Como manter a cultura organizacional viva em tempos de pandemia
ÉPOCA NEGÓCIOS – 18/01/2021
GUILHERME HORN
A pandemia do Coronavírus acelerou o processo de transformação digital nas empresas. O mercado avançou de cinco a dez anos, dependendo do segmento, da geografia, do comportamento do consumidor local, da maturidade da indústria. Independentemente do grau de aceleração, o fato é que estamos vivendo agora o que seria um futuro próximo.
Na era digital, a cultura organizacional é a grande vantagem competitiva das empresas. Produtos, processos e tecnologia podem ser copiados e melhorados. Os chineses, aliás, têm dado uma aula sobre como fazê-lo, sem preconceitos. Mas a cultura, que está por trás das empresas inovadoras, esta sim é difícil de replicar e, por isso, é uma vantagem sustentável. É a cultura que permite que a empresa se mantenha inovadora o tempo todo. É o chamado “secret sauce” de organizações como Apple, Google e Amazon.
Mas como manter a cultura organizacional num momento como este, com todos os times isolados, trabalhando em regime de home office? Como engajar novos colaboradores nos valores que formam a cultura numa rotina de isolamento? Este não é um desafio apenas para o RH das empresas. É um desafio para todos os gestores das organizações.
O processo de migração para o home office tem acontecido em três momentos distintos. Num primeiro momento, a preocupação foi com a tecnologia necessária para o trabalho remoto com eficiência e segurança. Em seguida, veio o foco no ambiente de trabalho. Questões como ergonomia dos móveis usados (cadeira principalmente), fones adequados, estímulos que prejudicam a produtividade, necessidade de exercícios físicos ao longo do dia. Agora entramos numa terceira etapa, onde a saúde mental é prioridade. E é neste estágio, em que o estado emocional dos colaboradores precisa ser cuidado, que a cultura enfrenta seu maior desafio.
As empresas realmente preocupadas com a preservação dos valores que compõem sua cultura organizacional têm buscado soluções alternativas nestes tempos de quarentena.
O balanço entre vida pessoal e profissional é um ponto de atenção importante. O home office que estamos fazendo hoje não é aquele que muitos faziam antes da pandemia. Este conta com toda a família dentro de casa, o que significa uma nova dinâmica. As atividades domésticas se misturam necessariamente com as profissionais, todos os dias. Os cuidados com a higiene são inéditos e impõem novos hábitos. Tudo é diferente daquele home office que muitos já praticavam, de forma espontânea e não, como hoje, como única alternativa possível.
A comunicação entre os líderes e seus times e entre os pares nas organizações ganhou uma relevância ainda maior. Os corredores e cafés dos escritórios não estão mais presentes e não servem como facilitadores da comunicação informal, tão presente em qualquer empresa. Os ambientes modernos, com pufes coloridos, salas de jogos ou áreas de descompressão não fazem mais parte do nosso dia a dia. Nos últimos anos, eles viraram espaços obrigatórios na maioria das organizações. E isto aconteceu porque as pesquisas acadêmicas e a experiência prática demonstraram que ambientes assim fomentam discussões que geram soluções inovadoras, ajudam a engajar as pessoas na cultura da empresa, unem os times e melhoram o clima organizacional. Esses encontros desestruturados são partes importantes do processo. E agora precisam ser substituídos por videoconferências alternativas.
Os esforços têm sido grandes para que as reuniões virtuais incorporem os elementos essenciais que ajudam a manter a cultura viva. Há grupos fazendo almoços virtuais, happy hours à distância, sessões motivacionais, webinars e cursos. Já começam a surgir plataformas tecnológicas que ajudam a organizar diversas dessas iniciativas. Tudo é válido para se testar nesse momento único e inédito. Não há na literatura acadêmica ou empresarial uma receita para líderes manterem a chama da cultura acesa numa situação como a atual. Por isso é importante testar. O ser humano tem uma grande capacidade de adaptação. É hora de usá-la para que se atravesse esta crise com o menor prejuízo à maior vantagem competitiva que uma empresa pode ter nos dias de hoje.