Por que há empresas e marcas abandonando as redes sociais?

Por que há empresas e marcas abandonando as redes sociais?

12 de abril de 2019
Última atualização: 12 de abril de 2019
Aner

ÉPOCA NEGÓCIOS – 12/04/2019

Em plena era do marketing digital, da busca por seguidores online e da popularidade dos chamados influenciadores das redes sociais, soa estranha a possibilidade de uma marca abandonar seus canais em redes como Facebook e Instagram. Mas, embora sejam casos isolados, eles existem – e são protagonizados por empresas que questionam o modelo de comunicação que as redes sociais os forçam a adotar.

O caso mais recente é o da empresa britânica de cosméticos Lush, que afirmou o fim de seus canais nas redes sociais a partir da próxima semana.

O anúncio foi feito via Twitter, Facebook e Instagram, nos quais a empresa tem, respectivamente, 202 mil, 423 mil e 570 mil seguidores em suas contas britânicas. Também serão encerradas as contas das submarcas Lush Kitchen, Lush Times, Lush Life, Soapbox e Gorilla, também com dezenas de milhares de seguidores.

“As redes sociais cada vez mais dificultam que falemos entre nós diretamente. Estamos cansados de lutar contra algoritmos, e não queremos pagar (às redes sociais) para aparecer no feed de notícias de vocês (consumidores)”, diz o anúncio da marca. “Então, decidimos que é hora de dar adeus a alguns dos nossos canais sociais e iniciar, em vez disso, uma conversa entre nós e vocês.”

“Não queremos limitar as conversas a um só lugar. Queremos que o social volte às mãos das nossas comunidades, dos nossos fundadores aos nossos amigos. (…) Queremos que isso esteja mais vinculado ao que nos apaixona, e menos à caça de likes.”

A empresa de cosméticos concluiu sua mensagem dizendo que o anúncio da saída das redes sociais “não é um fim, mas apenas o começo de algo novo”, e pediu que os clientes entrem em contato via e-mail, telefone ou formulário em seu site. ⁣

‘Loucura’?⁣

Mike Blake-Crawford, da agência de marketing Social Chain, disse à BBC que o anúncio da Lush dá a entender que a empresa vai dedicar mais esforços ao trabalho com influenciadores digitais, mas a estratégia trará desafios.

“O principal deles, para mim, é como eles vão capitalizar na conversa (com seus consumidores) sem terem uma conta centralizada nas redes sociais, para (divulgar) seus produtos e campanhas”, opina.

Outros especialistas em marketing acharam descabida a iniciativa da Lush.

A blogueira de moda e beleza Leah escreveu, em sua conta de Twitter, que não consegue entender como a Lush pode abandonar uma conta de Instagram com quase 600 mil seguidores. “É uma loucura”, afirmou.

‘Trollagem’

No ano passado, a rede britânica de pubs Wetherspoons também deu adeus a sua presença nas redes sociais – embora essa presença fosse bem menor que a da Lush. A empresa, que tem 900 pubs e hotéis no Reino Unido, deu adeus a 44 mil seguidores no Twitter, 100 mil no Facebook e 6 mil no Instagram.

O argumento é de que as redes sociais favorecem a “trollagem” e o mau uso de dados pessoais. O presidente da rede, Tim Martin, disse à BBC que “a sociedade estaria melhor se diminuísse seu uso de redes sociais”.

“Estávamos preocupados que gerentes de pubs estavam sendo desviados (pelo esforço de alimentar as redes sociais) de seu trabalho real, que é de servir os clientes”, explicou Martin.

“Estamos indo na contramão do senso comum, que diz que essas plataformas são um componente vital para um negócio bem sucedido. Não acho que fechar as nossas contas nas redes sociais vai afetar nosso negócio de forma alguma”, prosseguiu o executivo, acrescentando que os clientes da Whetherspoons podem seguir se comunicando e se informando sobre a empresa pelo site e por sua revista.

O repórter de tecnologia da BBC Rory Cellan-Jones lembra que as redes sociais têm sido amplamente usadas pelas empresas para promover marcas, fazer serviço de atendimento ao cliente e outras iniciativas de maketing. Mas tudo isso requer esforço, trabalho e estratégia.

“Administrar uma estratégia de redes sociais efetiva e garantir que a equipe que lida com todas essas contas esteja em consonância com a política da empresa são coisas caras, que consomem muito tempo”, explica Cellar-Jones. “Talvez para a Wetherspoons todo esse esforço fosse mais um problema do que algo que valesse à pena.”

 

Fora de Facebook

Há também grandes companhias que preferiram eliminar uma ou outra conta específica nas redes.

Em abril do ano passado, o empresário Elon Musk fechou as contas no Facebook das suas empresas Tesla e SpaceX, coincidindo com a campanha #deleteFacebook, surgida após o escândalo da Cambridge Analytica – em que a rede social foi acusada de fornecer ilegalmente dados privados de seus usuários para a consultoria política, que usou as informações para fins eleitorais. Musk afirmou, porém, que sua decisão não tem a ver com o escândalo.

“Não é um ato político e não fiz isso porque alguém me desafiou a fazê-lo. Simplesmente não gosto do Facebook. Me assusta”, disse Musk pelo Twitter.

Mas a Tesla e a SpaceX continuam tendo presença no Instagram, com respectivamente 5,6 milhões e 4,6 milhões de seguidores.

Outra empresa que deixou o Facebook neste ano foi a Playboy. Cooper Hefner, filho do fundador e atual diretor da empresa, afirmou via Twitter que “tentamos criar uma voz para (o Facebook), que na nossa opinião continua a ser sexualmente repressivo”.

“A descoberta sobre as recentes interferências nas eleições dos EUA reforça outra preocupação que temos acerca da forma como eles lidam com dados dos usuários – sendo mais de 25 milhões deles fãs da Playboy -, deixando claro que devemos deixar a plataforma.”

BBC

Aner
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