Fake News e desinformação: em Portugal, maiores atingidos são os seniors
20 de julho de 2022
A gerente de projetos da Associação Portuguesa de Imprensa, Nadine Santos, foi a convidada do Café com Aner desta terça-feira, 19 de julho. Durante o bate-papo com publishers, jornalistas e demais convidados, Nadine falou sobre como o público e as instituições têm lidado com as fake news e a desinformação em Portugal. Segundo ela, o público que tem mais dificuldades em identificar e diferenciar os tipos de informações são os seniors.
“Muitos consomem informação apenas de televisão e conseguem confundir uma reportagem jornalística, com um programa de entretenimento, assim como notícias com opinião. Eles assumem como verdade o que falam os líderes famosos de TV, não conseguem procurar informações por outros meios e têm dificuldade em analisar as informações”, conta.
Primeiro contato com Aner foi no Fipp World Media Congress
O contato com Nadine é fruto da participação da Aner no Fipp World Media Congress, em junho. A gerente de projetos agradeceu pela disposição da Aner e da diretora-executiva, Regina Bucco, de ampliar a troca de informações entre as instituições.
Veja aqui um vídeo de Nadine durante o Congresso
A conversa no Café com Aner também serviu para que Nadine mostrasse sua disposição em ampliar os esforços contra a desinformação e para promover a educação midiática em todos os países de língua portuguesa:
“Às vezes há barreiras territoriais que não são boas. Os problemas são comuns em todos os lugares. O contexto pode ser diferente, mas o problema é comum”, afirma. “As pessoas estão mais preocupadas com clima, inflação, qualidade de vida, que são causas mais maiores, mas é preciso mostrar que esta também é uma causa maior e que a democracia é a raiz de tudo. A informação é a raiz. Se não estivermos bem-informados não conseguimos viver bem”.
Jovens não têm paciência
Nadine explicou ainda que, no caso dos jovens, o que pesa é o excesso de informação. Por passarem muitas horas conectados, eles são bombardeados o dia inteiro por conteúdo e ficam com preguiça de ler textos mais longos.
“Os jovens não têm paciência. Absorvem muita informação e em algumas vezes só leem as hashtags. No entanto eles gostam de compartilhar as informações, para mostrar que são participantes ativos e corteses. O problema é que eles não avaliam, antes de compartilhar e acabam por criar um mar de informações antagônicas preocupantes”.
Para combater esses comportamentos, Nadine dedica-se a desenvolver projetos de Educação Midiática através da Associação Portuguesa de Imprensa (APImprensa). Fundada em 1960, a APImprensa é a maior e mais representativa associação empresarial de Imprensa em Portugal. Com mais de 200 empresas associadas, representa cerca de 450 títulos de âmbito nacional, regional, especializado, técnico-profissional e digital.
Cultura do cancelamento
De acordo com Nadine, assim como o Brasil, Portugal também sofre com os impactos da desinformação e fake news em vários segmentos. Respondendo a uma pergunta acerca da lei de liberdade de expressão e do abuso político sobre o conteúdo produzido pela imprensa local, ela afirmou que alguns políticos também já passaram pelo cancelamento.
“Eu não diria que a imprensa sofre algum tipo de interferência, mas alguns políticos portugueses já foram cancelados. É um fenômeno de todo o mundo. Portugal não ficaria de fora”, afirma, explicando, sobre o processo eleitoral, que em seu país as campanhas eleitorais ainda são mais analógicas que digitais.
“Existe um pouco de ambas e há muita propaganda política impressa. Muitas fake news em panfletos. Mas também existe o digital. Embora sejamos ainda pequenos no Twitter e as coisas aconteçam mais no Instagram e no Facebook, elas também se tornam virais”, conta. “A propaganda política em Portugal ainda é muito tradicional, há muito papel, brindes e a população pode ser muito manipulada. Por isso a mídia tem um papel fundamentar de entrar e educar sobre a importância da notícia”, destaca.
Mensuração de resultados em Portugal
Se no Brasil o número de seguidores das redes deve ser superior ao 1 milhão, para que a página de rede social seja atrativa para anunciantes de grandes marcas, em Portugal, esse número é quase inatingível. De acordo com Nadine, lá, as redes também são avaliadas pelo nuimero de seguidores, mas as marcas observam, ainda, as parcerias construídas, o número de eventos e o engajamento do público.
“As páginas mais bem conceituadas e com maior credibilidade são as que fazem mais eventos e têm mais força dentro do seu propósito, os nichos de público”.
Educação midiática na universidade
A presidente do Palavra Aberta, Patricia Blanco, perguntou sobre a educação midiática promovida pela Universidade do Porto e Nadine destacou a importância de disseminar o conhecimento em todas as instâncias.
“A educação midiática com os jovens funciona sim e se não funcionar, é sinal que está sendo mal-feita. Nosso ministério de Educação está preparando uma cadeira cross media, uma iniciativa financiada pela União Europeia. Há muita atenção a isso. Tem que haver conscientização. Professores, jornalistas, todos os agentes ao lado da informação têm que ter atenção às notícias falsas”.
O bate-papo também serviu para estreitar as relações da Aner e do Palavra Aberta com a APImprensa e as instituições prometeram, nos próximos meses, estudar ações conjuntas para combate a desinformação.
Veja alguns dos links que Nadine compartilhou durante o bate-papo:
Associação Portuguesa de Imprensa – Maior e mais representativa associação patronal de Imprensa em Portugal. Com mais de 200 empresas associadas, representa cerca de 450 títulos de âmbito nacional, regional, local, técnico-profissional e especializado.
Media Veritas – Programa de combate à iliteracia mediática, contra a manipulação jornalística e a desinformação promovido pela associação portuguesa de imprensa em parceria com o google.org e financiado pela Fundação Tides.
Fact Checking – Projeto europeu conjunto de verificação de fatos, cofinanciado Pelo Programa Erasmus da EU, desenhado por oito universidades europeias para atender a necessidade de novas habilidades na educação.
Media Trust Lab – Estudo pioneiro sobre desinformação em Portugal, procurando identificar e analisar estratégias e práticas de fact-checking por jornalistas locais e a potencial colaboração das audiências dos media locais no processo. Por meio de treinamento, promoção de ferramentas digitais e um aplicativo móvel, este projeto de pesquisa também visa a instruir jornalistas e público a checar fatos de forma mais eficaz e eficiente. Conta com a participação do centro de investigação LabCom – Comunicação e Artes, da Universidade da Beira Interior e da Universidade de Coimbra.
Observatório da Comunicação (OberCom) – Centro de investigação centrado na análise das dinâmicas comunicacionais contemporâneas. Pioneiro na investigação sobre media digitais e no mapeamento das dinâmicas evolutivas da Internet, redes sociais e outras estruturas digitais de mediação, o OberCom tem por missão a produção de conhecimento e a mediação de um debate aberto, envolvendo académicos e especialistas, principais atores na indústria da comunicação em Portugal e público em geral.
Educação para cidadania – Projeto que pretende incentivar os alunos a utilizar e a interpretar os meios de comunicação social, no acesso e na utilização das tecnologias de informação e comunicação, visando a adoção de comportamentos e atitudes adequadas a uma utilização crítica e segura das tecnologias digitais. Ensina valores como imparcialidade, verdade e compromisso com a ética.
Entidade Reguladora para a Comunicação (ERC) – Tem como objetivo a regulação e supervisão de todas as entidades que prossigam atividades de comunicação social em Portugal.
Se você quer ver mais dicas sobre como combater fake news e desinformação, clique aqui e veja a íntegra do bate-papo no YouTube da Aner.
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