História do GLOBO é pautada pelo pioneirismo e pela missão de informar

História do GLOBO é pautada pelo pioneirismo e pela missão de informar

29 de julho de 2020
Última atualização: 29 de julho de 2020
Helio Gama Neto

O GLOBO – 29/07/2020

João Roberto Marinho

Comecei no GLOBO como estagiário em 1973, e esse fato me faz constatar que participo ativamente da vida do jornal há 47 anos, a metade dos seus 95 anos, portanto. Fui testemunha de muitas fases por que o jornal passou nesse período. E isso me faz um otimista.

Em 1973, o jornal enfrentava havia alguns anos com sucesso a concorrência da televisão, sendo já um saudável sobrevivente do rádio. Enfrentou a radiodifusão mantendo-se fiel à missão de informar com precisão e profundidade e ter a brasilidade como um valor fundamental. Houve mudanças aos longo desses 95 anos?

Muitas. Ganhou concorrentes em outras formas de mídia, deixou de ser vespertino, deixou de ter até oito edições diárias como era comum em grandes acontecimentos. E as edições “extras” foram rareando até desaparecerem completamente.

Paixão pelo ofício:profissionais contam como é trabalhar no GLOBO e ajudar a levar a informação adiante

Mas, matutino, investiu cada vez mais no jornalismo profissional, o que resultou em informação de alta qualidade: reportagens aprofundadas, análises que contextualizam e investigações que levam à notícia exclusiva, o “furo” no jargão jornalístico. Furos que acabam repercutindo fortemente nas mídias concorrentes.

Meu pai foi um realizador, e sua obra fez com que muitos o vissem no fim da vida como um empresário mais do que como um jornalista. Mas quem conhece a história do GLOBO sabe que ele não se assinava “jornalista Roberto Marinho’’ à toa. Durante décadas, sua mesa era na redação, onde coordenava coberturas, lia textos, editava o jornal. Tinha prazer na atividade, tinha vocação. Não deixou de ter nunca. E por isso cercou-se sempre dos melhores talentos, equipes que deram a alma pelo jornal e pelo jornalismo e ajudaram a construir o nome e a reputação do jornal. Sem essas equipes, não haveria O GLOBO que temos hoje e o que teremos no futuro.

Roberto Marinho percebeu, cedo também, a importância da tecnologia para o jornalismo. O GLOBO foi sempre um pioneiro: o primeiro jornal brasileiro a ter radiofoto, a ter telefoto, a ter telefoto colorida. Um dos primeiros, entre os grandes, a informatizar a redação e o processo de editoração. E a trazer cores para todas as suas páginas.

Participei ao lado dele de algumas dessas transformações e liderei outras tantas, sempre com o espírito que aprendi com ele: acolher o futuro com a confiança de quem soube superar os desafios do passado.

Foi assim na chegada da internet comercial ao Brasil em 1995. Já no ano seguinte, O GLOBO lançava sua versão on-line, moderna, ágil, completa, contemporânea do seu tempo.

O GLOBO entendeu, desde o início, que a versão digital não era um complemento estático, mas a versão viva do jornal impresso. A ideia, nós dizíamos então, era que o on-line nascesse do impresso e fosse sofrendo modificações, acréscimos, incorporando os novos fatos até que se transformasse no que o impresso seria no dia seguinte. Um círculo contínuo, perfeito. Com a evolução natural do novo meio, o on-line ganhou funcionalidades, uniu som, imagem e texto a serviço do jornalismo, com interação instantânea com o público e uma capacidade infinita de abrigar conteúdos.

Esse movimento tem já um quarto de século, já é História.

Não cabe mais, portanto, contrapor a versão impressa à versão on-line como se fossem duas realidades distintas. Não são. Nunca foram. As experiências de consumo de uma e outra são diferentes, mas, hoje mais do que nunca, a essência de uma está na outra, e essa essência é a missão do jornalismo profissional: informar com absoluta independência, isenção, correção e destemor. Essa essência é perene, não importa o meio.

E, no mundo de hoje, necessária.

A Era Digital permite maravilhas, as redes sociais tornam possível que pessoas do mundo inteiro se conectem, e isso é fascinante. Mas há um lado sombrio: torna também possível que boatos sejam travestidos de notícias, narrativas ficcionais sejam vendidas como realidade, inverdades passem por fatos. Tudo isso com os objetivos mais deploráveis e com um efeito maléfico sobre as democracias. Não há melhor remédio para isso do que o jornalismo profissional, agindo de tal forma que leve o público a poder diferenciar o que é ficção e o que é realidade.

A Era Digital não enfraquece o jornalismo, mas o fortalece, portanto. Desde que a atividade seja fiel aos seus princípios, que vale a pena repetir: buscar a verdade com independência, isenção, correção e destemor. Por que destemor? Porque é preciso dizer a verdade sem medo.

Sem medo dos poderosos, sem medo de grupos de pressão, sem medo de contrariar a moda da vez. Sem medo de desagradar inclusive ao seu público, que cresceu de forma exponencial com a internet. Nesse mundo de pessoas conectadas, em que a tendência é permanecer em bolhas de amigos, de semelhantes, de pessoas que pensam igual, o jornalismo tem o dever de buscar a verdade, mesmo à custa de irritar parte de seu público num ou noutro momento. Porque a irritação é passageira. Desaparece quando o público percebe e entende que a intenção é apenas informar. E que a verdade se impõe.

O GLOBO foi a casa em que meus irmãos, Roberto Irineu e José Roberto, e eu nos formamos — embora eu tenha permanecido mais tempo, nós três iniciamos nossa trajetória profissional na sua redação. Vêm dessa experiência o nosso compromisso com o jornalismo, o nosso entusiasmo por essa atividade e a nossa crença de que ela é fundamental para as democracias.

Acreditamos que foi o bom jornalismo o que trouxe O GLOBO aos dias de hoje.

E que é o que o levará ao futuro pelos anos que virão.

* João Roberto Marinho é presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo.


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Helio Gama Neto