A GUERRA CONTRA A DESINFORMAÇÃO DEVE FICAR AINDA MAIS DIFÍCIL

A GUERRA CONTRA A DESINFORMAÇÃO DEVE FICAR AINDA MAIS DIFÍCIL

23 de setembro de 2019
Última atualização: 23 de setembro de 2019
Helio Gama Neto

ÉPOCA – 20/09/2019

PEDRO BURGOS

Em pesquisa feita neste ano, 68% dos americanos disseram que as “fake news” tiveram um impacto negativo na forma como eles veem o governo. Mais da metade dos respondentes da pesquisa disse que as notícias falsas pioraram a imagem que eles têm dos outros americanos. A crise de “desinformação” já é vista nos Estados Unidos como um problema maior que o terrorismo, o racismo ou as mudanças climáticas.

O problema das notícias falsas, especialmente com fim político, não é novo, é verdade. Mas a emergência do assunto tem mobilizado a população — e a classe jornalística em particular — nos últimos anos. Criaram-se estratégias, métodos para enfrentar o problema. Acontece que “fake news” em 2019 é algo um bocado diferente do que era até poucos anos atrás, quando o termo se popularizou. Pelo menos essa foi a tônica de diversas discussões durante a Online News Association (ONA), grande conferência do setor, que aconteceu em Nova Orleans na semana passada.

Quando Trump foi eleito, no fim de 2016, as fontes principais de notícias falsas — muitas em seu favor — eram blogs criados por gente que queria lucrar com a polarização, ou páginas do Facebook e contas no Twitter ultrapartidárias. Tínhamos alguma noção sobre quem eram os malfeitores, fossem blogueiros a soldo de partidos ou fábricas de notícias falsas na Macedônia.

No Brasil, meros dois anos depois da eleição de Trump, o cenário era bem diferente. Notícias falsas continuaram sendo bastante populares durante nosso período eleitoral, mas elas foram especialmente fortes em grupos de Facebook ou do WhatsApp. Isso se mostrou um desafio grande para fact-checkers, já que era mais difícil saber quanto algum boato estava bombando nas redes “secretas” até ele aparecer na superfície, em lugares mais abertos e monitoráveis, como o Twitter e páginas públicas.

Por isso que, durante a conferência, os americanos e europeus ouviam com atenção a experiência recente de checadores brasileiros e indianos nas tentativas de encurtar as pernas das mentiras nas redes sociais. Não que saibamos exatamente o que fazer, mas temos algumas pistas a oferecer, e meia dúzia de histórias de sucesso.

Especialistas em desinformação, como Claire Wardle , acreditam que as pessoas tendem a acreditar mais em mensagens em ambientes fechados, como WhatsApp e Messenger, mesmo que a “notícia” seja uma foto fora de contexto, frases fabricadas ou uma corrente. Isso acontece porque elas conhecem pessoalmente quem está as espalhando, então confiam na intenção da fonte.

E podem haver boas intenções quando espalham-se boatos nas redes fechadas. Nos EUA, em eventos recentes, como o massacre de El Paso , ou o Furacão Dorian, correntes no Snapchat ou iMessage mandavam as pessoas não saírem de casa — quem compartilhava queria proteger as pessoas próximas, na explicação de Claire Wardle, mesmo que não tivessem certeza. No Instagram, aplicativo que não tem muito espaço para contexto ou links, e onde os stories têm prazo de validade, há cada vez mais disseminação de boatos , assim, além de histórias sobre candidatos.

E a tendência é de piora no quadro. Porque o Facebook diz estar apostando cada vez mais na privacidade dos usuários . Em outras palavras, seu Messenger deve passar a usa criptografia semelhante ao do WhatsApp, dificultando ainda mais o monitoramento , e o Instagram pode ter algo semelhante. O Facebook também tem dificultado o acesso a páginas de políticos e grupos, fonte importantíssima para estudiosos do tema, depois do escândalo da Cambridge Analytica.

E um monitoramento mais difícil em aplicativos de mensagem nem é o único desafio dos americanos no campo para o crucial ano eleitoral de 2020. Há um medo sobre o uso de “realidades sintéticas”, como os deep fakes e áudios falsos. A tecnologia que permite criar vídeos falsos convincentes a partir de gravações está avançando velozmente. Mesma coisa para as mensagens em áudio . Em um site que já foi tirado do ar, era possível digitar um texto qualquer e ouvir uma personalidade política lendo, com entonação, trejeito e sotaque de volta. É algo assustador, especialmente para nós brasileiros, que nos impressionamos com imitações toscas compartilhadas por WhatsApp. Como as pessoas que combatem boatos dirão ao o público que não acredite automaticamente em vídeos, áudios ou imagens?


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Helio Gama Neto