora do escritório é outro desafio para quem sempre esteve acostumado ao relógio de ponto. Há pessoas que simplesmente precisam acordar, se vestir, se perfumar e sair. Como farão?

Pessoalmente, tive palestras e eventos cancelados até junho. Junho! E se eu vivesse deles? E como viverão aqueles que do palco e das salas cheias dependem? E quem os agenciam – o mercado de palestras e eventos –, por quanto tempo segurarão a onda? E o segmento de casamentos? Shoppings, baladas, escolas, universidades que não se prepararam para o Ensino a Distância?

Como ficam os contratos dos eventos cancelados do dia para a noite no Brasil e no mundo?

Como será a recuperação dos exportadores, dos importadores, das companhias aéreas e dos pequenos comerciantes que não detêm o peso dos grandes varejistas?

A crise, como se desenha, terá impacto imediato nos espaços flexíveis de trabalho, os coworkings, cujo barato está justamente na troca com gente nova e na circulação. Sem pessoas dispostas dividir o mesmo espaço físico com desconhecidos, muitos negócios do gênero morrerão. Outros se reinventarão.

De novo, a pergunta é: como?

Para o turismo, Paris de onde escrevo é um exemplo notório, que enche os cofres de dezenas de países, a catástrofe mostra-se sem precedentes. O prejuízo, imensurável, pode levar anos para ser recuperado – isso só falando destes primeiros meses de coronavírus.

Gestão posta à prova
O que existe de concreto até agora é um aumento expressivo nos downloads de apps que fomentam as conexões virtuais na China, como o WeChat Work (70%), DingTalk (350%) e Lark, operados pela Tencent, Alibaba e ByteDance, respectivamente.

Outro desafio parte da liderança: times que mudam repentinamente os padrões de trabalho tendem a repensar como realizar suas tarefas e garantir que cada colaborador entenda o seu papel.

Tarefas claras, reuniões mais regulares e comunicação humanizada serão fundamentais. Assim como atentar para que a adoção da tecnologia não faça o trabalhador cair na armadilha do excesso de trabalho.

Outro fenômeno que ganhará companhia é o Nomadismo Digital. “O nômade está sempre em movimento. Não tem uma casa fixa. Seja ele um beduíno de Omã, um berbere no deserto do Saara ou um digital em algum coworking climatizado na Tailândia”, disse em agosto do ano passado a esta coluna o escritor-referência no tema, Matheus de Souza, autor de Nômade Digital (Autêntica Business).

Pipocam por aí, e essa talvez seja a melhor notícia, relatos sobre o impacto do surto na vida conjugal. Para quem precisa agora passar 24 horas por dia com a companheira ou o companheiro, novas perspectivas são abertas. Se antes todos voltavam para casa tarde da noite, exaustos, e sem conversar, agora pares celebram por estarem mais próximos do que antes.

Será que virá por aí uma geração de coronnials?

Marc Tawil é empreendedor e comunicador multiplataforma. É head da Tawil Comunicação, Nº 1 LinkedIn Brasil Top Voices & Live Broadcaster e apresentador do podcast Autoperformance, na Rádio Jovem Pan. É também autor de HarperCollins Brasil, editora pela qual publica, em 2020, o livro “Seja Sua Própria Marca”.


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Helio Gama Neto