Codesinfo busca projetos de IA para melhorar dinâmica das redações

Estamos nos últimos dias para inscrições para a segunda edição do Codesinfo: até 13 de setembro. O Fundo de Inovação para o Jornalismo promovido pelo Projor com o apoio do Google News Initiative (GNI) mira em soluções baseadas em inteligência artificial para redações jornalísticas, dará mentoria e até R$ 160 mil para o desenvolvimento de projetos.
A ideia é descobrir e fomentar projetos inovadores, que utilizem a IA para o desenvolvimento de aplicações que possam ajudar a melhorar a dinâmica das redações. Também serão selecionados projetos que aprimorem produtos digitais e ampliem a colaboração e o intercâmbio de conhecimento no setor.
Conversamos com Francisco Rolfsen Belda, diretor de operações no Projor, para saber mais sobre essa iniciativa.
Por que a IA foi escolhida como o principal foco para esta fase do Fundo de Inovação para o Jornalismo?
A inteligência artificial se tornou um tema central no jornalismo por causa do potencial que traz para ampliar e qualificar o processo de apuração, análise e entrega das notícias. Por outro lado, há uma preocupação legítima sobre como isso tudo se encaixa nos valores do jornalismo: ética, credibilidade, checagem e o olhar crítico dos próprios profissionais.
O Codesinfo aposta na IA porque acredita que, daqui para frente, conhecer, adaptar e criar ferramentas nessa área será indispensável para quem quer produzir jornalismo relevante para diferentes públicos e proteger o espaço de autonomia dos jornalistas nesse processo. Vale lembrar que diversas entidades e iniciativas reconhecidas internacionalmente — como The Trust Project, Trust in News, WAN-IFRA e Online News Association —, além de associações brasileiras como ANER, ANJ, Abraji, AJOR e outras, já vêm debatendo formas de incorporar a IA de maneira responsável nas redações jornalísticas.
Qual o potencial da IA para transformar as redações e a produção de conteúdo no Brasil, na visão do Codesinfo?
Na visão do Codesinfo, o uso responsável da IA já representa uma assistência valiosa para jornalistas. Ferramentas baseadas em IA podem ajudar quem pauta ou faz reportagem a localizar fontes, encontrar e cruzar dados, perceber padrões antes escondidos, além de garantir mais tempo para as etapas criativas e analíticas do trabalho jornalístico. Aplicações desse tipo também podem agilizar várias tarefas de bastidores, como tradução de documentos, transcrição de entrevistas ou legendagem de vídeos. Mas o essencial é que essas soluções ajudem a potencializar — e nunca substituir — o olhar e a checagem criteriosa de repórteres e editores. O objetivo maior é dar suporte para que as equipes avancem ainda mais, respeitando sempre a autonomia dos produtores de notícia, os princípios editoriais seguidas pelas organizações e os compromissos éticos que são marca do jornalismo profissional.
Quais são as principais inovações que o Codesinfo espera ver nas propostas e como elas podem ser replicáveis para a comunidade jornalística?
O Codesinfo mantém as portas abertas para propostas de todos os tipos, valorizando a pluralidade do jornalismo brasileiro e a criatividade dos proponentes quanto ao uso da IA para aprimorar processos editoriais e produtos jornalísticos. Reconhecemos que as redações apresentam realidades bastante diferentes — do jornalismo comunitário às grandes empresas, dos grandes centros urbanos ao interior, do noticiário geral às coberturas especializadas — e isso pode inspirar propostas que escapam do convencional, explorando as vocações e necessidades específicas de cada organização. Seja por meio de projetos inéditos e originais ou pelo aperfeiçoamento de soluções já existentes, o essencial é que as propostas sejam viáveis, inovadoras, práticas e replicáveis, servindo também para outras organizações do setor no futuro.
Como o Codesinfo garante que as soluções desenvolvidas sejam de fato acessíveis a outros veículos?
Desde a seleção dos projetos, o Codesinfo estimula a criação de soluções abertas, de fácil adaptação e reaproveitamento por diferentes redações. A proposta submetida ao Fundo já deve apresentar um plano de compartilhamento, que é considerado um dos critérios de avaliação durante o processo seletivo. Com isso, o programa valoriza o intercâmbio livre dos resultados e o promove ativamente, por meio do acesso ao código, da documentação detalhada ou de oficinas e encontros para explicar tudo o que foi produzido. Neste sentido, o compromisso com o código aberto do software é fundamental: aquilo que foi desenvolvido com apoio do Fundo deve ser documentado e estar disponível para que qualquer organização ou profissional do setor possa se beneficiar. Assim, procuramos fazer com que os ganhos possam ir além dos projetos apoiados diretamente, fortalecendo todo o ecossistema do jornalismo no Brasil.
Quais são os critérios de mentoria e acompanhamento para que os projetos alcancem seus objetivos?
O acompanhamento no Codesinfo combina orientação próxima, avaliação de resultados e apoio técnico, tudo pensado para garantir que o ciclo de desenvolvimento de cada projeto seja viável e gere aprendizados tanto para quem participa como para o jornalismo brasileiro como um todo. Isso é feito por meio de reuniões regulares com gestores do Projor e com mentores selecionados conforme as necessidades técnicas e desafios de cada proposta. Há também uma preocupação grande em aproximar as equipes de jornalismo de profissionais de tecnologia ou design, criando times multidisciplinares e favorecendo a atração e retenção de talentos que podem renovar o setor. Diante da concorrência das grandes empresas de tecnologia no exterior, o Codesinfo entende que oferecer recursos e mentoria sólidos é fundamental para manter profissionais qualificados em áreas de ponta atuando a serviço do jornalismo brasileiro.
Em um cenário de combate à desinformação, como as inovações em IA apoiadas pelo Codesinfo podem contribuir para fortalecer o jornalismo de qualidade e a confiança do público?
O combate à desinformação foi o foco central da primeira edição do Fundo, lançada em dezembro de 2023, que recebeu e analisou 47 propostas, selecionando cinco projetos para serem desenvolvidos ao longo de 2024. Deles surgiram soluções como um chatbot especializado em mudanças climáticas, uma ferramenta para monitorar anúncios enganosos em saúde, um sistema para vídeos jornalísticos e plugins de verificação de fontes e atualização de contexto em reportagens. Agora, com o foco do Codesinfo em IA, a expectativa é fortalecer ainda mais o jornalismo profissional, aprimorando processos editoriais, aperfeiçoando métodos e rotinas de apuração, checagem e verificação, e reforçando a credibilidade das organizações por meio do uso responsável de protocolos sólidos para as ferramentas de IA e ampliando o alcance e o impacto de conteúdos qualificados.
O que ficou de lição importante da primeira edição do Codesinfo?
Uma das principais lições foi perceber que, mais do que desenvolver ferramentas, o diferencial está em compartilhar resultados, promover a troca de experiências e incentivar o surgimento de soluções tecnológicas criadas pelo próprio jornalismo. Ou seja, aprendemos que inovar em rede e compartilhar conhecimento pode ser tão desafiador quanto desenvolver tecnologia, ainda mais em um país grande e diverso como o Brasil, e especialmente quando se busca atender a uma comunidade de jornalistas sempre tão ocupada e demandada. Mesmo assim, ficou claro o quanto é essencial apostar nessa troca ampla para fortalecer o setor como um todo. Em síntese, o Codesinfo mostra que organizações jornalísticas podem, e devem, ser protagonistas no desenvolvimento de tecnologias feitas por e para jornalistas — não apenas como usuárias, mas como agentes criadores de sistemas e soluções que vão moldar o futuro do trabalho e das redações.
Para saber mais e se inscrever no Codesinfo visite o site www.codesinfo.com.br


