O amadurecimento da cobrança direta por conteúdo, inclusive nas redes sociais

O amadurecimento da cobrança direta por conteúdo, inclusive nas redes sociais

12 de abril de 2021
Última atualização: 12 de abril de 2021
Helio Gama Neto

ORBIS MEDIS REVIEW – 09/04/21021

RAFAEL SBARAI  

Jack Conte é um silencioso executivo do Vale do Silício. Músico, artista – e também empreendedor – o americano de 36 anos concebeu em maio de 2013 o Patreon, plataforma de crowdfunding contínuo. Com uma energia inexplicável e palestras que impressionam, Conte tentou fazer carreira como criador de conteúdo no YouTube por quase sete anos antes de se lançar ao mundo das startups: alcançou algum sucesso – mesmo que breve – financeiro, mas enxergou rapidamente a limitação de política de pagamentos por meio de anúncios exibidos. Sua dor pessoal foi transformada em oportunidade: por que não converter o trabalho criativo individual em uma verba recorrente a quem produz? É neste instante que Conte lança ao mundo sua ideia, plataforma que conecta produtor de conteúdo a seu maior interessado, o consumidor final:cabe ao usuário pagar – e escolher o valor a contribuir – para garantir o modelo de negócio de seu artista. Hoje, o Patreon reúne mais de 200.000 criadores e já tem valor de mercado superior a um bilhão de dólares. Foi a faísca virtual para um mercado que pode abrir um universo sem precedentes em nossa História. Estamos chegando à fase madura da indústria da cobrança direta por conteúdo.

Alçada graças a um fenômeno a ser observado por uma lupa no Onlyfans – serviço conhecido por alto teor de conteúdo adulto -, o assunto reveste-se de particular importância para as empresas de tecnologia – excepcionalmente para Facebook, Twitter e, por último, Clubhouse. O responsável por essa atenção ao mercado se resume a uma startup: Substack, companhia americana que conseguiu transcender o valor de uma newsletter, jurássico produto do século passado, frisa-se.

Consagrados jornalistas deixaram os muros de grandes empresas de mídia para fazer sucesso com a marca que construíram em suas carreiras.

Fundada em 2017 pelos desenvolvedores Chris Best, Jairaj Sethi e o repórter Hamish McKenzie, Substack é um serviço de distribuição de conteúdo por newsletter que tem, como foco, a oportunidade de comercializar conteúdo. A ferramenta trabalha em dois modelos: gratuito e pago. Ao segundo modelo, cabe ao detentor de uma newsletter chegar a um valor – que varia entre cinco a 75 dólares. A Substack cobra uma taxa de 10% em todas as newsletters com formato pago. E garante: jamais vai vender anúncios nem os dados de seus usuários. A relevante transparência, no entanto, veio acompanhada por um sinal de alerta emitido nos últimos dias: segundo reportagem do Recode, do grupo Vox, a companhia está pagando determinados escritores, sem dizer quem são. Algumas pessoas deixaram o serviço após a divulgação do conteúdo.

Inspirada no incrível modelo de assinatura concebido pelo analista de mídia Ben Thompson – aliás, o maior nome da indústria de tecnologia e conteúdo do mundo -, a Substack alçou voos mais altos em velocidade de conexão banda larga ao conseguir a adesão de consagrados jornalistas, que deixaram os muros de grandes empresas de mídia para fazer sucesso com a marca que construíram em suas carreiras. São os casos de Andrew Sullivan, ex-New Yorker, Bari Weiss, ex-The New York Times e Matt Yglesias, que deixou a empresa que ajudou a fundar, a Vox.

“No princípio, somos nós que controlamos os algoritmos. Logo depois, são eles que passam a nos controlar”, diz professor Ben Koo, da Universidade de Tsinghua, em Pequim.

Os motivos pela adesão à Substack são extensos: desde a ausência de chefes diretos de redação, a pressão – que soa prazerosa e glamurosa, em algum grau – de um ambiente que busca a melhor e mais rápida informação, à liberdade para produzir conteúdo; da relação direta com o consumidor final à distância – por ora, é importante ressaltar – do poder de um algoritmo. Neste momento é sempre bom referenciar o professor Ben Koo, da Universidade de Tsinghua, em Pequim, na China. Diz Koo: no princípio, somos nós que controlamos os algoritmos. Logo depois, são eles que passam a nos controlar.

O fato acendeu uma luz peculiar da inovação – a de reproduzir fielmente recursos exibidos em plataformas concorrentes – de dois titãs digitais: Facebook e Twitter.

O primeiro capítulo é relativo à rede de 280 caracteres. Em janeiro, o Twitter adquiriu a Revue, plataforma de gerenciamento e disparo de newsletter. Trata-se de uma clara iniciativa para diversificar receita e avaliar o seu principal modelo de negócio – a publicidade. A aquisição desta inteligência pode permitir maior atenção de criadores que, consequentemente, podem vir acompanhados de seus súditos consumidores. O serviço já está aberto para testes.

Quase que em momento simultâneo ao Twitter, o Facebook também prepara o lançamento de sua própria newsletter. Segundo a versão digital do jornal The New York Times, a proposta tem como público-alvo inicial o Facebook Journalism Project, iniciativa que apoia escritores independentes e jornalistas.

ClubHouse e remuneração direta
O ClubHouse é outra plataforma que pode seguir o mesmo caminho. Seu universo hierárquico, em que as salas se dividem por funções com etiqueta, regras – e, por ora, respeito -, pode mudar o conceito de eventos ao vivo, em que você cobra para entrar em um determinado ambiente para ouvir uma pessoa. O controle sobre a conversa pode parecer com que o app seja elitista, até mesmo discriminatório, mas ganha contornos de idolatria a partir do momento em que você está em um ambiente com pessoas das quais você jamais teria condição de compartilhar experiência. Por ora, o culto que se presta a ídolos vem acompanhado da ferramenta Payments (Pagamentos, em português), que permite remunerar diretamente o seu produtor de conteúdo favorito.

A Substack mostra uma tendência de dispersão, de profissionalização de assuntos por nichos – e de público por uma demanda, digamos, reprimida: os resultados obtidos em casos específicos com OnlyFans, Patreon e até a própria Twitch, da Amazon, dizem isso. Em todos, há uma “economia movida à paixão” que aponta para uma grande oportunidade a quem produz conteúdo. Será interessante entender se os maiores interessados, os consumidores finais, terão a mesma paixão.


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Helio Gama Neto