Journalism Trust Initiative: Bertrand Mossiat prevê chegada ao Brasil até fim de junho

Journalism Trust Initiative: Bertrand Mossiat prevê chegada ao Brasil até fim de junho

15 de março de 2024
Última atualização: 15 de março de 2024
7min
Fake News Journalism Trust Initiative ilustração em fundo branco faz referência a fake news
Two men analyze fake news from smartphones. Fake News concept. trend modern vector flat illustration
Márcia Miranda

Esta semana o parlamento europeu aprovou a Lei Europeia da Liberdade dos Meios de Comunicação Social (EMFA). A nova legislação consagrou a Journalism Trust Initiative ( JTI ) como referência, na Europa, para identificar meios de comunicação social que serão protegidos contra a moderação arbitrária e a eliminação de conteúdos pelas principais plataformas online.

O trabalho, idealizado pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF) é uma das iniciativas para reforçar a autoridade e confiança do jornalismo em todo o mundo.

Para saber mais sobre essa iniciativa e buscar informações sobre quando ela deve chegar ao Brasil, a Aner conversou com o líder mundial da promoção da Journalism Trust Initiative com meios de comunicação, Bertrand Mossiat.

O que a Journalism Trust Initiative faz?

A JTI dá destaque aos meios de comunicação que trabalham com transparência e respeitam as melhores práticas jornalísticas. Projetada como um padrão ISO, foi desenvolvida por um painel de 130 especialistas internacionais sob a égide do Comitê Europeu de Normalização (CEN) e publicada como um conjunto de requisitos para estabelecer um padrão que recompensar o jornalismo confiável e o cumprimento das normas profissionais.

A versão final do EMFA foi aprovada pela comissão da cultura do Parlamento Europeu por uma ampla maioria em 24 de janeiro, depois de ter recebido a aprovação dos representantes dos Estados-Membros da UE em 19 de janeiro. Agora, foi aprovada por maioria parlamentar (464 a favor, 92 contra e 65 abstenções), em votação em plenário no Parlamento Europeu.

JTI promove a certificação e recomenda boas práticas em jornalismo

O trabalho da JTI é feito a partir de avaliação dos processos de cada empresa jornalística. Durante essa avaliação, a empresa recebe recomendações de boas práticas para aprimorar seus métodos. Os critérios dizem respeito à transparência dos meios de comunicação e ao profissionalismo dos processos editoriais, incluindo:

  • a aplicação de uma linha editorial
  • a existência de mecanismos de correção
  • o gerenciamento de conteúdo gerado automaticamente
  • controle interno/externo
  • transparência sobre a identidade dos proprietários
  • as fontes de renda
  • prova de conformidade com garantias profissionais

Ao todo, mais de mil veículos de comunicação em 80 países aderiram à JTI para restaurar a confiança do público. A previsão é de que chegue ao Brasil até o fim do primeiro semestre de 2024.

Bertrand Mossiat já esteve em um Café com Aner, explicando como a iniciativa funciona.

bertrand mossiat homem branco de cabelos castanhos usando óculos de armação escura e camisa com gola quadriculada aparece em foto preto e branca para falar da Journalism Trust Initiative do Jornalistas Sem Fronteiras
Bertrand Mossiat é lider de divulgação da JTI no mundo

Além de promover a JTI, ele é responsável por estabelecer parcerias com as principais partes interessadas dos meios de comunicação (anunciantes, agências de compra de mídia, organizações de alfabetização midiática e de desenvolvimento de mídia e autoridades públicas).

Conversamos com ele para saber o que muda para os publishers europeus com essa conquista.

Como a EMFA utiliza a Journalism Trust Initiative?

A legislação da UE sobre liberdade de imprensa (a chamada EMFA) faz uma referência específica à certificação da Journalism Trust Initiative como um sinal para identificar meios de comunicação cujos processos operam com os 18 critérios da norma.

Mas esse mecanismo já não existia, para a avaliação dos veículos confiáveis?

Inicialmente, quando o texto do EMFA estava sendo elaborado, havia uma lista clara de mecanismos para moderação, remoção e rebaixamento (downranking) de conteúdo. Mas não havia nenhum mecanismo para fazer exatamente o oposto: favorecer conteúdos de fontes que demonstrassem seu compromisso com padrões éticos (transparência, responsabilidade, profissionalismo), ou seja um mecanismo virtuoso para a ‘discoverability’ (a descoberta gerenciada por algoritmos). Sendo assim, a Repórteres Sem Fronteiras defendeu, com sucesso, a inserção de um mecanismo na legislação utilizando o padrão JTI que distingue as fontes/vínculos de comunicação que devem ser priorizados.

E qual a vantagem desse mecanismo para as empresas de comunicação?

Com a EMFA, plataformas como Meta, Google e X não podem remover conteúdo de fontes por considerarem incompatível com os seus próprios termos e condições. A JTI fornecerá, portanto, salvaguardas contra a remoção injustificada do conteúdo postado em suas plataformas.

Além dessa vantagem, o que mais os publishers e veículos certificados podem ganhar com a JTI?

Na produção jornalística, os padrões de qualidade e independência devem ser transparentes e verificáveis para restabelecer a confiança. Para isso, a JTI fornece indicadores que permitam aos meios de comunicação social se autoavaliarem e cumprirem as regras. Isso devolve ao jornalismo as suas vantagens competitivas. Os indicadores podem ser verificados tanto pelos cidadãos, quanto pelos anunciantes, que conseguem investir em veículos que reconhecidos como de qualidade.

Os publishers e os meios de comunicação que implementaram a JTI contam que a qualidade geral dos processos e dos artigos publicados melhorou, e que a JTI ajuda a entender como manter um alto nível de qualidade. O mundo das filantropias privadas, dos organismos de cooperação internacional e das organizações de ‘media development’ já está utilizando a JTI como uma referência. Na maior parte dos casos, os meios que têm a certificação JTI ou que estão em processo de conquistá-la conseguem se beneficiar de acesso priorizado aos grants.

A JTI é membro do ‘NGO Consulting Group’ do GARM (Global Alliance for Responsible Media) e oferece uma nova referência mundial para dar garantias sobre os publishers e meios de comunicação independentes em que as marcas internacionais deveriam investir mais. Entre elas estão a Unilever, PepsiCo, Nike e P&G. Estamos lançando uma campanha na França, planejamos exportá-la.

E como as big techs estão participando desse processo?

A Microsoft é a primeira das Big Techs que está utilizando os dados da JTI sobre os veículos certificados para favorecer a ‘discoverability’ desses meios em vários dos seus produtos. A fase piloto começou em dezembro de 2023 no Bing e no Edge, e vai incluir Xbox, LinkedIn e Microsoft Start for Publishers.

Há alguma previsão para essa iniciativa chegar ao Brasil?

Estamos avançando e em negociações de parceria com um certificador brasileiro. Temos o interesse de vários publishers e de aliados como a ANER e acreditamos que até o fim do primeiro semestre poderemos dar o start nas campanhas da JTI no Brasil.

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Márcia Miranda
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