Ana Selvatici e o futuro das notícias em vídeo: formatos verticais, tendências de consumo e monetização

Ana Selvatici e o futuro das notícias em vídeo: formatos verticais, tendências de consumo e monetização

22 de outubro de 2024
Última atualização: 22 de outubro de 2024
6min
Mulher branca aparece em perfil de costas segurando uma câmera de vídeo para ilustrar matéria sobre importância do vídeo nos sites de notícias
O vídeo ganha espaço nos veículos de notícias como estímulo para leitura e engajamento. Foto: Freepik
Ana Lucia Selvatici

Nos últimos anos, o vídeo consolidou-se como um dos principais formatos de consumo de notícias. Com o avanço das tecnologias digitais, o formato deixou de ser exclusivo das emissoras de televisão e migrou para ambientes diversos, como plataformas online, redes sociais e Connected TV (CTV). Esse movimento transformou a forma como os veículos de comunicação produzem, distribuem e monetizam conteúdo jornalístico, abrindo novas oportunidades, mas também gerou alguns desafios. Segundo a Reuters, cerca de 90% dos publishers no Brasil já produzem conteúdo em vídeo.

O crescimento do consumo de notícias em vídeo

A demanda por vídeos como fonte de informação cresceu exponencialmente nos últimos anos, consolidando-se como um dos principais formatos de consumo de notícias. De acordo com o Digital News Report 2024, o consumo de vídeos noticiosos aumentou consideravelmente, com destaque para plataformas como YouTube e TikTok. Globalmente, 66% dos entrevistados relataram assistir a vídeos curtos de notícias semanalmente, enquanto 51% relataram preferir vídeos mais longos.

Esse movimento se explica, em parte, pela praticidade e engajamento proporcionados pelos vídeos, como aponta o pesquisador Nic Newman, da Reuters. Ele observa que o formato se adapta ao comportamento dos consumidores, especialmente os mais jovens, que buscam conteúdos acessíveis, envolventes e de fácil uso.

Gostando desse assunto? Então assine a Newsletter Aner pelo WhatsApp, Telegram ou email.

O aumento da popularidade das Connected TVs (CTV) também ampliou o consumo de vídeos em telas maiores, e o uso desse tipo de dispositivo para acessar notícias cresceu 35% em 2023, segundo a eMarketer.

Mas as redes sociais, como Instagram, TikTok e YouTube, são os principais protagonistas desse movimento. Elas dominam o consumo de vídeos curtos e, no Brasil, o YouTube se destaca como a principal plataforma para notícias em vídeo, sendo utilizada por 83% dos consumidores. No entanto, essas redes foram responsáveis por muito mais do que isso. Devido à sua navegação, usabilidade e, claro, ao seu fator viciante, elas impulsionaram a dominância dos vídeos em formato vertical. Em 2023, o consumo de vídeos verticais em dispositivos móveis superou o de vídeos horizontais em termos de tempo de visualização.

Dados do Meta indicam que vídeos verticais são assistidos por 40% mais pessoas em comparação com os horizontais, seu CTR (Click-Through-Rate) é 150% maior e a taxa de visualização completa de vídeos verticais é 90% maior quando comparada ao formato horizontal.

Os Modelos de Negócio e a Monetização de Vídeo

De acordo com o Digital AdSpend 2023, da IAB Brasil, o mercado de publicidade digital no Brasil movimentou aproximadamente R$ 35 bilhões em 2023, representando um crescimento de 18% em relação ao ano anterior. Nesse cenário, o vídeo digital se destacou, correspondendo a 35% da receita total de publicidade no país.

Diante da crescente demanda por conteúdos em vídeo, a monetização desse formato tornou-se um pilar estratégico para os publishers. Seja por meio da publicidade ou de outros modelos de negócios (assinaturas, paywalls e branded content), o vídeo tem sido central no fortalecimento das receitas. A publicidade em vídeo – com a criação de inventários específicos para o formato e a adoção da publicidade programática – permite a veiculação de anúncios altamente segmentados e em larga escala. Esse modelo é hoje uma das principais ferramentas utilizadas por publisher tanto no Brasil quanto no exterior para maximizar suas receitas.

Seguindo a tendência de adoção crescente de vídeos curtos verticais, esse formato é o que mais cresce em termos de publicidade digital, com um aumento de +20% ao ano, superando CTVs e vídeos online (fonte: IAB). Por ser um inventário limitado às redes sociais, tornou-se caro e, em alguns casos, ineficiente. É a lei da oferta e da demanda.

Diante desse cenário, estamos testemunhando o surgimento de media techs que permitem que publishers e plataformas de varejo (retail media) criem seus próprios inventários de vídeos verticais, aproveitando parte desse grande investimento que, até então, era direcionado exclusivamente às redes sociais.

Esse movimento demonstra que adequar-se aos novos comportamentos do usuário é essencial para um crescimento sustentável, já que o investimento sempre segue a presença do público.

O Papel da IA na Produção, Consumo e Monetização de Vídeos

Como já era esperado, a inteligência artificial (IA) tem assumido um papel cada vez mais relevante na produção, distribuição e monetização de vídeos de notícias. No âmbito da produção, ferramentas de IA estão sendo usadas para automatizar tarefas como edição de vídeos, otimização de trilhas sonoras e até para criar vídeos automáticos a partir de textos, acelerando o fluxo de trabalho e reduzindo custos.

Quando se trata de consumo, os algoritmos baseados em IA têm se destacado por aprimorar as recomendações de conteúdo, analisando os interesses e hábitos dos usuários para sugerir vídeos que mais lhes interessam. Isso resulta em um aumento significativo no tempo de visualização e, por consequência, no engajamento do público com o conteúdo.

Na monetização, a IA também faz a diferença. Como dito anteriormente, por meio da publicidade programática, é possível entregar anúncios mais personalizados e direcionados. Isso aumenta a eficiência dos anúncios em vídeo e melhora o retorno sobre o investimento dos anunciantes.

Conclusão:

O vídeo se estabeleceu como uma das formas mais poderosas de consumo de notícias e está moldando o futuro do jornalismo digital. Com uma audiência cada vez mais ávida por conteúdo visual, o desafio agora é equilibrar a produção com a criação de modelos sustentáveis de negócios.

A inovação em formatos, como vídeos curtos verticais, jornalismo interativo, storytelling visual e inteligência de distribuição se destacam como diferenciais para que os publishers se mantenham competitivos e relevantes em um cenário de consumo em constante evolução.

O sucesso não é apenas uma questão de acompanhar tendências tecnológicas, mas de entender profundamente o comportamento das novas audiências e estar disposto a experimentar, arriscar e inovar.

Ana Lucia Selvatici
Contributor
Com mais de 20 anos de experiência nos setores de mídia e telecomunicações, sou uma profissional experiente no desenvolvimento e implementação de projetos de marketing estratégico e negócios que entregam inovação e crescimento. Minhas competências principais incluem estratégia de negócios, inovação digital, parcerias, marketing e desenvolvimento de negócios. Atualmente, trabalho como Consultora de Estratégia de Mídia e Negócios Digitais na Diagonal Minds, onde colaboro com publishers, agências e marcas a inovar e otimizar seus resultados através de parcerias estratégicas com as tecnologias mais inovadoras do mundo.