Brasileiro é digital e empreendedor, mas falta inovação, aponta McKinsey
ÉPOCA NEGÓCIOS – 08/04/2019
O Brasil é um dos países mais conectados do mundo. O brasileiro passa, em média, nove horas por dia online. Mesmo assim, o mercado digital local ainda sofre com a falta de inovação e infraestrutura.
É o que aponta estudo da consultoria McKinsey realizado em parceria com o evento Brazil at Silicon Valley. Em número de horas conectadas, o Brasil supera o México, vom 8,4 horas, a Argentina, com 8,2 horas, e até mesmo os Estados Unidos, com 6,3 horas. Isso pode ser resultado do alto número de brasileiros online. De acordo com o relatório, 67% da população brasileira está conectada. Em 2008, eram somente 34%. “O brasileiro está pronto para a revolução digital, mas falta infraestrutura e investimentos”, afirma Jordan Lombardi, um dos pesquisadores da McKinsey.
Em relação ao acesso, há variações consideráveis, dependendo da região do país e da remuneração do entrevistado. As famílias com maior renda têm quatro vezes mais chance de ter acesso à internet do que as de menor renda.
A velocidade média da internet, entretanto, ainda é baixa no país. O Brasil conta com uma média de 13Mpbs, bem abaixo da média global de 31Mpbs. Em regiões como América do Norte e Ásia, a média chega a 46 Mpbs.
Segundo o estudo, 44% do acesso à internet é feito por smartphones, principalmente para o uso de aplicativos de mensagens e redes sociais. O Brasil é o segundo colocado em números de usuários no WhatsApp e no Instagram. No Facebook e LinkedIn, o terceiro. A Netflix tem no Brasil a sua maior base de usuários de língua não-inglesa. Os brasileiros também são responsáveis pela maior produção de vídeos para o YouTube e o maior número de contas ativas no Waze.
Inovação
Os dados do relatório revelam que o Brasil ainda está atrás quando o assunto é inovação. Um dos argumentos apresentados pela pesquisa é a do registro de patentes. Enquanto no Japão um registro leva um ano para ser aprovado, no Brasil o empresário espera, em média, 14 anos. Não por acaso, em 2016 o Brasil registrou somente sete patentes, ante 456 do Japão.
A pesquisa também mostra quantas empresas de tecnologia estão entre as mais valiosas de cada país, comparando os resultados do Brasil com os de Estados Unidos e China, entre 2010 e 2018. No caso do Brasil, nenhuma empresa de tecnologia entrou para a lista das dez primeiras colocadas. A China teve duas empresas de tecnologia entre as dez mais valiosas; nos Estados Unidos, cinco empresas de tecnologia ocupam hoje os cinco primeiros lugares.
E-commerce
Do ponto de vista das pessoas jurídicas, pode-se dizer que os negócios digitais ainda estão pouco desenvolvidos no Brasil. O e-commerce representa apenas 6% das vendas no país, bem abaixo dos 20% da China ou dos 12% dos Estados Unidos.
Certas categorias de e-commerce ainda estão bem distantes do desempenho alcançado em mercados mais maduros. A pesquisa mostra que setores como bebidas alcoólicas, com penetração de apenas 1% no varejo digital brasileiro, e acessórios para casa, também com 1%, têm muito a crescer.
“Uma das maiores dificuldades no e-commerce no Brasil é a entrega. No Brasil, você não recebe uma encomenda no centro de São Paulo em menos de uma semana”, diz Nicola Calicchio, sócio e pesquisador da McKinsey.
O que pode ajudar é a conectividade do brasileiro, que sinaliza um grande potencial de crescimento para o mercado. Hoje, entre 35% e 45% das vendas online são feitas pelo smartphone. “Antes, o consumidor precisava estar ligado a um computador para consumir online, atualmente ele pode fazer isso de qualquer lugar”, diz Calicchio.
Entrevistado pelos autores do estudo, Felipe Almeida, gerente de anúncios de produtos de aplicativos do Google, acredita que os brasileiros tendem a adotar novas tecnologias com rapidez. “As empresas, especialmente as varejistas, têm tirado proveito dos aplicativos como extensões de suas operações digitais. Quando vemos os diferentes segmentos de mercado, varejo é o que tem a maior penetração de aplicativos”.
Perfil empreendedor
Segundo a McKinsey, o Brasil é um país empreendedor, com 39% de sua população economicamente ativa dona do seu próprio negócio. No entanto, o país está entre os menos favoráveis à abertura de novos negócios, ocupando a posição 109º em ranking do Banco Mundial, devido a entraves burocráticos, entre eles registro e pagamento de impostos.
A pesquisa mostra que dois terços dos empreendimentos acabam em cinco anos e que o custo de fechar uma empresa chega a ser 44% maior do que o de abrir. “No Brasil, não tem espaço para testes. Aqui no Vale do Silício, por exemplo, se a empresa dá errado, ele fecha e vai em busca de outra coisa. Vira a página”, diz Lombardi.
Apesar das dificuldades, alguns setores se destacam entre os novos negócios que dão certo. O mercado financeiro é um deles – principalmente as fintechs, que já chegaram a 400 no país. O crescimento do setor é favorecido pelos hábitos da população. Mais de 50% dos usuários usam ativamente serviços bancários online. 58% de todas as transações bancárias são virtuais. Além disso, mais de sete milhões de clientes já abriram contas em bancos digitais.