Lulu Skantze e as previsões: O que nos espera em 2025?

Quando Zuckerberg anunciou que a Meta não usaria fact-checkers em seus canais, não foi um bom começo de ano para canais de mídia e jornalistas nos quatro cantos do planeta. Não pudemos evitar a sensação de estarmos no Velho Oeste, sem xerife. Após um 2024 focado no combate às fake news, os porões agora estão abertos.
A Reuters publicou suas previsões este mês também, destacando temas que serão destaques – e, de certa forma, sobre os quais já temos falado a respeito. Em resumo, os temas incluem:
- Desafios no Jornalismo: Polarização política, dificuldades econômicas e ataques à liberdade de imprensa continuarão a minar o jornalismo. A confiança dos líderes de mídia no futuro do jornalismo caiu significativamente.
- Disrupção da IA: A IA generativa está transformando as redações e a experiência do público, com ferramentas de resumo e chatbots mudando como as notícias são consumidas. No entanto, plataformas baseadas em IA representam riscos para as receitas e o tráfego dos editores.
- Dilemas de Plataformas: Plataformas tradicionais como Facebook e Twitter estão perdendo relevância para editores, enquanto plataformas como YouTube, TikTok e IA (e.g., OpenAI) estão ganhando foco. Essa mudança também está combinada com a continuação da ascensão de influenciadores que estão remodelando o consumo de notícias.
- Crescimento de Assinaturas: Assinaturas digitais continuam sendo motores-chave de receita, mas as taxas de crescimento estão desacelerando. Editores estão diversificando suas fontes de renda por meio de eventos, adesões e parcerias com plataformas tecnológicas.
- Inovação de Produtos: Editores estão priorizando produtos voltados para jovens, vídeos curtos e estratégias de “bundling” para atrair públicos diversos.
- Mudanças Geracionais: Públicos mais jovens estão migrando para plataformas e criadores de conteúdo não-tradicionais, forçando organizações de notícias a repensar estratégias de engajamento e storytelling.
Além da Reuters, decidi olhar para o que mais está no ar… Achei que seria útil aprofundar em outras notícias e previsões que recebi e li nesse intenso início de 2025 e, quem sabe, com expectativas de lançar um olhar positivo sobre o que nos espera neste novo ano.
Embora os desafios não desapareçam, talvez possamos abraçar as oportunidades que estão por vir!
Previsões da FIPP: De olho no streaming
A FIPP destacou o potencial do streaming num artigo no final de dezembro (baseado numa pesquisa da Ampere Analisys).
De fato, o conteúdo de vídeo continuará sendo uma das formas mais consumidas de conteúdo e o foco na Índia também está alinhado com outras mídias tradicionais:
- O número de assinaturas de streaming no mundo deve chegar a 2 bilhões até 2029, impulsionado pelo crescimento na região Ásia-Pacífico e pela necessidade de estratégias diversificadas de conteúdo.
- O cenário global de streaming está passando por uma transformação real, com empresas de streaming dos EUA ansiosas para expandir seu alcance internacional e aprimorar suas estratégias para engajar públicos diversificados.
- De acordo com a Ampere Analysis, o número de assinaturas globais de streaming online deve atingir dois bilhões em 2029. Atualmente, estima-se que existam cerca de 1,8 bilhão de assinaturas no mundo todo. Esse crescimento será impulsionado principalmente por mercados internacionais, que devem superar o mercado dos EUA em novas assinaturas pagas.
- O maior aumento de assinaturas pagas ocorreu em 2020, durante os lockdowns da pandemia, que resultaram em 282 milhões de novos cadastros.
- Embora as taxas de crescimento estejam desacelerando, em comparação aos picos históricos durante a pandemia, a ênfase agora está em como os serviços de streaming podem aumentar o engajamento em mercados menos saturados. A Ampere destaca que “os streamers precisarão investir em marketing e conteúdo localmente relevante” para alcançar ou superar o número projetado de 2 bilhões antes do previsto.
- Em termos de receita, o streaming por assinatura deve crescer em um ritmo impressionante, com receitas projetadas para quase triplicar o ritmo de crescimento de assinantes. Estima-se que os serviços de streaming por assinatura gerem quase US$ 170 bilhões anuais até 2029. Isso inclui um aumento previsto de US$ 22 bilhões com níveis de assinatura apoiados por anúncios, à medida que plataformas estabelecidas sem anúncios começam a incorporar publicidade para melhorar suas estratégias de monetização.
(Fonte: FIPP newsletter/ AI news platform, Noah Wire Services. And ampereanalysis.com/insight/us-streaming-revenue-to-overtake-pay-tv-in-2024 /
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Os maiores canais de notícias em vídeo no YouTube
A Press Gazette publicou um estudo sobre os principais editores de notícias em inglês. De acordo coma pesquisa, os publishers viram um aumento conjunto de 20% em assinantes nos últimos 15 meses. Entre os maiores editores de notícias no YouTube, mais de 100 editores têm mais de 1 milhão de assinantes.
Ranking dos canais tradicionais/ por assinantes:
- Vice lidera com 18,7 milhões de assinantes.
- A ABC News (EUA) segue de perto com 18 milhões.
- A CNN tem 17,4 milhões de assinantes.
- A BBC News está em 17,2 milhões.
- A Al Jazeera English tem 15,1 milhões.
O principal canal do The Sun (tabloide ingles) no YouTube atingiu 6 milhões de assinantes até o final de 2024, marcando um aumento de 33% desde outubro de 2023. Porem – o canal do influencer americano Joe Rogan tem 19 milhões de assinantes, superando os veículos de notícias tradicionais.
O campeão de postagens é um canal indiano: WION (World Is One News) – que posta o equivalente a 150 vídeos de notícias por dia! Enfim, fascinante!
Adaptação cultural e a IA, nas previsões de Yulia Boyle
As previsões da diretora da FIPP, Yulia Boyle, são de que a IA revolucionará a personalização de conteúdo, particularmente por meio de ferramentas de tradução em tempo real e adaptação cultural. “Estou especialmente empolgada para ver como esses avanços nos permitirão personalizar conteúdos educacionais de maneira dinâmica” ela afirma. “Acredito que isso ajudará a alcançar relevância e acessibilidade em uma escala nunca vista antes”, finaliza.
Reuters: Engajamento com o público jovem
Como já mencionado no report da Reuters, o consumo de notícias está mudando, com 25% do público jovem usando redes sociais como principal fonte de informação. Mas o surgimento de novos canais de notícias, inteiramente voltado ao público jovem é um espaço que está apenas começando a crescer. Iniciativas como a RocaNews mostram como um jornalismo equilibrado e criativo pode atrair esses públicos a procurar notícias pela primeira vez.
A RocaNews, fundada em 2020, se concentra em fornecer notícias não-partidárias e acessíveis, utilizando plataformas como Instagram e TikTok, além de um aplicativo que gamifica o consumo de notícias.
Como eles têm atraído em torno de 5 milhões de seguidores nos canais de mídia social e mais de 200 mil assinantes na newsletter, acho que estão acertando na mensagem e na linguagem.
Outros canais que valem a pena conferir são o Quartz Obsessions e o Now This.
Também durante o evento Revenue Europe, realizado em Berlim em Outubro do ano passado, Jacqueline Loch, da Azure Media, destacou que os editores ainda possuem uma vantagem singular para se conectar com públicos mais jovens: credibilidade no setor, confiança e públicos qualificados. Ela compartilhou informações que estão alinhadas com o que eu também acredito – o novo público está em busca de fontes confiáveis.
“O segmento de idade que mais cresce na leitura de revistas impressas e digitais no Canadá é o de menores de 35 anos. Por quê? Eles estão procurando conteúdo confiável”.
Jacqueline Loch
Relatório da Barnes&Noble prevê busca pelo offline

A Barnes & Noble também publicou um relatório interessante sobre seu setor de revistas, no seu relatório anual de vendas – destacando revistas de hobbies.
“Nas bancas, estamos vendo os clientes responderem de forma esmagadora ao relançamento da categoria de artesanato, liderada principalmente pelo retorno da revista FLOW em versão impressa, em inglês. A coleção de livros de papel e a nova edição em inglês estão voando das prateleiras”
Sua lista de revistas mais vendidas destaca o retorno do hobby offline – pessoas buscando atividades longe das telas, área onde as revistas sempre desempenharam um grande papel.
Para notícias e inspiração, claro, continuaremos online. Mas, para foco e momentos de descanso, passaremos cada vez mais tempo offline.
Previsões sobre o retorno de impressos
Da mesma forma, a Coneqtia, associação espanhola para mídia B2B, destaca a importância do meio impresso:
“à medida que o cansaço de telas aumenta, a mídia impressa não diminuirá, especialmente na mídia especializada. Para muitos leitores, um objeto físico é mais atraente e pode até parecer mais confiável, embora você sempre deva desenvolver conteúdo premium que seja relativamente permanente ao longo do tempo, e não apenas informativo. Além disso, o meio físico continuará oferecendo aos anunciantes inventários especiais para construção de marca”.
Fonte: FIPP newsletter
Vimos o retorno de alguns títulos de destaque ao formato impresso em 2024 – NME e Vice no Reino Unido; Bloomberg reinventando a revista Businessweek como uma edição mensal de 120 páginas; e até mesmo a Playboy fazendo seu retorno às bancas.
O impresso tem sido um dos produtos mais interessantes entre os editores nos últimos 18 meses. E, acredito, há mais por vir em 2025. Tiragens menores, talvez com menor frequência, mas com mais valor agregado ao conteúdo, aumentando a receita publicitária e até mesmo conquistando um público leitor mais fiel. Porém, quase como um item obrigatório ao portfolio.
Veja bem, isso não significa um retorno de títulos baratos, de grande tiragem e de alta frequência. Jim Bilton, Diretor Geral da Wessenden Marketing, destacou num podcast esta semana que os editores estão tendendo a períodos de venda mais longos, preços mais altos e produtos mais robustos em termos de paginação e qualidade do papel. É exatamente o que temos observado por aqui.
Diversificação de receitas e eventos
A diversificação de receitas continua sendo o segredo para empresas de mídia saudáveis – mas o que os leitores realmente querem ainda é uma questão que estamos tentando responder.
Uma pesquisa recente da FT Strategies definiu uma fonte de receita como responsável por pelo menos 15% do faturamento total e recomendou que três fontes de receita são o número ideal para editores de jornais. Da mesma forma, a PPA (Associação Profissional de Editores do Reino Unido) recomendou cinco fontes de receita para seus membros, que incluem principalmente editores de revistas. Não há limites para como as marcas podem diversificar, e isso parece que será um tema popular para muitos eventos e debates deste ano.
Os editores estão buscando fontes alternativas de receita além do jornalismo tradicional. Está entre as previsões para 2025 da Forbes, por exemplo, abrir seu primeiro clube privado para membros em Madrid, direcionado a executivos de negócios e empreendedores. Essa iniciativa representa uma mudança estratégica para diversificar a renda e criar experiências exclusivas para seu público.
Eventos continuarão sendo grandes atrativos – a necessidade de conexão, networking e troca de ideias está mais forte do que nunca. As receitas globais de exposições alcançaram 94% dos níveis de 2019 em 2023, indicando uma forte recuperação no setor de eventos e um desejo por mais oportunidades presenciais em todos os setores – não apenas de mídia.
Nos Estados Unidos, a The Atlantic organiza mais de 125 eventos anualmente, que representam 20% das receitas da empresa. Já a Informa, uma das principais editoras de eventos e publicações acadêmicas do Reino Unido, adquiriu a Ascential, dona de conferências globais como o Cannes Lions, por quase US$ 1,6 bilhão. Este movimento estratégico reforça o compromisso da Informa em expandir seu portfólio global de eventos.
E falando de eventos, na Europa, estamos ansiosos pelo INMA Subscriptions Summit, em Amsterdã, em março; pelo International Journalism Festival, em Perugia, em abril; e pelo European Publishing Congress, além do FIPP World Media Congress, que celebrará seu 100º aniversário em Madrid este ano.