As primeiras impressões de Lulu Skantze sobre o FIPP World Media Congress 2025

As primeiras impressões de Lulu Skantze sobre o FIPP World Media Congress 2025

28 de outubro de 2025
Última atualização: 28 de outubro de 2025
8min
Lulu Skantze no palco do FIPP World Media Congress 2025 Madri
Lulu Skantze

Grandes temas aparecem sempre no FIPP World Media Congress. Como sempre, é o palco onde os principais nomes da mídia se encontram e onde as grandes decisões e cases são discutidos. Mas este ano teve um valor especial – os 100 anos da FIPP – o que trouxe não só celebração, mas também uma boa dose de reflexão sobre o futuro.

Em breve vou compartilhar uma análise mais profunda de algumas das palestras, mas aqui vai um resumo rápido do que consegui participar.

Alta costura e prêt-a-porter no jornalismo

Logo na abertura, apresentada por Andrés Rodríguez da ARI e Yulia Boyle, chari da FIPP foi um dos meus momentos favoritos, porque realmente definiu o tom de todo o evento. Otimista como eu, ele trouxe três boas notícias – e acredito que ele está certo em todas:

  • Nunca conseguimos alcançar tantas pessoas como agora – isso por si só já é uma oportunidade enorme.
  • O impresso é alta costura, o digital é prêt-à-porter. Gutenberg é tão importante quanto Zuckerberg.
  • A marca importa mais do que nunca. É ela que constrói confiança – ainda o maior valor para o público.

Outro destaque foi a sessão com a TIME Magazine. A palestrante original, a CEO Jessica Sibley, não pôde comparecer – foi chamada a Washington para discutir a capa recente com Trump – mas o COO Mark Howard conversou com Yulia Boyle sobre TIME aos 102: misturando legado e inovação no cenário global da mídia. Foi fascinante ouvir como eles estão trabalhando com a IA, em vez de lutar contra ela. Também estão diversificando a franquia Person of the Year para refletir melhor diferentes audiências ao redor do mundo – uma evolução inteligente de uma marca icónica.

The Atlantic e os novos assinantes

A The Atlantic compartilhou o que talvez tenha sido a história do ano na mídia – os textos vazados do Pentágono via Signal – que dobraram suas assinaturas e consolidaram a mudança do modelo freemium para o paywall rígido. Os novos assinantes entenderam que a democracia precisa de uma imprensa compromissada com a democracia.

O que aprender com a Creator Economy

Screenshot

Um painel interessante com Jacqueline Loch, Lucy Küng e Jacob Donnelly explorou a Creator Economy – como os publishers podem aprender com a agilidade e a mentalidade de audiência dos criadores de conteúdo. Também foi um lembrete de como ficou acessível lançar uma marca de mídia quando se pensa como criador. Essa mentalidade empreendedora contrasta fortemente com operações tradicionais de mídia que, em muitos casos, já não são sustentáveis. O que podemos aprender com isso?

Justin B. Smith, fundador da Semafor, falou sobre levantar 44 milhões de dólares e construir uma marca global de notícias a partir dos EUA, com foco em contratar jornalistas locais para tornar o conteúdo mais relevante e localizado. Resta ver se a voz da Semafor se tornará realmente global – mas ele está claramente fazendo as apostas certas para chegar lá.

Estratégia de vídeo para alcançar a GenZ

Billy Carney, da Roca News, mostrou como a estratégia de vídeo está trazendo resultados e se tornou o foco principal do seu canal de “notícias para a Geração Z”. E trouxe um dado impressionante: 71% do público agora usa a Roca como sua principal fonte de notícias.

Eventos e licenciamento: oportunidades de diversificação

Houve um consenso sobre um ponto essencial: eventos e licenciamento são hoje as oportunidades mais fortes de diversificação. Eventos, em especial, foram descritos como a única coisa que a IA não pode substituir – porque são, antes de tudo, humanos. Precisamos estar lá para vivenciar conteúdo.

Ecossistemas além das páginas

No painel que compartilhei com Cristina Martín Cornejo (CEO da Hearst) e Srinivasan, Managing Director do Vikatan Group, discutimos como os publishers estão construindo ecossistemas além das páginas. Os sete títulos financeiros do grupo indiano criaram prêmios e eventos altamente bem-sucedidos, gerando receita e engajamento entre setores como cinema, influenciadores e mídia. O legado histórico dá peso a esses prêmios, enquanto a energia nova os mantém relevantes e lucrativos.

Mídia como parte importante para o crescimento do país

A apresentação de Sarah Thompson sobre Canadian Media Means Business foi outro excelente estudo de caso. Ela falou da pesquisa que fez para mostrar como a media é importante para o crescimento econômico do país, e os dados fizeram os anunciantes entenderem o recado e campanhas como a “Don’t Let Your Dollar Go South” incentivou anunciantes a investirem em mídia canadense em vez das plataformas americanas de tecnologia. Sua frase, amplamente compartilhada após o evento, resume tudo:

“O jornalismo precisa parar de se apresentar como uma instituição de caridade.”

Sarah Thompson

Relatório anual e marcas importantes

O relatório anual da INNOVATION Media Consulting, apresentado por Juan Señor, continua sendo um dos grandes destaques da FIPP – em breve compartilho mais, o guia completo está aqui do meu lado me esperando para ser devorado.

O presidente da The Economist, Luke Bradley-Jones, também mostrou como o título de 181 anos se transformou em uma marca global diversificada. Meio bilhão de dólares em receita, dois terços vindos do B2C e o restante do B2B – com Economist Impact, Education e Intelligence Unit. Sua mensagem não poderia ter sido mais direta:

“Buscamos crescimento constante e lucrativo – sem correr atrás apenas de escala ou lucro de curto prazo.”

Luke Bradley

O ChatGPT respeita Paywalls?

Joe Martin, da Hearst Magazines International, trouxe um lembrete poderoso sobre o valor do storytelling. Ele revisitou o perfil clássico de Gay Talese de 1966, Frank Sinatra Has a Cold – uma aula de jornalismo que se tornou maior que seu próprio tema. O jornalismo rigoroso, profundamente humano e atemporal nunca vai deixar de ter apelo e a palestra dele foi um lembrete necessário em tempos de automação.

Nikki Murphy e Charlotte Ricca no Segundo dia apresentaram com uma sessão sobre growth mindset, trazendo lições de atletas de resistência. A mensagem delas foi importante, num momento de ansiedade e dúvida para tantos publishers: o sucesso vem mais da mentalidade do que das circunstâncias externas. Agir com um mindset positive gera solucoes e novas ideias, um mindset negative nos faz ficar congelados no mesmo lugar, e provavelmente sem achar soluções.

E, por fim, Tom Rubin, da OpenAI, enfrentou algumas perguntas difíceis – incluindo uma que ficou no ar: “O ChatGPT respeita paywalls?”
A resposta: “Sim – e também o robots.txt.”
Num auditório cheio de jornalistas e publishers, essa é uma promessa e tanto.

No fim das contas, o foco da FIPP deste ano não foi a IA. Foi sobre nós. Humanos primeiro, humanos por último. E fez todo o sentido.

Lulu Skantze
Editor
Lulu Skantze é fundadora e diretora criativa da Storytime, uma das maiores revistas infantis do Reino Unido. Publicada em cinco países e distribuída em mais de 60, a revista também está em plataformas digitais e audiobooks. Baseada em Amsterdã, Lulu trabalhou em agências de publicidade no Brasil e na Alemanha, além de grandes editoras europeias, dirigindo projetos para marcas como Disney, Mattel e Playstation. Palestrante e consultora em licenciamento, ela também colabora com artigos sobre empreendedorismo e tendências editoriais. Saiba mais em www.storytimemagazine.com e www.storytimehub.com