"Quais são as cores e as coisas pra te prender?"
LINKEDIN – 15/04/2021
Demetrios dos Santos
Ao falar de leitura digital de HQs, uma das maiores queixas dos consumidores sempre foi a ausência de cores em e-readers. Alternativamente os tablets com telas LCD e derivadas cumpriram este papel de forma marginal do longo da década passada, mas hoje estão cada vez mais em desuso, uma vez que os smartphones substituem tablets para o público padrão.
E competir espaço com todo o universo de aplicativos de um smartphone, sempre tornou a leitura linear de livros, revistas e quadrinhos algo desafiante para o mercado e para os próprios leitores.
No Japão e parte da Ásia, existem ótimos cases e aplicativos (Manga Zero, Manga Hot e outros). Segundo o site especializado Hon.jp, o marketshare de quadrinhos digitais no Japão já ultrapassa 52% das vendas. O próprio Kindle da Amazon possui uma grande aderência ao mercado japonês, em partes pelo hábito de leitura de mangás e pelo fato de o Kindle ainda ser monocromático, assim como a maioria dos quadrinhos japoneses.
Mas este cenário pode se desenhar para uma tendência mundial? Talvez sim. Apesar de ser improvável que o mercado editorial digital tenha ao longo dos próximos anos os números que os formatos físicos alcançaram, a tecnologia vem avançando e finalmente em 2021 temos o surgimento comercial dos e-reader coloridos. Um exemplo é o InkPad Color da PocketBook, uma empresa com atuação em mais de 40 países, especialmente na Europa. Trata-se de um leitor de livros com “tinta eletrônica” realmente colorido, tecnologia produzida pela empresa E-ink, chamada Kaleido 2, capaz de reproduzir 4.096 cores diferentes, suprindo assim a necessidade sempre reclamada pelos leitores tradicionais.
Agora, uma das grandes expectativas do mercado é sobre a Amazon. Estaríamos perto de uma nova geração de aparelhos Kindle capazes de reproduzir cores? Sim, mas é provável que dispositivos assim precisem não apenas de um upgrade sobre a tecnologia da tela, mas também sobre outros componentes como processadores e memórias ram e de armazenamento para que consigam uma performance digna na reprodução com cores e maior resolução, o que poderia demandar mais algum tempo dos engenheiros da Amazon. Mas penso que seja este um caminho inevitável e se a maior varejista de produtos editoriais do mundo não se mexer, pode perder parte do mercado que já domina.
Lembremos também do ComiXology, um serviço de quadrinhos digitais que existe desde 2007, mas nunca decolou de forma significativa fora dos EUA. O serviço foi adquirido pela Amazon em 2014 e agora com e-readers coloridos somado a um sistema de assinaturas que já existe, o ComiXology Unlimited, talvez estejamos mais próximos de uma revisão no modelo de negócios que já atingiu antes o cinema e a música.
O vídeo de lançamento do InkPad Color direciona o olhar exatamente para o consumo de HQs e livros infantis. Agora é esperar para ler.
Gerente de Circulação & Novos Negócios na CartaCapital | Publisher na LiteraRUA