Empresas de tecnologia miram na última fronteira do streaming: o ao vivo

Empresas de tecnologia miram na última fronteira do streaming: o ao vivo

12 de junho de 2019
Última atualização: 12 de junho de 2019
Helio Gama Neto

EXAME – 12/06/2019

Maria Eduarda Cury

Após quase uma década do início das transmissões de filmes e séries pela internet – serviço chamado de streaming -, a era do ao vivo está chegando. Como exemplo, é possível observar que o mundo futebolístico está experimentando outros campos além da televisão. Disputas clássicas, como o embate Manchester United x Barcelona, deixaram de serem exclusivas dos canais abertos e/ou fechados e passaram a utilizar um meio bastante incomum para os fãs de longa data do esporte, a rede social Facebook.

No Brasil, o acesso ao conteúdo esportivo está concentrado em mídias pagas (como os canais de televisão ESPN, SporTV e Rede Globo) e em serviços pagos que disponibilizam uma determinada quantidade de jogos (como o Esporte Interativo e a plataforma DAZN), A mudança para a internet pode significar que mais pessoas terão o direito de ver ao vivo o jogo do time de coração, visto que mais de 98% da população brasileira possui um celular, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).

No entanto, esse não é o único motivo pelo qual a alteração de meio de transmissão pode ser favorável. Em um ambiente virtual de transmissão ao vivo, o torcedor pode interagir diretamente com outros que compartilham da mesma paixão – embora não estejam no mesmo ambiente físico, é uma experiência mais interativa do que assistir ao jogo sozinho em seu apartamento. É possível, ainda, utilizar o dispositivo que preferir, seja este seu smartphone, computador ou até a Smart TV, sem que seja necessário pagar um canal mensalmente – o que pode custar até 100 reais, dependendo da operadora de TV paga.

O Facebook Watch, plataforma de vídeo da companhia americana, já transmitia esportes para países como os Estados Unidos, onde tem os direitos para exibir jogos de beisebol. Para trazer aos fãs brasileiros um conteúdo de qualidade, o Facebook fez um contrato com o canal Fox Sports para transmitirem a Copa Libertadores da América, maior campeonato de futebol sul-americano. Isso significa que os comentaristas, câmeras e toda a estrutura permanece sendo da Fox, e a rede social atua como um distribuidor para uma audiência maior.

Os números são expressivos, porém baixos se comparados com a audiência televisiva. Para ter uma melhor noção de quantas pessoas são atingidas em cada plataforma – televisão ou rede social -, é possível ter como ponto de observação os jogos do clube carioca Flamengo. Neste ano, a maior audiência que o time recebeu sendo transmitido pela televisão foi de 24,7 milhões, enquanto 7,6 milhões de torcedores utilizaram a plataforma de vídeo do Facebook. Ambos os jogos foram durante a Libertadores.

A América do Sul não é a única a ter a transmissão via Facebook Watch. Na Europa, a Liga dos Campeões teve seus direitos de transmissão divididos com o serviço do Esporte Interativo, e bateu seu próprio recorde de audiência. A eliminação do Barcelona no campeonato europeu levou 1,1 milhão de pessoas ao Facebook – cerca de 1.000% a mais do que a capacidade do Camp Nou, estádio do Barcelona – e a disputa Liverpool x Tottenham, que ocorreu no último dia 1, acumulou mais de 5 milhões de visualizações.

Leonardo Cesar, cofundador do Esporte Interativo e responsável pelos esportes no Facebook, disse a EXAME que a motivação para trazer o ecossistema esportivo para a rede social foi o aumento da comunidade. “Temos uma comunidade global de mais de 700 milhões de fãs de esportes no Facebook, sendo o futebol o esporte mais seguido na plataforma, com 400 milhões de fãs. O Brasil é, inclusive, o país com o maior número de fãs do esporte no Facebook.”

Em nota, o Facebook relatou que mais de 140 milhões de pessoas acessam o seu serviço de streaming ao vivo por dia. Além disso, 24 milhões de latino-americanos acessaram o serviço para assistir a Liga dos Campeões, visto que 67% destes possuíam menos de 35 anos – o que significa que mais da metade dos usuários do Facebook Watch na América Latina são jovens.

No entanto, nem tudo são flores. Apesar da qualidade da imagem proporcionada pela transmissão virtual ser superior, os fãs correm o risco de gritar “gol” segundos depois que a bola entrou. Para um fã de futebol, escutar o vizinho gritar antes de você sequer ver o lance pode ser frustrante. De acordo com Victor Almeida, torcedor do Santos, a televisão ainda é superior para ver esportes como o futebol. “A imagem dos computadores já evoluiu, mas a experiência de ver em uma televisão sem atrasos é sem igual”, disse Almeida.
Outras áreas que adotaram o streaming ao vivo

Não foi só o futebol que adotou a transmissão ao vivo para seus eventos. Em maio deste ano, a Virada Cultural, que ocorre anualmente em São Paulo, teve seus principais shows transmitidos pela plataforma Spcine Play, de maneira gratuita. Assim como o Facebook Watch, o único requisito era criar uma conta no site.

Em convenções e feiras, é comum que celulares e gravadores sejam proibidos, fazendo com que o conteúdo chegue só depois para os fãs que ficaram em casa. Porém, este ano, a E3, a maior feira de jogos eletrônicos do mundo, transmitiu os anúncios de grandes nomes no universo dos games – como EA e Xbox – pelas plataformas Twitch, YouTube, Facebook Watch e Mixer.

As perspectivas para o mercado de streaming, em nível global, são boas. Segundo dados da consultoria eMarketer, 44% das pessoas consultadas por um estudo – de maio de 2018 – realizado pela Divisão Interativa de Publicidade afirmaram que passaram a assistir menos TV em razão das transmissões online. No período de um ano, houve crescimento de 47% das pessoas que assistiam vídeos por streaming. O faturamento global desse mercado será de 70 bilhões de dólares, de acordo com a consultoria Research and Markets.

O streaming ainda tem espaço para aumentar a sua participação de mercado e levar o esporte e outros eventos para a população que tiver acesso à internet. Resta saber se ele irá desbancar ou coexistir com a mídia tradicional.


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Helio Gama Neto