Perspectivas Aner: Jornalismo na atualidade e as novas tecnologias

Perspectivas Aner: Jornalismo na atualidade e as novas tecnologias

17 de janeiro de 2022
Última atualização: 24 de agosto de 2023
6min
Márcia Miranda

17 de janeiro de 2022

Com a experiência de quem estuda e vive o ambiente das universidades e da pesquisa no campo do jornalismo e da comunicação, o futurista, doutor e professor de Jornalismo e Novas Tech, Marcelo Barcelos, conversou conosco sobre o que se pode esperar e como os editores devem se preparar para 2022. Muito além de apenas tecnologia, Marcelo faz um panorama da necessidade de atenção ao que o jornalismo precisa assumir como sua responsabilidade, o que ele chama de um “jornalismo de verdade”.

Pesquisador dedicado a entender como a Comunicação Digital, a Automação e a Robótica irão transformar a pós-humanidade, tem sete livros publicados, mais de 200 análises, como fonte especialista, em em emissoras como Globo/NSC, CNN Brasil, SBT, Record/RIC e Band. Marcelo tem participado dos principais eventos da área no Brasil, na última década, e também apresentou pesquisas na Argentina, em Portugal, Espanha e Itália. Atua, ainda, na gestão inovadora de equipes e no desenvolvimento de projetos de alta performance em Comunicação Híbrida, Interna e Corporativa, sobretudo, com ênfase em planejamento de ConteúdoDigital, Storytelling, Branding e Métricas, inspirado por soluções que emergem em parques tecnológicos, startups e incubadoras do futurismo.

O livro mais recente de Marcelo é “Jornalismo em todas as Coisas – O futuro das notícias com inteligência Artificial (AI) & Internet das Coisas (IoT), pela Editora Insular. Nele, Marcelo faz uma aposta de jornalismo com participação intensa da tecnologia e elabora cenários para o jornalismo hiperconectado e automatizante.

Como você avalia o jornalismo na atualidade?

Há uma “sede” libertina e sagaz, crescente e de resgate histórico, por um jornalismo de autoria e corajoso; de um tipo de jornalismo “raiz”, aquele que fala com o público/leitor; que enumera suas dores e temores – e, óbvio, supera o capitalismo [de dados] e sustenta, em tempos de censura digital/governos autoritários, a defesa da vida, principalmente, para aquelas/aquelas que mal conseguem ver que estão sendo sorvidos/sorvidas pela máquina da desigualdade, da invisibilidade e da pobreza…

É preciso mirar em um jornalismo, volto a dizer, transformador, corajoso, incômodo para as elites; vigoroso além do cercadinho que encurrala a imprensa; criativo e terrivelmente democrata. Jornalismo que veja e reconheça – e tome como causa incansável – a recuperação de um Brasil destituído de si, raivoso contra si, esquecido e ludibriado…

Um Jornalismo que saiba ocupar seu lugar de mérito, espaço e função social únicos, ainda mais em democracias em risco, como a nossa. Um Jornalismo que jamais abandone o rastro de destruição que a pandemia – e as omissões governamentais – produziram. E que saiba cobrar e acompanhar os fatos e seus longos desdobramentos.

Este Jornalismo, muito antes do Jornalismo 5G que estudo e pesquiso – e que deve demorar pelo menos dois ou três anos para ser vivido por parte da população; do Jornalismo Automatizado que debato; do Jornalismo para o Metaverso que tanto se especula…

A inovação nas redações tem sido muito perseguida, como uma solução para os problemas, principalmente os de caixa. Na tua opinião, a inovação tecnológica é a solução?

Antes de pensarmos a inovação, muitas vezes “vendida” como um apertar de botões e múltiplas telas, um adds impessoal, é urgente que se oferte jornalismo de verdade. Isto, pra mim, em um Brasil enlutado neste 2022, depois de dois anos, praticamente de negacionismo e necropolítica, é essencial e fará toda diferença para o futuro jornalismo que merece ser pago/consumido e defendido. E, por conseguinte, capaz de penetrar e incomodar o Brasil profundo e esquecido, deteriorado pela crise política e econômica dos nossos tempos.

Talvez devamos nos concentrar para o Jornalismo da verdade que age e diz, com todas as letras: essa notícia é falsa! Aqui cravo como tendência para 2022, este será nosso exercício principal. E não se pode mais ignorar a natureza do fazer – legítimo – do compromisso social do jornalismo, para propor renovação e inovação. Só depois disto, é possível apostar em inovação de plataforma, linguagem e modelo de negócio inovador [e sustentável].

A renovação/inovação, antes de tudo, precisa respeitar isso. E tornar isso um valor, um valor monetizável. Afinal, estamos falando de sobrevivência e proteção à vida. Num mercado voraz, quem sabe, isso possa ser melhor negociado.

O que você daria como dica importante para que os editores não fiquem para trás em 2022?

Uma questão parece ser primordial, em tempos de avanço do Jornalismo Científico e necessidade, diária, de informações analíticas sobre a Saúde Pública e Economia: Estas duas editorias protagonizarão a pauta de 2022. E, para explicar e problematizar a dobradinha, nada melhor do que investir em projetos gráficos arrojados, com capricho na visualização de indicadores/dados de pesquisa; infográficos interativos e alimentados por bases de dados de fluxo contínuo.

Os vídeos e lives também têm sido indicados como necessários neste diálogo com o público, certo?

A edição em tempo real e direção de lives, também, prometem ser dois pontos de atenção. Justamente por isso, por termos cada vez mais a necessidade de conversar com audiências ativas, é importante que se dedique jornalistas na função de gestão da fase de fãs. Interagir, com perguntas, comentários, quizz e por pedidos de colaboração dão o tom do relacionamento digital de leitores/as e as marcas jornalísticas. Insisto, sempre, que a marca deve assumir uma comunicação horizontal, humanizada, principalmente nas estratégias de chamar atenção da rede – e fazer o algoritmo trabalhar pra nós.

Alguma dica em relação ao tratamento de dados?

Transparência de dados públicos é outro grande desafio para 2022, ainda mais para quem atua em raspagem de dados e reportagens com base nas informações que estão, em tese, asseguradas pela Lei de Acesso à Informação. Em tempos de autoritarismo e guerrilha digital, e recordes de ataques à imprensa brasileira, as redações, os editores e as empresas precisam, obrigatoriamente, criar esquemas de segurança e blindagem para que seus repórteres voltem, sãos e salvos, para escrever suas reportagens, sem medo de retaliações e perseguição.

Marcelo Barcelos é doutor em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), futurista e autor de livros como Jornalismo em todas as coisas | O futuro das notícias com inteligência artificial (AI) & internet das coisas (IoT), pela Editora Insular

Márcia Miranda
Administrator
Acredita que boas ideias precisam ser compartilhadas. Formada em Comunicação Social, Jornalismo, pela Universidade Federal Fluminense (RJ), iniciou carreira em redação em 1988 e por 24 anos (até 2012) trabalhou em veículos como Jornal O Globo e Agência O Globo, Editora Abril, Jornal O Fluminense, Jornal Metro. Em 2012 iniciou o trabalho como relações públicas e assessora de comunicação, atuando para clientes em áreas variadas, como grandes eventos (TED-x Rio, Réveillon em Copacabana, Jornada Mundial da Juventude, Festival MIMO), showbiz, orquestras, entretenimento e assessorias institucionais como o Instituto Innovare. É empreendedora e, em dezembro de 2021, criou a Simbiose Conteúdo, uma empresa que presta serviços e consultoria em comunicação para associações como Aner, Abral e Abap e divisões internas da TV Globo.