‘O TIRO SAIU PELA CULATRA’, DIZ QUADRINISTA E ATIVISTA LGBTQ+ SOBRE POLÊMICA ENVOLVENDO CRIVELLA

'O TIRO SAIU PELA CULATRA', DIZ QUADRINISTA E ATIVISTA LGBTQ+ SOBRE POLÊMICA ENVOLVENDO CRIVELLA

9 de setembro de 2019
Última atualização: 9 de setembro de 2019
Helio Gama Neto

ÉPOCA – 06/09/2019

Alessandro Giannini

Quadrinista e um dos organizadores da feira LGBTQ+ de quadrinhos e artes gráficas Poc Con, em São Paulo, o brasiliense Mario César dos Santos de Oliveira, de 37 anos, classificou como “absurda” a atitude do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que nesta quinta-feira determinou o recolhimento de uma graphic novel da Marvel da Bienal do Livro. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Crivella disse que o volume teria “conteúdo sexual para menores, já denunciado na internet” e que a prefeitura estaria “protegendo as crianças” da cidade.

“É um ato de censura”, diz o ilustrador, que assina suas obras simplesmente como Mario César. “Típico de quem não leu a obra, não conhece o assunto e acha que quadrinhos desse tipo são voltados para crianças.”

Assinado pelo roteirista americano Allen Heinberg e pelo ilustrador britânico Jim Cheung, Vingadores: a cruzada das crianças envolve um relacionamento gay entre dois personagens de um grupo de mutantes conhecido como Jovens Vingadores, Wiccano e Hulking. É o 66º volume da Coleção Oficial de Graphic Novels Marvel, lançada no Brasil em 2016 pela Editorial Salvat em parceria com a Panini Comics. A série é uma coleção de arcos clássicos de super-heróis da Marvel publicada originalmente nos Estados Unidos em 2010.

De acordo com Mario César, esse movimento das autoridades já aconteceu antes. O artista lembrou pelo menos dois casos, ambos ocorridos em 2009. Em um, o então governador de São Paulo, José Serra, mandou recolher mais de 1.200 exemplares de uma antologia de quadrinhos de futebol, Dez na área, um na banheira e ninguém no gol, que fazia parte de um programa educacional, por conter palavrões e apologia a uma facção que atua dentro dos presídios. Em outro, professores no Paraná e de São Paulo solicitaram que o Ministério da Educação recolhesse a graphic novel Um contrato com Deus, de Will Eisner, incluída no Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), de bibliotecas escolares.

“Infelizmente, esse caso de A cruzada das crianças não é isolado. Felizmente, neste caso, o tiro saiu pela culatra, porque o álbum acabou esgotando. Aliás, se ele quiser falar mal de meu trabalho, também, vou agradecer”, brinca ele.

Designer gráfico de formação, Mario César desenha quadrinhos desde 2006. Homossexual assumido e ativista, ele adotou a temática LGBTQ+ em seus trabalhos em 2013, quando lançou Ciranda da solidão, que reúne cinco histórias ligadas a esse universo. Também destaca a série Bendita cura, que trata de casos envolvendo a “cura gay”, cujo segundo volume está em fase de angariar verba por meio de financiamento coletivo.

Para o quadrinista, a solução para evitar casos como esses é simples e complexa ao mesmo tempo:

“É preciso parar de misturar política e religião”, diz ele. “As leis têm de valer para todo mundo, de forma igualitária.”


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Helio Gama Neto