Menos é mais: quando o conteúdo bem apurado vale mais para o leitor

Menos é mais: quando o conteúdo bem apurado vale mais para o leitor

28 de novembro de 2023
Última atualização: 29 de novembro de 2023
6min
João Payne homem branco, calvo, de barba e bigode castanho claros, aparece à frente de fundo cinza usando camisa quadriculada e falando sobre conteúdo menos é mais no Café com Aner
Conteúdo menos é mais: João Payne defende menos quantidade e mais qualidade. Imagem: Café com Aner
Márcia Miranda

Quem consegue ler toda a avalanche de notícias que pula na tela, diariamente, disputando a atenção? Você acredita que efetivamente o seu público deseja ser inundado por conteúdo o dia todo? Essa proliferação de conteúdo x material mais bem-cuidado e apurado foi o tema do debate no Café com Aner com João Payne, professor e pesquisador do Master Negócios de Mídia, núcleo de estudos do ISE.

“O conceito de ‘menos é mais’ também se aplica ao jornalismo. Esse ‘menos’, entretanto, se refere ao número de matérias publicadas, jamais à qualidade do conteúdo. Permitir que um repórter publique em um ritmo menor pode dar a ele o tempo necessário para uma bela apuração. Com isso, aumentamos o valor do nosso conteúdo e oferecemos ao público mais do que um amontoado de informações perdidas e descontextualizadas”, diz ele em um dos artigos publicados no Orbis Media.

João atua como professor em disciplinas que debatem o posicionamento e a polarização em veículos de mídia e a importância dos valores das empresas de comunicação na construção do conteúdo editorial.

Dicas para preparar conteúdo relevante

Durante o bate papo, João Payne citou uma pesquisa da You.Gov que mostra a dificuldade de percepção, por parte do público, da real quantidade de subgrupos proporcionalmente, dentro da sociedade americana. Ele também mostrou como o excesso de conteúdo sem aprofundamento pode dificultar e afastar o público, cansado das matérias que não informam e nem analisam. E criticou os veículos que apenas jogam o conteúdo, superficial, para os leitores.

Para evitar esse efeito, ele sugeriu algumas dicas sobre como identificar conteúdo relevante:

Depois de amanhã meu conteúdo continuará relevante?

Avalie se o conteúdo que você publica apenas mata uma curiosidade instantânea ou se ele efetivamente colabora para que as pessoas criem uma postura analítica sobre o assunto.

Não basta “fazer jornalismo”

Fuja do lead tradicional apenas “porque o jornalismo sempre foi assim”. Repense processos de construção das matérias. Evite usar apenas o modelo formal, que segue o lead tradicional e ouve os especialistas pré-determinados. “Vivemos um momento de desintermediação em que os especialistas falam direto com a audiência. Uma boa parte do público vai direto consumir o conteúdo do que acham interessante. Algumas destas fontes não são confiáveis, mas, infelizmente, o público vai continuar consumindo, mesmo assim”, lamenta, explicando que o papel do jornalismo é romper esse modelo e fazer um conteúdo que efetivamente informe e faça pensar.

Busque identidades distintas

É impossível falar com todo mundo. Verifique novos enfoques. O jornalismo exige o que é factual, mas também pode conciliar isso com a subjetividade de quem está escrevendo.

Exemplos de revistas que variam em seu conteúdo

The Spectator – Revista britânica fundada em 1828, que se orgulha do fato de não haver linha partidária comum a todos os seus escritores colaboradores. “As opiniões de nossos escritores variam da esquerda para a direita, e suas circunstâncias vão da vida nobre à vida baixa. Ninguém pretende ser imparcial”, diz em sua apresentação. “Isso é uma mudança muito grande em relação ao que a gente costuma ver no jornalismo. Dentro da forma como os colaboradores da revista veem o mundo eles mostram diferentes olhares. Ser subjetivo é o que garante o diferencial”.

The Free Press – Veículo americano fundado em 2022. Mistura a subjetividade com a objetividade dos fatos. Também não busca o consenso entre as opiniões de todos que escrevem. Estimula a diferença como forma de trazer várias formas de pensar.

“Conforme nós continuamos nos afastando do mundo das plataformas e em direção a um mundo em que os publishers precisam realmente reter seus leitores, nós ouviremos menos conversa sobre tamanho total da audiência e mais sobre lealdade da audiência”

The Media Operator

Na escolha do que publicar como conteúdo, menos é mais

Quadro mostra sugestão de conteúdo menos é mais

João sustenta que veículos que publicam muitas matérias em um dia só acabam frustrando os leitores. Isso porque a audiência não consegue ler tudo. Sendo assim, publicar excesso de matérias pode levar o leitor à frustração de se sentir desinformado, já que ele não conseguiu absorver todo o conteúdo.

“Já se você publica menos, uma quantidade que o leitor consiga ler, os leitores se sentem mais realizados. Sendo assim, eles têm uma predisposição maior a retornar ao seu veículo”, defende.

Sobre a distribuição de conteúdo nas redes sociais, João defende que o importante é mudar o movimento:

“O leitor passa pelo feed e vê uma matéria, acessa e, por acaso, vai parar no seu veículo. O que é interessante, hoje, é fazer com que os leitores procurem ativamente o seu site. E não o acessem por acaso.”

The Ken: apenas uma matéria por dia

Como exemplo, ele citou o caso da publicação indiana The Ken, que tem foco em negócios. O diferencial é que eles publicam apenas uma boa matéria analítica por dia. O conteúdo é entregue apenas a assinantes e consegue bons índices de leitura, graças à exclusividade de matérias bem redigidas.

“Eles chegaram à conclusão que, em média, as pessoas não têm mais de 15 minutos por dia para ler uma matéria. Então é isso que fazem. Atualmente são 30 mil assinantes que pagam anualmente 120 dólares. A redação é enxuta e eles conseguem isso porque o repórter não precisa publicar de forma recorrente. Ele consegue publicar uma matéria hoje e outra dali a uma semana, então tem tempo para apurar e escrever bem”, explica.

Perdeu o Café e está interessado no assunto? Assista aqui:

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Márcia Miranda
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