2025 Tech Trends Report: IA no Futuro do Jornalismo – Parte 3

Seguindo com a análise da terceira parte do relatório Future Today Strategy Group 2025 Tech Trends Report, chegamos ao impacto da Inteligência Artificial (IA) no Futuro do Jornalismo.
O Tech Trends Report é o relatório de tendências tecnológicas que Amy Webb utilizou como base para preparar a sua palestra no SXSW. Ele tem mil páginas e é dividido em segmentos, mostrando as principais tendências de cada um deles. Nesta série de matérias, escolhemos especificamente a seção que foca nas transformações no ecossistema de notícias e informação impulsionadas pela Inteligência Artificial (IA).
Destaques do capítulo sobre Search & Discovery
Neste capítulo, o destaque vai para os desafios que a IA apresenta principalmente para a monetização de veículos de comunicação no futuro do jornalismo. Isso envolve desde a mudança no comportamento dos usuários e a potencial desvalorização do conteúdo original até as complexas negociações de licenciamento e os riscos de desmonetização por políticas de plataforma e pressões externas.
O documento também destaca as transformações significativas no cenário da informação digital. Entre elas, a evolução das interfaces de busca impulsionada pela IA, a crescente necessidade de educação para o letramento midiático diante da desinformação, e a mudança no controle da mídia para os usuários através de ferramentas de IA.
Outro ponto importante é fragilidade do armazenamento digital e os riscos para a memória cultural, os desafios das organizações de notícias em relação ao licenciamento de conteúdo para IA, e as complexidades da moderação de conteúdo nas plataformas online.
A audiência direciona a produção de conteúdo
O relatório aponta para uma mudança no controle do conteúdo, dos criadores para as audiências. Isso acontece por conta das ferramentas de IA que afetam o futuro do jornalismo. Modelos generativos multimodais permitem aos usuários direcionar como desejam consumir o conteúdo, desafiando os modelos tradicionais de produção de mídia.
Os motores de busca se afastam da escolha de links generalizados e passam a oferecer experiências personalizadas e alimentadas por IA com conteúdo de maior qualidade. Essa evolução exige que empresas e profissionais de marketing repensem suas estratégias para alcançar novos públicos, uma vez que as táticas tradicionais de SEO já não garantem o mesmo posicionamento.
Plataformas como o YouTube estão bem-posicionadas para capitalizar essa tendência, integrando ferramentas de IA avançadas para personalização do consumo.
IA torna a alfabetização midiática essencial para o jornalismo
Desta forma, iniciativas que ensinam a identificar notícias falsas, vieses de mídia e o papel das plataformas de mídia social ganham um papel fundamental. A alfabetização midiática emerge como um fator essencial para equipar o público, especialmente os jovens, com ferramentas para avaliar criticamente as informações em meio à crescente desinformação global. A IA também está sendo explorada como parte da solução no futuro do jornalismo, com chatbots capazes de persuadir indivíduos a questionar teorias da conspiração.
Estudos mostram que uma parcela considerável do conteúdo online desaparece em uma década, e a interação com IA generativa pode distorcer a memória humana. Sendo assim, líderes em infraestrutura digital, segurança cibernética e governança da informação precisam agir para mitigar essas vulnerabilidades.
Treinar IA ou defender direitos autorais no jornalismo?
O mercado editorial enfrenta decisões difíceis em relação ao treinamento de modelos de IA e ao licenciamento de conteúdo. As organizações de notícias estão em um dilema entre licenciar seu conteúdo para empresas de tecnologia para treinar LLMs ou proteger sua propriedade intelectual. As leis que buscam forçar as plataformas a pagar pelo conteúdo de notícias têm apresentado resultados mistos, e as empresas de tecnologia exploram alternativas como dados sintéticos.
A armazenagem da receita digital também surge como uma vulnerabilidade, ilustrando como pressões políticas podem levar à desmonetização crítica de veículos de comunicação, afetando sua sustentabilidade financeira.
Como a pressão política levou ao encerramento da revista americana Teen Chic

A pressão política externa também é uma ameaça considerada pelo relatório 2025 Tech Trends Report. O relatório exemplifica este tipo de ameaça com o caso da revista americana Teen Chic.
No primeiro governo Trump, a revista se dedicou ao jornalismo político, por encontrar na Geração Z e na Alpha características de ativismo político. Isso levou a revista a se envolver em movimentos de justiça social e ativismo progressivo, o que atraía anunciantes comprometidos com essas causas.
No entanto, na preparação para as eleições de 2026, ao publicar um importante relatório investigativo sobre como o acesso ao aborto foi reduzido após a decisão da Suprema Corte americana sobre o caso Dobbs, a receita da Teen Chic despencou. Seu site deixou de ser listado como seguro para as marcas e o YouTube o suspendeu seu programa de monetização de vídeo.
Segundo o relatório, as mudanças foram o resultado de uma campanha coordenada pela administração Trump para pressionar as empresas de tecnologia que permitem a monetização digital a silenciar publicações críticas. Como resultado, a editora decidiu fechar a Teen Chic para proteger seus outros títulos.
Como as empresas de jornalismo podem driblar essas ameaças?
Para enfrentar as dificuldades criadas pela IA no Futuro do Jornalismo, as empresas jornalísticas precisam atuar de forma diferenciada. É preciso focar na qualidade e originalidade do conteúdo, adaptando-se às novas interfaces de busca impulsionadas por IA.
Além disso, os publishers também devem monitor de perto as negociações e o cenário legal em torno do licenciamento de conteúdo, estando cientes dos riscos políticos e das políticas de plataforma que podem afetar a receita digital. Outra recomendação é explorar a criação de conteúdo em diversos formatos para engajar as audiências em um ambiente digital em constante mudança.
- Concorrência de plataformas de busca e assistentes de IA (redução de tráfego): As empresas jornalísticas precisam priorizar a experiência do usuário em seus próprios websites. Além disso, devem considerar como comunicar seu valor de marca em resumos gerados por IA. É preciso encontrar novas maneiras de atrair usuários em um cenário onde os motores de busca se assemelham cada vez mais a assistentes virtuais que tentam reter os leitores. Explorar formatos de conteúdo que se adaptem a modelos multimodais de IA, que podem entender e gerar conteúdo em diferentes mídias (texto, voz, imagens), pode ser uma estratégia para se manter relevante nas buscas por voz e em interfaces de IA mais ricas.
- Desvalorização do conteúdo original: Dada a tendência dos algoritmos de busca de penalizar sites com conteúdo não original, as empresas jornalísticas devem redobrar seus esforços na produção de conteúdo original e de alta qualidade. A discussão sobre o “colapso do modelo” (model collapse) sugere que modelos de IA treinados em conteúdo sintético podem ter um desempenho inferior. Se essa tendência persistir, o conteúdo original dos publishers pode manter seu valor, oferecendo uma vantagem nas negociações com empresas de IA.
- Pressão sobre o licenciamento de conteúdo: O relatório apresenta um dilema sem uma solução clara dentro do seu escopo. As empresas de notícias enfrentam a decisão de licenciar seu conteúdo para treinamento de IA em busca de receita imediata ou proteger sua propriedade intelectual para o longo prazo. O relatório menciona leis em alguns países que buscam forçar plataformas a pagar por conteúdo noticioso, mas com resultados mistos. A situação parece depender da evolução da capacidade da IA de utilizar dados sintéticos. Se os dados sintéticos permanecerem problemáticos, as organizações de notícias podem ter mais poder de barganha.
- Cortes de receita digital por pressão política: As organizações de notícias precisam considerar os riscos políticos ao produzir conteúdo e talvez diversificar suas fontes de receita para não depender excessivamente de plataformas que podem ceder a pressões externas.
- Desafios na monetização em plataformas que priorizam a retenção de usuários: As empresas jornalísticas devem estar atentas à evolução das interfaces de busca e à crescente tendência de as plataformas manterem os usuários em seus próprios ecossistemas. Isso exige repensar as estratégias tradicionais de SEO. A crescente importância de modelos generativos multimodais e a mudança no controle do conteúdo para as audiências sugerem que as empresas de notícias podem precisar explorar a criação de conteúdo em formatos diversos (áudio, vídeo) e adaptar-se às preferências dos usuários, possivelmente utilizando ferramentas de IA para auxiliar nessa transformação.
- Problemas de “brand safety” e desmonetização algorítmica: O relatório não oferece soluções específicas para evitar a desmonetização por “brand safety” ou algoritmos, além do exemplo da Teen Chic sendo afetada por conteúdo sobre um tema específico. Isso sugere que as empresas jornalísticas podem precisar estar cientes das sensibilidades das plataformas de publicidade e das políticas de moderação de conteúdo e tomar decisões editoriais considerando o potencial impacto na monetização.
Perdeu os resumos anteriores do 2025 Tech Trends Report?
Leia aqui a primeira parte: 2025 Tech Trends Report: O que o relatório diz sobre mídia? – Parte 1
Leia aqui a segunda parte: 2025 Tech Trends Report: Quem irá verificar os verificadores? – Parte 2