Vídeos verticais deixam de ser tendência no jornalismo digital

A divulgação dos finalistas do Global Media Awards 2025, promovido pela International News Media Association (INMA), chama atenção para uma mudança consolidada na forma como conteúdos jornalísticos são produzidos e consumidos: o crescimento consistente do formato de vídeo vertical. Na categoria Melhor Iniciativa para Adquirir Audiência Jovem, 60% dos projetos selecionados utilizam vídeos verticais como principal recurso de linguagem, reforçando a centralidade desse formato nas estratégias digitais voltadas ao público mais jovem.
Exemplos como “Seis Lições do Avanço dos Vídeos Curtos”, do jornal norueguês Bergens Tidende, e “VOL.AT Shorts”, da austríaca Russmedia, mostram como a adoção de vídeos curtos e verticais tem contribuído para ampliar o alcance das marcas, fortalecer a presença digital e impulsionar indicadores como engajamento e geração de novas assinaturas digitais. Esses projetos foram desenvolvidos com o objetivo de adaptar a produção de conteúdo jornalístico aos hábitos e preferências da audiência mais jovem — um grupo historicamente mais difícil de alcançar pelos canais tradicionais.
Vídeos verticais recebem em média mais 150% de cliques
O uso do vídeo vertical, que teve origem nas redes sociais — inicialmente nos Stories do Instagram e depois em Reels, TikTok e YouTube Shorts —, deixou de ser visto como algo improvisado ou amador. Hoje, é tratado como um formato legítimo, com linguagem própria e resultados expressivos em termos de performance e engajamento. Segundo dados da Meta, vídeos verticais recebem, em média, 150% mais cliques e apresentam 90% mais taxa de visualização completa quando comparados aos vídeos no formato horizontal tradicional.
Do ponto de vista do mercado publicitário, o impacto também é significativo. Os vídeos verticais são atualmente a categoria de mídia digital com maior taxa de crescimento em termos de investimento: um aumento de 20% ao ano, superando até mesmo a publicidade em TVs conectadas (Connected TVs ou CTVs), que vinha liderando em expansão nos anos anteriores. No entanto, um dos desafios atuais é a dependência.
Recentemente, começamos a ver que esse movimento não está tão mais restrito às redes sociais. Outras plataformas têm aderido ao formato vertical como parte de suas estratégias de experiência do usuário. É o caso de plataformas como o Mercado Livre e LinkedIn, que passaram a testar e incorporar vídeos verticais em suas interfaces, sinalizando que o formato pode ser expandido para além do entretenimento e do jornalismo, alcançando também ambientes de varejo e redes profissionais. E ainda diminuindo a dependência desse formato em relação às plataformas sociais, o que limitaria seu potencial de monetização direta para publishers e marcas que desejam.
No jornalismo, vídeo vertical exige entender audiência
Diante desse cenário, novas mediatechs estão surgindo para viabilizar o uso do vídeo vertical fora das redes sociais tradicionais, abrindo novas possibilidades de distribuição e monetização para publishers, varejistas e produtores de conteúdo em geral. A expectativa é que, ao reduzir a dependência das plataformas sociais, o mercado consiga explorar de forma mais ampla o potencial desse formato.
A consolidação do vídeo como linguagem principal no jornalismo digital exige também uma mudança na lógica de produção de conteúdo. Mais do que simplesmente adaptar vídeos para o formato vertical, o desafio passa a ser entender em profundidade o comportamento da audiência — seus interesses, momentos de consumo, preferências de linguagem e contexto de uso. Incorporar perguntas como “O quê?”, “Para quem?”, “Quando?” e “Como?” no processo editorial é visto como um passo importante para tornar o conteúdo mais relevante e eficaz.
Em 2025, os vídeos verticais já não são mais uma aposta ou tendência futura. Eles se firmaram como elemento estrutural da comunicação digital e, especialmente, do jornalismo, já que 90% das audiências estão em celulares. A atenção do setor agora se volta para como integrar esse formato de forma estratégica, sustentável e centrada na experiência do usuário — não apenas como forma de atrair audiência, mas também como ferramenta de relacionamento, fidelização e geração de valor.
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