O que uma série água com açúcar ensina sobre comunicação empresarial
PODER360 – 20/03/2021
Carlos Dias
Quem me conhece sabe que sou meio avesso às séries, particularmente comédias românticas água com açúcar. Mas dia desses, sei lá porque cargas d’água, zapeei no Netflix “Emily em Paris”. E gostei. Muito.
Popular entre adolescentes, “Emily em Paris” recebeu duas nomeações ao Globo de Ouro, nas categorias Melhor Série de Comédia ou Musical e na de Melhor Atriz de Série de Comédia ou Musical, com a atriz Lily Collins. A primeira indicação gerou algumas indignações porque a série, apesar de aclamada pelo público, não agradou muito a crítica.
Polêmicas à parte com os críticos de plantão, o trabalho vale a pena ser visto depurado conteúdo da história escrita para entreter. E há muito, particularmente de comunicação e marketing em tempos bicudos como o nosso, de covid-19, a aniquilar faturamento e vendas das empresas.
Para não perder o hábito, listei algumas lições que me chamaram a atenção no seriado e compartilho com o leitor, se me permitem:
Influenciadores. Eles chegaram. Para o bem ou para o mal. E a série trata disto com maestria. Inbound Marketing na veia, para os conhecedores. A mídia tradicional fenece no Brasil e no mundo, mas os influenciadores não. Há uma ascensão avassaladora desta nova maneira de se comunicar com o público, que exige muito trabalho e sensibilidade.
Não importa o que você acha de nada, seu ponto de vista. Ouça o cliente, sempre. Não seja presunçoso, arrogante. Lá pelas tantas, em determinado episódio, a protagonista se vê acuada pelos patrões diante de uma campanha publicitária. Pede o óbvio: vamos ver o que nosso público acha com uma enquete no Twitter. E o jogo vira.
Avalie culturas diferentes e onde seu produto será colocado, principalmente agora durante a pandemia. O grande trunfo da série é mostrar as diferenças entre a cultura francesa e norte-americana. Este é o mote narrativo que permeia toda a história. E a conclusão inexorável de que nem tudo na vida, principalmente no mundo corporativo, é global, preto no branco. Há escalas de cinza que precisam ser respeitadas.
A atriz Lilly Collins explicita de forma inequívoca que não se pode viver ilhado. Conhecer pessoas, networking, ser arrojado nas iniciativas é uma premissa da protagonista. Em um momento em que vendas das empresas minguam, e o Brasil pontua com o maior número de mortes por covid-19 por dia no mundo, fazer contatos em plataformas digitais pode ser a diferença entre sobreviver ou morrer.
Uma das cenas hilárias da série –sem spoiler– é quando Emily quer ser uma influenciadora digital de uma importante empresária em Paris. E se vê disputando espaço com centenas de influenciadoras com muito mais seguidores que ela. O que fazer? Criatividade, pensar fora da caixa. E dá certo. O que faz pensar sobre audiência quantitativa e qualitativa nas redes sociais em relação ao seu produto e empresa. Trocando em miúdos, mais vale poucos seguidores com poder de compra, decisão, do que milhares que nada somam sem a chamada “conversão digital”.
O politicamente correto é uma via de mão dupla. Esse tema perpassa boa parte da trama. O que é assertivo para o francês não necessariamente é para o norte-americano. A cultura pesa, e muito. E, embora a balança penda para as ideias da protagonista, o lado francês tem sua força. Em outras palavras, não julgue seus produtos, conceitos e sua forma de fazer marketing com o seu olhar somente, seu ponto de vista. Tenha uma visão holística do problema. Sempre.
Ouso acrescentar mais 3 opiniões que não estão contempladas na série, presumivelmente feita antes da pandemia. Já expus em outro artigo, mas reviso agora:
Home office. Chegou para ficar, não há como escapar dessa nova realidade. As agências de comunicação, para lidar com a pandemia, e também as empresas, implementaram o trabalho em casa. Há uma série de implicações de cunho social –e mental– nisto, mas há também algo inexorável: custo. Os CFOs (Financeiro) das empresas estrangeiras e brasileiras se deram conta do óbvio: não são necessários escritórios nababescos e uma infraestrutura logística por vezes abusiva para fazer o trabalho. Já se nota isto, de forma bem sutil, na série.
Lives. Uma saraivada de lives (eventos ao vivo) para tudo quanto é canto. Algumas boas, outras desnecessárias. A própria mídia aderiu ao formato. E as agências de comunicação apressaram-se a expor seus clientes ao público externo e interno. Uma tendência, como os podcasts, que vai perdurar.
Métricas, algoritmos e KPIs. Em bom português, marketing digital que tenha eficiência e seja auditável. Nunca na história os comunicadores tiveram tantas formas de mensurar seus trabalhos. Nunca! E há um admirável mundo novo a ser descoberto. E muito pouca gente de fato qualificada para a tarefa, que requer aprendizado diário, intenso. São raras as empresas brasileiras e agências de comunicação que investem em Business Inteligence. Custa caro. Mas é indispensável quando se observam os resultados. Emily em Paris prova isto.
Comunicação voltada para vendas. Um paradigma em tempos de covid-19. E não há como escapar: se o faturamento cai, fatalmente a comunicação é chamada para redirecionar seus trabalhos. Vendas, vendas e vendas. O instinto de sobrevivência para não fechar as portas das companhias. Marketing institucional, de reforço de marcas, ficou para o segundo tempo.
E está dito o necessário!
Bônus a jornalistas com base em audiência e cliques em matérias provoca discórdia entre Guardian e Daily Telegraph e abre debate sobre privilégios e estímulo ao sensacionalismo
Presidente do sindicato classifica ideia de “insensível”
Jornalistas do Telegraph não gostaram da ideia
Por Luciana Gurgel | MediaTalks, Londres | @lcnqgur
19.03.2021
Acostumados a estar em lados opostos do espectro político, dois grandes jornais britânicos trocaram farpas nos últimos dias por outro motivo: a ideia de remunerar os jornalistas com base em métricas como a audiência de suas matérias e os cliques para venda de assinaturas a partir delas.
O projeto é do Daily Telegraph, alinhado ao Partido Conservador. E ganhou destaque nas páginas do The Guardian, de esquerda, desencadeando intenso debate nas redes sociais e nos meios jornalísticos sobre o risco de estimular o sensacionalismo e de prejudicar quem escreve sobre temas menos populares, que passaria a ganhar menos do que colegas escalados para grandes pautas.