Qual a estratégia do Meio para engajar audiência e monetizar conteúdo?

No Café com Aner da terça-feira, 19 de agosto, a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) teve a honra de receber Vitor Conceição, CEO do Meio, um empreendedor com duas décadas de experiência no mercado digital. Em uma apresentação detalhada, Vitor compartilhou os pilares da estratégia para monetizar conteúdo do Meio, seu modelo freemium e a visão sobre o futuro do jornalismo, oferecendo valiosos insights para o mercado editorial jornalístico.

O Meio, fundado em 2016 por Vitor e Pedro Dória, nasceu da percepção de um “problema de informação” causado pela perda do hábito de se informar de maneira estruturada e profissional. Em um cenário de proliferação de informações em redes sociais, o Meio buscou criar um jornalismo adaptado à vida digital das pessoas, que se encaixasse nos momentos de consumo diário, com contexto e informação organizada.

A jornada e o modelo freemium: engajamento para monetização

A história do Meio é uma trajetória de adaptação e crescimento. Lançado após o primeiro turno das eleições de 2016, o veículo rapidamente conquistou audiência. Em 2017, com uma equipe de apenas quatro pessoas, já contava com 45 mil assinantes. Em 2018, lançou sua assinatura premium. A estratégia para monetizar conteúdo do Meio baseia-se em um modelo freemium bem definido:

• Topo do Funil (Gratuito): O Meio busca estar presente em todas as redes sociais e novas plataformas, alcançando mais de 5 milhões de pessoas mensalmente com seu jornalismo. Essa etapa, monetizada por publicidade, serve como um grande funil para trazer novas pessoas e iniciar o relacionamento.

• Meio do Funil (Engajamento): Para aprofundar o engajamento, o Meio investe em formatos como vídeo (YouTube) e podcast. O YouTube, em particular, tornou-se a principal vitrine e o maior captador de novos assinantes pagos, com uma média de 9 minutos de tempo de vídeo por usuário, demonstrando um engajamento muito maior do que outras redes sociais.

• Fundo do Funil (Premium e Pagamento): A parte paga, com a assinatura premium, é a principal fonte de faturamento. Em 2020, o Meio lançou seu podcast, estabelecendo o terceiro hábito de consumo. Atualmente, a assinatura representa 60% do faturamento, enquanto a publicidade responde por 25,5%, cursos por 10% e conteúdo por 4,3%.

Publicidade com valor e plataforma própria

Uma das chaves da estratégia para monetizar conteúdo do Meio é sua abordagem à publicidade. O veículo rejeita a publicidade programática, que considera um erro do mercado por desvalorizar o conteúdo. Em vez disso, o Meio foca em publicidade exclusiva e de alto valor, negociada diretamente com anunciantes e agências. O objetivo é sentar com as marcas para entender seus problemas de comunicação e criar pacotes personalizados que ajudem no branding, incluindo editorias patrocinadas, vídeos para redes sociais, extensões em podcasts e entrevistas.

Para garantir controle e relacionamento direto com o assinante, o Meio decidiu montar sua própria plataforma de streaming para vídeos exclusivos, evitando a dependência das grandes empresas de tecnologia.

Cursos e a audiência qualificada: monetizando os superfãs

O Meio identificou na sua base de assinantes, composta por uma audiência extremamente qualificada e influente – com mais de 20% em cargos de liderança e renda familiar média superior a R$ 20 mil –, um público de “super fãs”. Para esses assinantes, que já pagam pela informação, o Meio começou a oferecer cursos como uma forma de gerar mais valor e aumentar o faturamento.

Com mais de 2 mil alunos inscritos, os cursos faturaram meio milhão de reais no ano passado, tornando-se uma linha de receita relevante. E passaram a ser parte da estratégia para monetizar conteúdo.

Inovação com inteligência artificial e moderação editorial

A inquietação e a busca por melhorias contínuas são diferenciais competitivos do Meio. O veículo explora a inteligência artificial de forma ativa, mas com uma diretriz clara: acompanhamento humano em todas as etapas e transparência no uso da IA. A IA é utilizada para:

• Produção de Imagens e Vídeos: Criação de capas, ilustrações, animações (como cenas bíblicas), e aprimoramento de produções audiovisuais. Inclusive, foi desenvolvido um logo de uma mão com seis dedos para indicar conteúdo gerado com IA.

• Pesquisa e Tabulação de Dados: Análise de documentos longos e tabulação de respostas abertas em pesquisas com assinantes, o que antes era evitado.

• Edição de Vídeo (Ferramenta “CortAi”): Desenvolvimento de uma ferramenta interna chamada “CortAi” que identifica trechos relevantes em vídeos e áudios transcritos para edição e roteirização, otimizando o trabalho da equipe de marketing e vídeo.

Editorialmente, o Meio busca a moderação, conversando com os dois lados do espectro político em um Brasil polarizado, visando a construção de uma democracia mais sólida.

O futuro do Meio, segundo Vitor, é de continuar surfando as “ondas” de crescimento da internet, adaptando-se às novas plataformas e buscando sempre a próxima fronteira para o jornalismo, com a perspectiva de se tornar cada vez mais um “canal de TV”.

Veja as principais dicas de Vitor Conceição para engajar a audiência e monetizar conteúdo no Jornalismo:

• Adapte-se à Vida Digital: Crie um jornalismo que se encaixe nos hábitos e momentos de consumo digital das pessoas.

• Multicanalidade para Alcance e Conversão: Esteja presente em todas as redes sociais para um grande alcance, utilizando-as como um funil para direcionar a audiência para plataformas de maior engajamento (newsletters, vídeos, podcasts).

• Estabeleça Hábitos de Consumo: Procure fazer com que seu conteúdo se torne parte da rotina diária da audiência, seja pela manhã, tarde ou durante outras atividades.

• Modelo Freemium Estratégico: Use o conteúdo gratuito para atrair e engajar, enquanto a assinatura premium se torna a principal fonte de receita.

• Rejeite Publicidade Programática: Foque em vendas diretas e pacotes publicitários exclusivos, de alto valor, que resolvam problemas de comunicação específicos dos anunciantes e agreguem valor à marca.

• Crie Conteúdo Premium Exclusivo: Ofereça benefícios tangíveis para os assinantes, como acesso antecipado ou conteúdo exclusivo (ex: plataforma de streaming própria).

• Diversifique Fontes de Receita: Além de assinaturas e publicidade, explore a venda de produtos adicionais, como cursos online e licenciamento de conteúdo, para sua audiência mais fiel.

• Priorize o Controle da Audiência: Migre os usuários para plataformas próprias (e-mail, plataforma de streaming) onde você tem controle direto do relacionamento e dos dados, diminuindo a dependência de big techs.

• Explore o YouTube como Gerador de Assinantes: Reconheça o YouTube como um canal poderoso para conversão de assinaturas, dada a alta retenção e engajamento que oferece.

• Abrace a Inteligência Artificial com Cautela e Transparência: Utilize a IA para otimizar a produção (arte, vídeo, pesquisa, tabulação de dados), mas sempre com acompanhamento humano e deixando claro quando a tecnologia é empregada.

• Mantenha uma Linha Editorial de Moderação: Em contextos polarizados, buscar a moderação pode ser um caminho mais sólido para a democracia e para construir confiança a longo prazo com uma audiência mais ampla.

• Inovação Constante (“Inquietude”): Mantenha-se desconfortável e em busca contínua por melhorias e novas abordagens para o crescimento do negócio.

• Adapte-se às “Ondas” Tecnológicas: Esteja pronto para identificar e surfar as próximas ondas de crescimento em novas plataformas e formatos, entendendo que o avanço é cíclico.

• Prepare-se para Eventos Chave: Antecipe períodos de grande interesse público, como eleições, fortalecendo a equipe e a produção de conteúdo profissional para atender à demanda por informação de qualidade.

Vitor disponibilizou a apresentação usada no Café, que você pode ver e baixar a partir da nossa Biblioteca, clicando aqui.

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