Diversificação de receitas e tecnologia: o mapa da mina para a independência editorial
Especialista em finanças, fundadora da Black Adnetwork e estrategista da Alma Preta, Elaine Silva foi a convidada do Café com Aner que foi ao ar excepcionalmente na segunda-feira, dia 13 de outubro. Em um mercado editorial em constante transformação, no qual os desafios tecnológicos e as barreiras algorítmicas se somam à busca por sustentabilidade, Elaine falou para editores e publishers sobre a necessidade urgente de superar a resistência à publicidade e abraçar a diversificação de receitas com inteligência financeira e tecnológica para garantir a liberdade e o crescimento dos veículos.
A transição da Alma Preta é um exemplo prático desse imperativo. O veículo, que nasceu com 98% de suas receitas advindas de filantropia, conseguiu reduzir essa dependência para 52%, atingindo 48% de receitas diversas, das quais 18% vieram de publicidade e propaganda. Para Elaine, o ideal é que as receitas sejam divididas em 20% para cada frente de diversificação
“Porque daí eu deixo de ser dependente [de apenas uma fonte], e aí eu serei 100% jornalista independente”, afirma.
A publicidade como solução, não como tabu
Elaine Silva ingressou na comunicação após passar 20 anos no mundo corporativo, lidando com a especialidade de gerar lucro rápido para empresas. Na publicidade, ela conta que conheceu os caminhos para um “caminhão de dinheiro” , que poderia ser a solução para a mídia independente.
Um dos maiores obstáculos no mercado, no entanto, é a divergência histórica entre jornalismo e publicidade.
“O jornalista não gosta de publicidade”, diz ela, explicando que esse tabu está presente na mídia independente, que teme que a publicidade possa “deslegitimar” a questão da independência. Neste ponto, Elaine destaca que é fundamental que os editores ajudem os publicitários a criar uma publicidade “comunicativa, diversa e antirracista”
Segundo ela, a Alma Preta e a Black Adnetwork mantêm valores e não aceitam qualquer tipo de publicidade que coloque em risco o veículo ou envolva fake news.
“É necessário valorizar o editorial”, reforça, dizendo que a parceria ideal ocorre quando o veículo tem a ideia e a vontade de crescer, e o parceiro (agência/cliente) tem o recurso, pensando em campanhas inteligentes que não abusem da dor, mas que se comuniquem com todos.
O papel da tecnologia e a luta contra a resistência
Elaine acredita que, para o mercado editorial, a resistência à tecnologia é um grande problema. Quatro fatores seriam os principais motivadores: a tecnologia ser cara; o medo do novo; a falta de conhecimento; e de recursos financeiros. Ela adverte que, se os veículos não se atualizarem e não acompanharem o avanço tecnológico, “vão se tornar analógicos”.
Dicas de Elaine Silva para publishers
1. Enfrente as barreiras algorítmicas com criatividade: O caminho para superar as barreiras do algoritmo é ser criativo e se atualizar de acordo com as questões tecnológicas.
2. Comunicação 360º: O Alma Preta migrou da parte mais textual para uma comunicação 360, abrangendo audiovisual, podcast e coberturas em loco .
3. Inovação interna e IA: O Alma Preta está ativamente desenvolvendo uma nova tecnologia, utilizando Inteligência Artificial (IA), para otimizar o tempo de postagem e produção de recursos internos. A lição é que não se pode abandonar o uso de IA, mas é preciso aprender a usar a ferramenta a seu favor, alimentando a máquina com dados corretos, para que ela não dê apenas “aquilo que todo mundo diz” .
4. Evite o vício: Se o veículo se tornar refém da filantropia ou de qualquer outro recurso financeiro de longo prazo, ele deixa de ser criativo e se acomoda.
5. Inteligência financeira: O crescimento não acontece apenas com a entrada de dinheiro (seja R$ 100 ou R$ 5 milhões). É essencial ter um planejamento financeiro e uma equipe que pense na área, entendendo o modelo de negócio da organização.
6. Gestão de projeto: A mente do gestor deve funcionar com foco em projeto, calculando gastos, despesas fixas, variáveis e lucro, mesmo quando os recursos vêm de apoios institucionais.