Cocoa Magazine: uma nova voz para a diversidade na mídia infantil

Cocoa Magazine: uma nova voz para a diversidade na mídia infantil

17 de setembro de 2024
Última atualização: 17 de setembro de 2024
7min
Banner em fundo azul destaca a revista Cocoa Magazine com print da capa e de página central colorida
A Cocoa Magazine é um exemplo de como defender a diversidade. Imagem: Internet Cocoa Magazine
Lulu Skantze

À primeira vista, o mundo da mídia infantil pode não parecer tão colorido quanto deveria. Diversidade e inclusão há tempos são negligenciadas em muitos espaços, deixando uma lacuna significativa para as todas as comunidades que formam a sociedade, na maioria dos países hoje em dia. Embora alguns progressos tenham sido feitos, é difícil ignorar que, como mídia e criadores, estamos demorando a acompanhar esse ritmo.

Como já escrevi antes por aqui, a importância de contar histórias diversas não pode ser subestimada. Já falei também sobre a relevância de apresentar histórias brasileiras e outras narrativas multiculturais nas publicações para crianças. Hoje, porém, quero destacar um protagonista que está transformando o cenário da mídia infantil no Reino Unido: a Cocoa Magazine.

Cocoa Magazine: do bullying à celebração das crianças negras

Serlina Boyd: informação para celebrar crianças negras

O lançamento da Cocoa Magazine foi durante a pandemia. Serlina Boyd, a fundadora da revista, fez uma pergunta importante: Onde estão as revistas que celebram e destacam as crianças negras? Essa não foi apenas uma pergunta – foi a semente de um poderoso movimento que atende a uma necessidade urgente no espaço da mídia infantil — e seu rápido sucesso é a prova de que essa demanda foi ignorada por muito tempo.

A jornada de Boyd começou quando sua filha, Faith, enfrentou bullying na escola. Como mãe e profissional com mais de 18 anos de experiência em títulos como Marie Claire e Vera (revista de voo da Virgin Airlines), ela sabia do poder da mídia e como navegar as dificuldades de fundar sua própria editora. Então, decidiu criar uma revista que empoderasse as crianças negras, celebrando sua cultura, apresentando modelos positivos e oferecendo a elas a representatividade que a mídia convencional falhava em proporcionar.

“Há algo incrivelmente poderoso nas revistas. Elas são mais do que coleções de histórias — são plataformas dedicadas a assuntos específicos e oferecem uma conexão única com seu público”.

Lulu Skantze

Sucesso de vendas, inclusão nos programas educacionais e projeção na TV

Quando uma revista nasce em resposta a uma lacuna social, como a Cocoa, ela se torna um veículo vital de mudança. Revistas são ousadas, autênticas e existem porque os temas que abordam são importantes e merecem um espaço dedicado.

Desde a sua primeira edição, a Cocoa Magazine foi um sucesso, vendendo mais de 11.000 exemplares. Até 1.000 cópias eram vendidas diariamente no primeiro mês, sinalizando o anseio por um conteúdo que melhor representasse as crianças negras e, de fato, conectasse suas histórias e experiências.

Esse sucesso não parou nas bancas. A Cocoa Magazine rapidamente se expandiu para as escolas, onde se tornou uma ferramenta educacional valiosa para promover o entendimento entre diversas origens e prevenir o bullying.

Desse modo, a Cocoa se tornou uma força cultural e teve muita cobertura da mídia nacional (algo superdifícil de se conseguir no segmento), fazendo múltiplas aparições na TV, em plataformas como ITV News London e BBC. Sua missão de abordar a falta de representatividade das crianças negras na mídia britânica ganhou destaque e, a cada aparição, a Revista ressaltava a importância da sua missão—e seu apelo continua a crescer.

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Capas cativantes com ícones da ciência e cultura

Uma das marcas registradas da Cocoa Magazine são suas capas cativantes, que apresentam modelos negros e destacam momentos marcantes da história negra. Figuras notáveis como Diane Abbott, a primeira mulher negra a se tornar membro do Parlamento britânico, já estamparam suas páginas, ao lado de histórias poderosas sobre inventores negros e suas contribuições para a sociedade. Essas capas não apenas celebram a excelência negra, mas também educam os leitores sobre narrativas históricas muitas vezes ignoradas ou sub-representadas.

A visão de Serlina Boyd não se limitou às páginas impressas. Ela expandiu recentemente o alcance da Cocoa com iniciativas como a Cocoa Dream Society. Esse braço filantrópico da Revista se concentra em melhorar a alfabetização entre crianças de minorias étnicas, oferecendo oficinas gratuitas de jornalismo e escrita.

A criação da Cocoa School of Journalism and Creative Arts oferece cursos de leitura, escrita, reportagem e edição de vídeo — habilidades essenciais que ajudam a elevar vozes diversas na mídia e aumentar a presença de profissionais formados nessas áreas de origens. Para se ter mais diversidade, precisamos formar mais profissionais diversos.

Essas iniciativas são mais do que apenas aulas. Constituem caminhos para carreiras criativas que muitas vezes são inacessíveis para muitas crianças, principalmente quando elas não se veem na mídia. Realizadas em escolas, centros comunitários e até galerias de arte, essas oficinas oferecem oportunidades inestimáveis para os jovens participantes aprenderem e ganharem confiança.

Planos da Cocoa Magazine incluem festivais e centro para educação especial

A visão de longo prazo de Boyd inclui o estabelecimento de um espaço físico no qual as crianças possam se reunir para aprender jornalismo, aprimorar sua escrita e se envolver em projetos criativos. Também existem planos para grupos de pais, um centro para Necessidades Educacionais Especiais (SEN) e festivais comunitários, o que demonstra ainda mais o compromisso da Cocoa com a inclusão e o apoio à comunidade em geral.

Desde o seu lançamento, a Cocoa Magazine não apenas conquistou o coração de seus leitores, mas também recebeu aclamação da crítica. Em 2020, a revista recebeu o “Newcomer Award” no The Independent Awards e o prêmio de “Lançamento do Ano” no BSME Awards, destacando o impacto de sua missão de enaltecer as crianças negras e celebrar sua cultura.

A Cocoa Magazine é um exemplo poderoso do que pode acontecer quando ouvimos as lacunas em nosso mundo e respondemos com criatividade, paixão e propósito. É um lembrete de que a representatividade importa profundamente na mídia infantil, e que revistas como a Cocoa são essenciais. Elas não apenas contam histórias — elas constroem confiança, celebram a cultura e oferecem uma plataforma para vozes que muitas vezes permanecem sem ser ouvidas. E é exatamente essa a nossa missão como editores e jornalistas.

Lulu Skantze
Contributor
Lulu Skantze é fundadora e diretora criativa de uma das maiores revistas infantis do Reino Unido, a Storytime. Desde seu lançamento, em 2014, a revista tornou-se uma marca global de histórias, reconhecida nos setores de Editoriais e Edtech, com mais de 900 histórias disponíveis em formatos impresso, digital e áudio, e novos conteúdos publicados mensalmente. A revista é publicada atualmente em cinco países e distribuída para mais de 60 países. Com base em Amsterdã, após viver em Londres por mais de 20 anos, Lulu trabalhou em agências de publicidade no Brasil e na Alemanha e para grandes editoras britânicas, francesas e italianas, dirigindo artisticamente projetos premiados e desenvolvendo produtos para Disney, Mattel, Hasbro, Playstation e muitas outras grandes marcas. Lulu acredita que todos somos feitos de histórias. Ela defende a importância da alfabetização, de conteúdos diversificados e positivos, acessíveis a todos, e esses valores são fundamentais para o conceito da Storytime. Para saber mais sobre sua marca, visite www.storytimemagazine.com e www.storytimehub.com.