‘Cheap fakes’ horrorizam EUA e podem ser arma no Brasil em 2020

'Cheap fakes' horrorizam EUA e podem ser arma no Brasil em 2020

2 de julho de 2019
Última atualização: 2 de julho de 2019
Helio Gama Neto

ÉPOCA – 01/07/2019

Cristina Tardáguila

Em maio do ano passado, os fact-checkers do México foram convocados a checar um vídeo em que o então candidato à Presidência, Andrés Manuel López Obrador, aparecia falando lentamente diante das câmeras, como se bêbado estivesse. “No, no, nada. No puedo hablar”, repetia, demonstrando certo descontrole. Unidos em torno do projeto de colaboração Verificado , os mexicanos entraram em ação e concluíram que a gravação havia sido manipulada. Outras vozes no mesmo vídeo também estavam lentas, assim como o movimento de diversas pessoas ao redor do candidato. Conclusão: a adulteração era clara.

As lições deixadas pelo México, no entanto, não reverberaram nos Estados Unidos. Um ano depois, em maio de 2019, os americanos ficaram horrorizados quando foi publicado, em uma página no Facebook, um vídeo em que a deputada Nancy Pelosi, presidente da Câmara, aparece dando uma entrevista e falando de forma extremamente lenta. Pelosi parecia bêbada, mas obviamente não estava — como no caso de López Obrador. Quando o The Washington Post — sozinho — atuou para mostrar que a gravação havia sido manipulada, o vídeo já tinha sido compartilhado 28 mil vezes e acumulava 1,2 milhão de visualizações.

Conto esses dois casos para falar de três pontos. O primeiro deles é a triste constatação de como ainda é difícil fazer com que checagens de sucesso em um país cruzem fronteiras e sirvam de aprendizado para outras nações. Se os EUA e os americanos tivessem sabido sobre o falso vídeo de López Obrador bêbado, talvez não tivessem se assustado tanto com o “drunk Pelosi”.

O segundo ponto tem a ver com a ausência , em território americano, de uma coalizão para verificar as notícias falsas que circulam pelas redes sociais. No dia 18 de junho, o presidente Donald Trump anunciou oficialmente que tentará a reeleição e, na semana passada, houve debates intensos entre os mais de 20 democratas que disputam a vaga do partido nas primárias. Ao contrário do que ocorreu no México, com o Verificado, no Brasil, com o Comprova, na França, com o CrossCheck, e em muitos outros países, os checadores americanos não estão mobilizados para enfrentar a desinformação eleitoral de 2020 unidos, em um projeto de colaboração.

Por fim, um alerta que vale não apenas para americanos, mas para brasileiros também. Por um bom tempo, a comunidade de fact-checkers se preocupou com os “deep fakes”, vídeos falsos e cuidadosamente manipulados, um material considerado difícil de ser checado até mesmo por profissionais da área. Há alguns dias, a coluna Future Tense , da revista digital Slate, chamou a atenção para os “cheap fakes”, vídeos manipulados de forma tosca e sem muito cuidado, mas que, mesmo assim, viralizam e convencem as pessoas. Para agir contra estes, é preciso rapidez e sagacidade. As eleições municipais do Brasil em 2020 são terreno fértil para esse tipo de material.


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Helio Gama Neto