Ricardo Gandour, IA e SXSW: desocupação mental é preocupante

Ricardo Gandour, IA e SXSW: desocupação mental é preocupante

9 de abril de 2024
Última atualização: 9 de abril de 2024
4min
Em palesta virtual Ricardo Gandour, homem branco, calvo, usando óculos de armação fina, camisa azul sem gola e paleto marrom fala sobre IA e o SXSW no Café com Aner
Para Gandour, a IA pe preocupante quando elimina a necessidade do pensamento.
Márcia Miranda

O Festival SXSW, em Austin, foi o pano de fundo para o encontro do Ricardo Gandour com publishers, pesquisadores e professores no Café com Aner da terça, 9 de abril. O jornalista falou sobre o impacto da inteligência artificial nos processos de trabalho, incluindo os aspectos legais, jurídicos e éticos do jornalismo.

Para Gandour, foi surpreendente a principal palestra de abertura do SXSW ter tratado de um tema do presente, e não do futuro e de tendências, como normalmente acontece. Segundo ele, a palestra de Amy Webb, futurista americana, fundadora e CEO do Future Today Institute, foi provocadora quando falou sobre a necessidade de se prestar atenção à desocupação mental que a IA gera hoje.

“Quando a IA substiti o processo mental é complicado, porque gera uma desocupação de pessoas que vão perder esse treinamento em um estágio em que não há mais substituição. Então é muito preocupante”, destacou.

O que inteligência artificial pode fazer com o conhecimento humano?

Gandour citou uma matéria da BBC, de 2020 que mostra que, pela primeira vez, o QI médio da geração mais recente é inferior ao de seus pais. Isso, por conta de diversos fatores, como a frequência de uso de telas, a falta de diálogo intergeracional, em casa, a falta de interação física, entre outras.

“A gente pode caminhar para uma estagnação da humanidade na produção do conhecimento? Quem serão os pesquisadores daqui a dez, trinta anos? A IA trabalha o conhecimento existente, mas e o novo?”, questionou.

Como refletir sobre a IA nos processos jornalísticos.

O jornalista usou verbos para esquematizar a construção do conteúdo jornalístico e comparou com a capacidade generativa da IA. Enquanto os verbos de coleta de dados (ouvir o que é dito, ver e ler, lembrar, gravar) são tarefas comuns e já corriqueiras com a IA, outros devem ser preservados como de execução exclusiva de humanos:

“Entender o contexto, avaliar e apontar, formular, opinar e julgar parecem verbos essencialmente humanos. A IA já está presente em todos esses verbos. Mesmo no julgamento, ação que não parece adequada a um software”, critica. “É nesses verbos que as redações devem ficar atentas para proteger o produto final em sua qualidade e credibilidade”, indica.

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IA e direitos autorais

Respondendo a uma pergunta do professor Adriano Ramos e do empresário Marcos Dvoskin, Gandour destacou a necessidade de investimento em sistemas de monitoramento e varredura, também com IA, para que os direitos autorais das criações sejam preservados.

“A solução vai ser usar a tecnologia para montar sistemas de monitoramento e varredura daquilo que a editora produz, para encontrar o que está sendo usado em outros ambientes. Isso vai demandar processamento, nuvem… e não é a toa que a indústria de processamento está aquecidíssima. Porque para nos proteger, teremos que ter mais processamento”.

No entanto, apesar do custo, Gandour afirma que a maior preocupação com os possíveis desastres da chegada da IA não deve ser o investimento financeiro, mas o ensino jornalístico:

“Me preocupa como está o ensino jornalístico. O aluno sabe pesquisar? Sabe como se organiza a informação? Esse automatismo tira das gerações mais jovens o acesso à estrutura da informação. Me preocupa não que não se percam os fundamentos”, alertou.

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Márcia Miranda
Administrator