Jornalismo independente e publicidade
CORREIO BRAZILIENSE – 01/04/2019
Fábio Petrossi Gallo
Quando se fala em liberdade de imprensa e em como ela é importante para a democracia, pensamos logo no trabalho cotidiano dos jornalistas, nas revistas, jornais, emissoras de rádio e de televisão e nos sites de notícias. É mesmo muito forte a imagem do repórter que se dedica a descobrir aquilo que se quer encobrir, para que os cidadãos saibam o que está acontecendo. A atividade de apurar os fatos, editá-los e contextualizá-los e de levar as notícias ao público é uma nobre missão, em favor de toda a sociedade e da democracia.
Um mundo sem o livre exercício do jornalismo seria opaco, obscuro, incapaz de ser enxergado ou entendido. Por isso a liberdade de imprensa é um direito de todos nós, muito mais do que dos jornalistas e das empresas jornalísticas.
O que não nos lembramos quando se fala na importância do jornalismo profissional e de qualidade é do seu modelo de negócios, na forma como ele é financiado. Jornalismo é atividade cara, que demanda investimento em bons profissionais, equipamentos, recursos tecnológicos, viagens e tempo. A imprensa no Brasil, como em tantos outros países no mundo, sobretudo nas democracias mais consolidadas, sempre teve como principal fonte de receita a publicidade. As assinaturas das revistas e jornais ou a venda nas bancas também é fonte de receita, mas em uma proporção muito menor.
Com a revolução provocada pela internet e as mídias digitais, e o verdadeiro duopólio do Google e Facebook, caíram os investimentos publicitários nos veículos de jornalismo, mesmo em suas plataformas digitais. Tanto é assim que jornais e revistas, em todo o mundo, se voltam cada vez mais a buscar receita nas assinaturas digitais. No entanto, a receita publicitária é e certamente continuará sendo um pilar essencial do modelo de negócio do jornalismo profissional, de que tanto precisamos para entender o mundo que nos cerca, para ter uma visão crítica deste mundo e para tomar nossas decisões.
Fundamental também para que o jornalismo seja feito da forma mais independente possível é que os veículos tenham anunciantes diversificados, de modo a não ter poucas fontes de receita. Quanto maior a diversidade de anunciantes, mais saudável financeiramente será o veículo jornalístico, mais resistente a pressões ou boicotes. Por isso, também, que jornalismo independente e profissional é atividade típica de economias prósperas, com um setor privado forte, como ocorre nas democracias, nos países onde é livre a iniciativa empresarial.
Garantida essa pulverização das receitas vindas dos anunciantes, o veículo só não deve contrariar o interesse dos seus leitores, que podem a qualquer momento virar as costas a ele, vulnerando aquilo que as empresas anunciantes mais desejam: um eficaz canal de comunicação com seu consumidor.
Trata-se de um círculo virtuoso: o veículo atrai os leitores pela sua independência e qualidade, que atraem os anunciantes, que proporcionam aos veículos as melhores condições para continuar sendo independentes, atendendo aos interesses dos seus leitores.
Um mercado publicitário vigoroso e dinâmico, portanto, é essencial para o jornalismo independente, profissional e de qualidade que tanto admiramos. Temos no Brasil uma das mais criativas publicidades do mundo, gerando resultados concretos para as empresas anunciantes e contribuindo para a pujança da economia. Grande parte desse vigor decorre do modelo brasileiro para o setor, amadurecido por décadas desde o século passado e coroado pela criação do CENP, o Conselho Executivo das Normas-Padrão. O CENP, que acaba de completar vinte anos de bons serviços à publicidade e ao país, é peça decisiva na preservação do modelo e, por consequência, elemento fundamental para uma imprensa independente.
Que esse modelo com eficiência comprovada siga adiante, em benefício do mercado de comunicação brasileiro, do jornalismo independente, de nós, cidadãos que tanto precisamos do trabalho jornalístico, e, em última análise, da própria democracia.
Presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner) e diretor de operações na Editora Globo.