Lulu Skantze: Como o movimento offline pode colaborar com as revistas impressas (e vice-versa)?

Lulu Skantze: Como o movimento offline pode colaborar com as revistas impressas (e vice-versa)?

8 de julho de 2024
Última atualização: 17 de setembro de 2024
5min
Juvens brancas de cabelos ruivos leem livros e revistas em ambiente aconchegante movimento offline
O movimento offline tem atraído principalmente os jovens. Imagem: Freepik
Márcia Miranda

Lembram da nossa coluna sobre a palestra da Irene Smit, da revista holandesa Flow, mencionada na Newsletter Aner, sobre a FIPP? Ela citou várias referências e dados para contar porque as revistas impressas estão ganhando mais espaço por aqui e atraindo as gerações Z e os millenials, com o movimento offline.

Entre os citados está o “Offline Club”, um movimento fundado na Holanda, em 2018, que incentiva a redução do tempo diante das telas. O clube promove um retorno às interações reais e tangíveis, organizando eventos que encorajem a “desconexão digital” na prática.

O clube foi concebido por um grupo de profissionais de diversos setores, como tecnologia, educação e saúde, que observaram o impacto dos dispositivos digitais na saúde mental, na produtividade e nas relações pessoais. O objetivo é criar uma comunidade que promova o uso consciente da tecnologia.

“Em uma era de saturação digital, os especialistas perceberam que havia um desejo mais amplo da sociedade de recuperar tempo e atenção do ritmo implacável da mídia digital”.

Lulu Skantz

Conexão genuína mesmo durante a pandemia

O primeiro evento do Offline Club na Holanda aconteceu no Café de Ceuvel, uma área alternativa no norte de Amsterdã, ainda em 2018. O evento tinha uma programação que incluía tempo para reflexão pessoal, socialização e atividades em grupo, promovendo um ambiente livre, sem telas e uso de tecnologia.

Este evento marcou o lançamento de uma série de encontros do movimento offline, com o objetivo de promover conexões genuínas, longe das distrações digitais, nos anos seguintes.

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Durante o lockdown, o Offline Club teve que se adaptar às novas circunstâncias impostas pela pandemia. Eles passaram a organizar eventos virtuais, que incluíam sessões de meditação online, workshops de desintoxicação digital e atividades em grupo projetadas para ajudar as pessoas a se desconectarem de suas telas “virtualmente”, enquanto permaneciam seguras em casa.

Parece contraditório, mas diante de um lockdown bastante rígido eles mantiveram o objetivo de ensinar as pessoas a se desconectarem e se concentraram em fornecer recursos e dicas para gerenciar o tempo de tela e manter o bem-estar mental durante o período.

Crescimento e Popularidade: 1 milhão de visualizações no Instagram

Desde a sua criação, o Clube Offline teve um crescimento notável. Em 2024, o clube conta com mais de 50 mil membros em toda a Holanda, além 265 mil seguidores no Instagram. Em fevereiro deste ano um dos posts no Instagram viralizou, atingindo quase 1 milhão de visualizações e o movimento cresceu exponencialmente.

O calendário de eventos se expandiu – e muitas das atividades estão regularmente esgotadas. Encontros em cafés, hobbies, workshops, jantares à luz de velas e retiros de desintoxicação digital são realizados em grandes cidades como Amsterdã, Roterdã e Utrecht.

Esses eventos oferecem aos membros oportunidades de se conectar sem a interferência de telas, promovendo um senso de comunidade e propósito compartilhado – e a maioria não é gratuita! Além disso, mais de 70% dos membros participam de pelo menos um evento por trimestre, e a idade média é entre 25 e 30 anos.

Qual o impacto do movimento offline nos Canais de Mídia?

Por que isso nos interessa? O ressurgimento de movimentos como o Offline Club apresenta uma oportunidade única para os canais de mídia. À medida que as pessoas buscam equilíbrio e tempo para ter atenção e foco, dentro do movimento offline, há um apetite crescente por conteúdo que apoie esses valores.

Em muitos dos eventos os participantes leem juntos – revistas e livros – e conversam sobre o conteúdo.

“Qual a última vez em que você observou um grupo de jovens num espaço público onde todos estavam lendo mídia impressa? Imagine essa cena e comemore comigo!”

Lulu Skantze

Além de inspirar a criação de um conteúdo que se alinha aos princípios do detox digital, revistas como a Flow apostam na qualidade dos papéis e das texturas e de materiais para hobbies que engajem ainda mais os seus leitores. É também uma possibilidade de criar revistas até luxuosas porque existe valor na qualidade do material.

Esse segmento de audiência ainda é um nicho relativamente pequeno, por enquanto, mas está em crescimento. Ele pode levar ao aumento das taxas de assinatura e a uma audiência leal. Afinal, esses hábitos tendem a ser mais duradouros.

Envolvimento com o público e defesa do saudável movimento offline

O crescimento desse movimento aqui na Holanda exemplifica um anseio coletivo por equilíbrio e conexões humanas mais profundas. Para os canais de mídia, abraçar e apoiar este movimento oferece um caminho para envolver o público de maneira significativa, enquanto promove um uso mais saudável e intencional da tecnologia.

Por aqui, o resultado está visível nas bancas: mais livrarias especializadas, a volta de revistas disponíveis em cafés (elas haviam desaparecido!) e mais revistas independentes e muito legais. Além da Flow, vale a pena conferir a Happinez, também holandesa, e a Daphne’s Diary, que ensina os leitores mais jovens a fazer diários e atividades manuais.

Na verdade, parece que essas experiências vêm de outra era, mas começaram por aqui em 2012! A Simple Things, Breathe and Happiful (britânicas) também merecem ser citadas. Esse é apenas o começo, o movimento de desconectar-se não há de ficar só por aqui… e quem ganha com isso, é a mídia impressa!

Até a próxima!

Márcia Miranda
Administrator
Acredita que boas ideias precisam ser compartilhadas. Formada em Comunicação Social, Jornalismo, pela Universidade Federal Fluminense (RJ), iniciou carreira em redação em 1988 e por 24 anos (até 2012) trabalhou em veículos como Jornal O Globo e Agência O Globo, Editora Abril, Jornal O Fluminense, Jornal Metro. Em 2012 iniciou o trabalho como relações públicas e assessora de comunicação, atuando para clientes em áreas variadas, como grandes eventos (TED-x Rio, Réveillon em Copacabana, Jornada Mundial da Juventude, Festival MIMO), showbiz, orquestras, entretenimento e assessorias institucionais como o Instituto Innovare. É empreendedora e, em dezembro de 2021, criou a Simbiose Conteúdo, uma empresa que presta serviços e consultoria em comunicação para associações como Aner, Abral e Abap e divisões internas da TV Globo.