Os desafios e as oportunidades da América Latina
ANER – 26/06/2019
Entrevista com Gustavo Bruno, diretor de circulação da argentina Perfil e presidente Associação Argentina de Editores de Revista (AAER), publicada no site da FIPP e traduzida pela ANER.
À medida que nos preparamos para explorar as tendências editoriais globais no próximo Congresso Mundial de Mídia da FIPP, pedimos a Gustavo Bruno, diretor de circulação da argentina Perfil e presidente Associação Argentina de Editores de Revista (AAER), que nos desse sua visão sobre a região e a estratégia de sua própria empresa para o sucesso.
Conte-nos sobre o mercado na América Latina neste momento e o que está impulsionando o mercado de revistas…
As perspectivas do mercado de revistas latino-americanas são influenciadas por dois elementos importantes: a situação econômico-social e o impacto do ambiente digital. Em 2018, o Brasil cresceu apenas 1,1%, igual ao seu crescimento demográfico, muito abaixo do crescimento de 4,7% de 2014. O desemprego é de 12%, com uma diminuição significativa do investimento e aumento de preços. Para 2019, as perspectivas são ainda mais desanimadoras, e algumas empresas de consultoria estimam um crescimento do PIB de apenas 1,8%.
No caso da Argentina, sua economia está em recessão com a inflação crescente e uma queda no valor da moeda. As perspectivas para 2019 estimam inflação em torno de 40% e queda de 1,5% no PIB.
O mercado de revistas em 2018 apresentou uma queda de 10,2% nas vendas em comparação a 2017, e uma queda notável na receita de publicidade, especialmente na mídia impressa. Apesar disso, as principais editoras continuam a explorar oportunidades digitais e a diversificar suas ofertas de produtos.
Quais são as grandes tendências emergentes que você está monitorando no momento?
No momento, existem duas áreas realmente interessantes que estamos monitorando. Uma delas é a crescente diversificação do mercado, que está levando as empresas a se adaptarem em um sentido técnico – mudando a forma como o conteúdo alcança os clientes em termos de impressão e digital.
A segunda é a crescente influência do ambiente digital, que está levando as empresas a usar mais o software analítico e de insight para analisar as formas e características sóciodemográficas de quem está acessando o conteúdo e de que forma o acessa. Esta análise está gerando algumas tendências e oportunidades interessantes.
Como especificamente a Perfil está se adaptando às tendências e mudanças do mercado?
As mudanças na região criaram uma série de oportunidades para a Perfil Publishers, e não apenas para crescer e promover nossas atividades nos países vizinhos. No caso do Brasil, estamos aumentando nossa participação de mercado à medida que nos adaptamos ao novo ambiente comercial e cultural.
Você pode compartilhar um exemplo?
Nossa marca de revistas Caras, por exemplo, agora é publicada no Uruguai com conteúdo específico para o país e também em Miami (EUA) para a população de língua espanhola. A revista também tem uma forte oferta digital e atrai quase 60 milhões de visitantes únicos, tornando-se o maior impacto digital e meio de penetração na América Latina.
Qual é o foco principal da sua estratégia agora?
Nossa abordagem atual é construída em três áreas principais. A primeira área é adaptar e inovar os produtos existentes para que possamos estabelecer uma sinergia entre a continuidade da marca e as inovações que fortalecem ainda mais a marca.
A segunda, é manter marcas registradas bem estabelecidas no país anfitrião, mantendo o design e a linguagem específica, mas se adaptando às peculiaridades locais, como o exemplo de Caras no Uruguai e nos EUA.
A terceira, é lançar publicações com marcas de alto reconhecimento internacional, que oferecem ao leitor um grau de confiança, alcançando receitas de publicidade e emitindo vendas rapidamente.
Quais hábitos de consumo são particularmente interessantes em sua região agora?
Existe um denominador comum derivado do crescente interesse no ambiente digital em seus diferentes canais, plataformas e ferramentas. Esses hábitos de consumo são essencialmente segmentados por idade, portanto, para os millenials, a “pressão digital” é dominante e diminui com a idade.
Os editores tendem a manter um equilíbrio entre digital e impresso, de modo a não perder o potencial e o alcance de seus produtos.
Quais tendências você está vendo em torno dos modelos de receita – publicidade, licenciamento, assinaturas, etc.?
As tendências gerais são realmente condicionadas pelas políticas comerciais de cada empresa. Há organizações que se concentraram no fortalecimento de assinaturas, vinculando-as a acordos comerciais e financeiros que lhes permitem oferecer uma série de vantagens aos clientes, como descontos em compras, shows, restaurantes, etc.
Também estamos vendo a aquisição contínua de licenças em torno de produtos testados internacionalmente, embora isso seja menos comum do que o acima. Por outro lado, os desenvolvimentos digitais estão impulsionando o conteúdo pago e fortalecendo ainda mais a posição das marcas.
Então, em suma, enquanto estamos vendo um ambiente comercial volátil e um clima econômico difícil, há uma grande oportunidade para adaptar e aumentar a oferta de conteúdo.