O verdadeiro motivo do fechamento dos jornais locais

O verdadeiro motivo do fechamento dos jornais locais

5 de janeiro de 2021
Última atualização: 5 de janeiro de 2021
Helio Gama Neto

PODER 360 – 03/01/2021

Lyz Lenz, NIEMAN LAB

Allison Hantschel trabalhou em pequenos jornais no Meio-Oeste por uma década. Ela trocou essa carreira pelo mundo das organizações sem fins lucrativos, que ainda são adjacentes ao jornalismo.

Conheci Allison on-line, quando a vi responder a um tweet de uma editora de revista lamentando a perda de jornais locais e repreendendo os americanos por não apoiarem o jornalismo local.

Há muito a dizer sobre essa linha de pensamento. Existem muitos jornalistas locais que fazem um trabalho incrível apenas para serem ignorados ou canibalizados pelos meios de comunicação nacionais. Existe um problema com os grandes conglomerados de notícias. Mas também há outro problema. Existe um problema de poder e público. Existe um problema onde os negócios encontram a narrativa e onde a branquitude encontra nossa concepção de público. E esta é a história que não está sendo contada.

Sobre esse assunto, Allison tinha algumas coisas a dizer.

Em sua análise, ela falou sobre como os grandes meios de comunicação cobrem as notícias locais, mas as canibalizam. Descreveu como os sites de jornais locais são ruins e também sobre o conteúdo. Ela avalia que não estamos falando sobre isso. Por ser uma senhora do Meio-Oeste disposta a expor a verdade, entrevistei-a sobre sua história em pequenos jornais e o que ela vê como os verdadeiros problemas do jornalismo local. Em suma, ela argumenta que os jornais estavam se prejudicando muito antes da internet e do capital privado aparecerem.

LYZ LENZ: Obrigada por falar comigo! Me conte sobre sua experiência.
ALLISON HANTSCHEL: Minha formação é em jornalismo. Comecei como repórter de notícias da comunidade e trabalhei por um tempo para o empresário Conrad Black no grupo editorial Hollinger International. Se você está familiarizado com o colapso das notícias locais, sabe sobre a fraude dele. Estamos falando de alguém que literalmente roubou dinheiro de seu negócio para financiar seu estilo de vida luxuoso, enquanto dizia a seus repórteres: “Não temos dinheiro”.

E por muito tempo eu realmente acreditei nisso. Mas então você começa a se perguntar, “bom, se estamos falidos, então por que a esposa de Conrad está comprando o equivalente a 21 mil dólares em bebidas para a empresa?”.

E, de alguma forma, não tínhamos dinheiro para pagar uma agência governamental pela liberação de documentos que precisávamos expor às nossas comunidades. Isso foi no final dos anos 90. Portanto, não era a internet. Não é, “Oh, os blogueiros roubaram todo o nosso dinheiro”.

Isso foi o que agora chamam de “os bons tempos”.

Passei para outro jornal, que também estava uma bagunça. Por diferentes razões. A comunidade queria o próprio jornal, amava o jornal e se preocupava com ele, mas era absolutamente incapaz de obtê-lo. Fisicamente não conseguia pegar o jornal. Por muito tempo, as pessoas ligavam para a redação porque não conseguiam passar na linha de circulação ou não conseguiam ajuda e diziam: “Ei, não recebi meu jornal”.

Havia todo um departamento que deveria lidar com isso. E o que está acontecendo agora? Era só uma prévia. Deixei o jornalismo diário em 2005. Mas só piorou, porque agora existe a internet como bode expiatório para toda a incompetência e roubo.

LENZ: Não é? Lembro-me de encorajar as pessoas a assinarem o jornal local e receber mensagens e textos dizendo que era impossível porque a página de inscrição estava instável ou não funcionava. A funcionalidade não estava lá.
HANTSCHEL: Tenho uma história que ilustra por que os problemas com os negócios do jornalismo local são anteriores à internet: trabalhei em um jornal que cobria a zona sul da cidade de Chicago e os subúrbios ao sul e sudoeste. E, à medida que a comunidade branca se espalhava e os subúrbios cresciam, começamos a expandir para novo território. Contratamos cerca de 5 repórteres, incluindo um repórter de negócios que mudou sua família inteira do estado de Washington.

Então, vários meses depois, a empresa comprou uma pequena publicação já existente na mesma comunidade. E competimos contra nós mesmos por três anos. Devíamos ter apenas comprado e incorporado ao já existente. Mas não, “nós iríamos trabalhar contra nós mesmos”. Ou seja, não havia nada na internet que levasse as pessoas a fazer isso.

LENZ: Bem, mesmo os velhos sistemas que são usados estão quebrados. Dizem que somos “integrados ao digital”, mas somos forçados a usar CMSs com muitos bugs, quando apenas usar o WordPress seria mais barato.
HANTSCHEL: Eu costumava pensar que o problema do jornalismo local era que as pessoas que dirigiam os veículos não entendiam a internet. E acho que o problema é que eles realmente não entendem de jornais. Porque eles não entendem a função do jornalismo, que é escrever histórias sobre a comunidade.

LENZ: Eles não querem deixar as pessoas bravas. E você pensa, “é isso que as pessoas querem”. Elas querem que você faça seu trabalho. E adivinhe, escrever boas histórias é bom para os negócios! Recebe tráfego. Justifica as assinaturas.
HANTSCHEL: Para todos que estão com raiva de você e ligam e reclamam, há 20 pessoas que nunca ligam para dizer obrigado, mas eles são gratos, estão dizendo “obrigado por divulgar a história”.

LENZ: Isso me lembra do meu lema de jornal favorito: “As manchetes não vendem jornais, os jornalistas vendem jornais!”
HANTSCHEL: Isso foi uma piada há alguns meses. Alguém tweetou: “Bem, talvez se eles empregassem crianças duronas e sujas para me dizer para ler tudo sobre isso”.
E eu pensei, “você está brincando, mas você não está realmente brincando porque o que os jornais têm feito ao longo dos anos é desinvestir na circulação, no marketing e na distribuição”. E se as pessoas não sabem sobre o seu jornal e não conseguem obtê-lo, esses problemas entram em conflito com o modelo de negócios. Não é uma questão de construir a receita.

O problema é não pensar primeiro nos clientes. Eu não me importo se eles são leitores digitais ou leitores de impressos, se você não é o consumidor, o que você está fazendo? Se você não está pensando “como isso vai servir ao público pelo qual sou responsável?”, qual é o ponto? E, com certeza, isso pode incluir seus líderes empresariais locais ou o que quer que seja. Mas se eles estão literalmente envenenando as pessoas e mentindo sobre isso, então provavelmente você deve ficar do lado das pessoas que estão sendo feridas. Você entende o que eu quero dizer? Tipo, por que isso é revolucionário? Por que essa história é tão difícil de escrever?

LENZ: Quando eu trabalhava no jornal, uma vez recebi um lembrete sutil sobre o quão “conservador” o público era. Mas isso parecia tão condescendente, porque os conservadores também gostam de boas histórias, e não é sobre política, é sobre poder. Além disso, estamos em Iowa, um condado de maioria democrata. Então, mesmo que seja tradicionalmente “conservador”, você está dizendo ao colunista liberal para apelar para um público que não é realmente o seu público.

Quando chefes e editores estão nervosos porque o prefeito está bravo de novo, ou porque um banqueiro está ameaçando cancelar o patrocínio porque você não vai publicar seu artigo racista, a quem você está realmente servindo? Quem é realmente o seu público? Além disso, se a única vez que você está cobrindo a comunidade negra é quando há crime, quem é realmente o seu público?

HANTSCHEL: Se você trabalha para uma audiência que imagina ter e está em uma redação toda branca, então você serve apenas ao seu público branco. E você acaba com a base de clientes que tem agora, pessoas que acreditam que, se a notícia não grita que estamos sendo enganados por uma conspiração liberal, é mentira o que estão publicando.
Além disso, existe uma mentalidade de que talvez nossos clientes nos amem se dermos a eles apenas algodão doce. E isso não está certo.

LENZ: Reportar fatos não acontece em um vácuo moral. Quando você “se alimenta” de conspirações ou de meias verdades e de ideias racistas porque se recusa a contratar pessoas de cor e não consegue ver além da sua branquitude, os jornais locais assumem a responsabilidade de criar este ecossistema. Isso não é culpa inteira da Fox News.
HANTSCHEL: Há muito nisso que não é necessariamente político. Não acho que seja uma conspiração política. Acredito que esses problemas têm suas raízes na preguiça e na estupidez. Nunca atribua à malícia o que a estupidez explica adequadamente.

O poder está acostumado a estar no poder e não gosta de ser questionado. Portanto, não há pensamento crítico, apenas reações.

A primeira editora de capa com quem trabalhei foi uma mulher chamada Chris Bailey. Ela trabalhou para o Elgin Courier News, que ainda existe, capengando. Chris se aposentou há muitos anos, mas Chris era uma heroína. Elgin era considerado um subúrbio, mas na verdade era o seu próprio tipo de cidade pequena – base de manufatura decadente, um cassino novinho em folha e etc.

Houve muita violência. E cobrimos a violência como violenta. Então, quando acontecia um triplo homicídio ao meio do dia, em uma rua pública onde os corpos estão ali… Sim, publicamos isso na capa.

Os patronos da cidade, é claro, piraram. Disseram-nos que estávamos acabando com a reputação da cidade. E Chris escreveu um editorial que dizia: “vocês não têm problema de imagem. Vocês tem um problema de cadáver. Faça com que os cadáveres desapareçam e seu problema de imagem vai embora”.

Eu penso sobre isso e fico: “ok, coloque Chris no comando do conselho editorial do The Washington Post. E não teremos anos como os últimos quatro”.

LENZ: Isso me lembra do fracassado festival em Cedar Rapids. Foi como um Fyre Festival. Nem chegamos a pagar John Waters, e ele nos odeia agora. Quem quer que se torne o novo prefeito precisa instituir um dia municipal de desculpas a John Waters. E, literalmente, sempre que se escreve sobre isso, surge um e-mail choroso do prefeito dizendo que não foi culpa dele. Todos ficam na defensiva. Certa vez, um empresário me acusou de fazer a cidade ficar mal porque falo muito sobre esse festival fracassado. E, claro, isso sempre é feito pela gerência que tenta acalmar os sentimentos ruins em vez de dizer: “Se você não gostou que planejou um festival fracassado e roubou o dinheiro das pessoas, peça desculpas.”
HANTSCHEL: Chefes e editores de jornais contratam todas essas pessoas por causa de seus radares de merda incrivelmente avançados e suas habilidades de fazer perguntas. E então você, de alguma forma, fica confuso e chateado quando eles as aplicam em sua própria redação. Eu e meus colegas sentávamos em reuniões e pensávamos, “bem, por que a empresa está fazendo isso?” E eles dizem, “bem, você não deveria fazer perguntas”. E isso é literalmente a única coisa boa sobre nós. A única coisa que sabemos fazer é fazer perguntas irritantes para as pessoas que estão mentindo em frente aos pódios. Essa é a nossa vida inteira.

LENZ: Surgiu um plano de que os colunistas não fariam perguntas durante o processo de revisão do conselho editorial para tornar mais fácil para os republicanos (que se recusaram a participar). Eu me recusei. Fui contratada porque sou boa no meu trabalho. Por que silenciar qualquer um de nós?
HANTSCHEL: Acho que os chefes e editores de jornais esquecem que têm o poder. Que eles não precisam apenas relatar o que as pessoas no poder nos dizem. Você é um editor que pode definir uma agenda. Você tem um enorme barril de tinta e um monte de papel. Vá encontrar algumas crianças duronas e sujas para vender esses jornais. Você pode obter essas informações por aí. E o fato de você não obtê-las é porque não quer. Então pare de fingir ser algo que você não é. Pare de fingir que faz jornalismo.

LENZ: E nem ao menos é uma decisão de negócios. Porque são histórias impactantes que geram tráfego – que vendem jornais.

Não é um mau negócio responsabilizar as pessoas. Só te deixa desconfortável no clube da cidade. E claro, talvez o governador não venha às suas conferências, mas e daí? Use isso como uma medalha de honra.

HANTSCHEL: Quando as pessoas costumavam ligar e reclamar, nós as colocávamos no viva-voz. Assim, todo o escritório podia ouvi-las reclamar.
Você deveria se deleitar com as críticas a pessoas terríveis – criminosos e escória. Se Mitch McConnell me odiasse só pelo meu nome, eu tatuaria isso na minha testa. Eu morreria me gabando disso. Você entende o que eu quero dizer? Isso significaria que eu fiz meu trabalho.

Direi, entretanto, que chegamos ao ponto em que todos estão pensando: “Todo mundo me odeia. Isso significa que estou fazendo algo certo.” O que não é verdade. Esse pensamento me deixa louca porque não é isso. Todo mundo te odeia porque você é um idiota, não porque suas ideias são boas.

LENZ: O que você está apontando agora não é apenas um problema de jornais pequenos. Ele se estende a grandes empresas de mídia também. Mas em comunidades menores parece mais intenso. Ou talvez seja assim em todos os lugares e nós apenas o vemos mais intensamente em espaços menores?
HANTSCHEL: É muito isolado. E todos se preocupam com a influência e os segredos do jornalismo político, quando eles realmente deveriam estar se preocupando com a cobertura esportiva do colégio local. Juro por Deus que um diretor de esportes gritou comigo um dia por cobrir uma história sobre uma liga esportiva local horrivelmente racista.

Então, esse cara gritou comigo porque eu estava tornando difícil para ele chegar aos jogos. E eu fiquei tipo, “sabe de uma coisa? Na verdade, não me importo muito com o seu problema”. Mas aí é que está. Estes são os amigos dele, certo? Estes são os “manos” dele, e eles vão e contam coisas a ele. Mas eles obviamente não contaram tudo, se ele não contasse a história primeiro. Qual é o valor dessas amizades?

LENZ: Isso é algo que me deixou muito frustrada durante a pandemia, que é que a cobertura esportiva local em geral não fala sobre a pandemia. Não fala sobre quem está usando máscaras e praticando o distanciamento social. Não fala sobre quais alunos do ensino médio têm Covid.
E a decisão de não fazer isso tem consequências para a saúde pública. As pessoas adoecem e morrem porque você escreveu histórias que faziam parecer que basquete está acontecendo normalmente e que está tudo bem. Escrever não acontece sem valor moral.

Essa também é a história do racismo no programa de futebol de Iowa. Você tem homens brancos cobrindo o esporte há anos, e então todos ficam chocados quando os jogadores aparecem e falam sobre racismo. Porque ninguém viu. Bem, é claro que eles não viram. Eles são todos brancos. E se alguém viu, optou por não escrever sobre isso, porque essa não era a sua “área”.

HANTSCHEL: Isso me incomodou desde o início, porque agimos como se todos esses padrões vagos do Instituto Poynter fossem regras rígidas.
Por exemplo, se os violarmos e usarmos a palavra errada, alguém vai tirar nosso distintivo de jornalismo. O que impede os jornalistas esportivos de, de repente, escreverem uma história sobre COVID e os esportes do ensino médio e como isso os afeta financeiramente? Essa é uma história de esportes incrivelmente atraente. Por que não é sua praia? E é isso que me deixa louca! Isso não é uma regra. Isso é algo que você decidiu. E você pode decidir de outra maneira. Então me diga por que você decidiu isso. E se você não pode endossar, não fique bravo comigo por apontar isso.

LENZ: Eu era uma de oito filhos. Estou acostumada com o conflito. Portanto, estou surpresa com a quantidade de pessoas que estão no jornalismo e têm medo de chatear as pessoas. Vá para PR então. Este é o trabalho. E como você disse, as “amizades” não estão resultando em boas histórias. Então encontre novos amigos e pare de fingir que ser covarde o ajuda a ser jornalista. Ok, esse foi o meu discurso retórico. Vamos falar sobre o acordo com a loja de 1 dólar Buckleys para a venda dos jornais.
HANTSCHEL: Em Chicago, temos o John Kass. Ele não costumava ser tão terrível. E então, de repente, decidiu que, em algum ponto, ele iria direto para a toca do coelho Newsmax. E tanto faz, mas mesmo a escrita não é boa. Talvez discordemos, mas você não está apoiando nada com fatos. Você não está relatando nada. Você não está ligando para ninguém. Você não está falando com ninguém. Você não está oferecendo nada original. Você está apenas regurgitando algo que leu em um e-mail enviado por seu tio-avô ou algo assim. E no caso de Kass, ele é o tio-avô.

Então, eles nem são bons nisso.

LENZ: Eu sempre pensei que a escrita ruim era, pelo menos, boa para os resultados financeiros. Agora que eu vi em primeira mão, não é. Ninguém assina um jornal local para poder ler John Kass sindicando. Ninguém. Não é uma decisão de negócios; é uma decisão de preguiça.
HANTSCHEL: Os veículos que conseguiram fazer as coisas funcionarem para eles são os que oferecem algo que as pessoas não encontram em outro lugar.
Você tem que fornecer algo de valor para seus clientes.

Não entendo como continuar a publicar na rede as mesmas 15 histórias internacionais que as pessoas já leram há 2 dias seja uma boa decisão de negócios. Se isso é tudo que você está fazendo e, ao mesmo tempo, alegando que merece sobreviver e que eu devo meu tempo a você, bem, desculpe, não devo nada a você.

Essa é a outra parte sobre a qual realmente não falamos, que é que as empresas jornalísticas passaram os últimos 20 anos gritando para seus clientes que eles são ruins.

LENZ: Foi isso que me fez querer falar com você. Eu vi seus tweets porque você estava respondendo a uma editora de uma revista. Ela estava defendendo que devemos salvar os pequenos jornais, como se ela fosse uma senhora rica implorando a todos que salvassem os órfãos. Mas e se os órfãos tivessem matado seus pais? Esta é uma metáfora terrível.
HANTSCHEL: Eu digo “mantenha seu posicionamento”. Porque os jornais sempre disseram aos clientes que eles merecem seu dinheiro apenas porque existem, mas não fizeram nada para ganhá-lo. E agora eles querem assinaturas de simpatia e não é assim que as assinaturas funcionam. Eles estão negando? Tipo, essa é uma estratégia de pick-up artist (coach de relacionamento para homens solteiros)? É isso que estamos fazendo?

LENZ: Por muito tempo, fiz da “assinatura do jornal local” uma parte dos meus esforços. E é por isso que aceitei o emprego do qual fui demitida. Mas vez ou outra ouço pessoas dizerem: “Eu adoraria assinar o meu jornal local, mas é chefiado por apologistas da supremacia branca.” E esse é um bom ponto!
HANTSCHEL: Eu costumava assinar o Tribune e o Sun-Times quando estava fazendo uma reportagem, porque basicamente sentia que tinha que fazê-lo. E 9 em cada 10 vezes, nenhum desses jornais estava na minha porta antes das 9h, e somos uma cidade suburbana. Isso não é sustentável.
Então, você sabe, não chame minha atenção e diga que eu não valorizo o jornalismo. Em meu tempo livre, que não existe, eu arrumo dinheiro para o jornalismo. Mas esses jornais não fazem seu trabalho. Se eu for a uma padaria e ela me envenenar, não irei lá novamente. E aquela loja de bagels pode colocar todos os avisos que quiser sobre apoiar os negócios locais, mas ela me deu salmonella.

LENZ: Estamos sofrendo, mas às vezes os meios de comunicação precisam ser queimados completamente para que possamos começar de novo. E eu sei que há muita preocupação com o surgimento de veículos de notícias hiper partidários, mas também há esse modelo de notícias sem fins lucrativos.
HANTSCHEL: E é o direito. Você não consegue sobreviver só porque é o Chicago Tribune.

LENZ: E como é esse dinheiro que você implora para entrar está sendo gasto? Não em contratações mais diversas. É em campanhas inúteis de reformulação de marca? Você não pode pagar estagiários, não pode contratar um negro, mas pode mudar a marca?
HANTSCHEL: A reformulação da marca continuará até que a moral melhore.

LENZ: Esse é o problema. Você não pode argumentar que precisa vender barato e em lojas de 1 dólar da Buckleys “porque somos um negócio e é isso que nosso público deseja”, quando os números do tráfego mostram que não, as pessoas não querem isso. Então, você não está dando ao seu público o que eles querem, mas enquanto isso está batendo na porta das pessoas, implorando por dinheiro.
HANTSCHEL: Pelo menos a Fox News ganha muito dinheiro.
Essa é a questão. Os jornais não sabem girar, e isso é um problema real. Sua propriedade corporativa os impede de fazer isso.

Você pode fingir que é independente, mas ainda há um CEO. Ainda há pessoas que controlam o dinheiro. Então, fale o quanto quiser sobre mudanças e novas direções ousadas, mas se alguém não financia essas direções, não vai a lugar nenhum. E algumas ideias têm poder, mas a verdadeira questão é quem são as vozes que elas estão fortalecendo? Que autoridade ele tem para fazer?

Lyz Lenz* é ex-colunista do The Cedar Rapids Gazette. Já publicou textos na Columbia Journalism Review, no Washington Post e no New York Times.

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O artigo foi traduzido por Carina Benedetti.


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Helio Gama Neto