Memberships e Manifestos: Dicas para editores de revistas independentes

Memberships e Manifestos: Dicas para editores de revistas independentes

28 de agosto de 2025
Última atualização: 28 de agosto de 2025
6min
Revistas ilustram artigo de Lulu Skantze sobre dicas para editores independentes de um encontro em Amsterdã, na Holanda
Lulu Skantze fala sobre as dicas para editores independentes do Athenaeum Nieuwscentrum. Imagem: Freepik
Lulu Skantze

Em mais um artigo exclusivo para a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), a publisher brasileira radicada na Holanda, Lulu Skantze conta os insights de um encontro em Amsterdã. Entre as dicas especiais para editores independentes, o modelo membership, a necessidade de equipes confiáveis e bem alinhadas e o manifesto inicial como um norteador para o trabalho.

Boa leitura!

O verão por aqui geralmente é mais calmo, com menos eventos e agitação, já que grande parte das pessoas está fora da cidade nessa época. Mas este ano, um dos meus lugares favoritos em Amsterdã, o Athenaeum Nieuwscentrum, organizou um evento para editores independentes. Uma bela oportunidade de aprender mais sobre o universo das revistas, trocar ideias e se inspirar.

A programação foi uma mistura de mesas-redondas, debates, consultorias individuais com especialistas e a chance de conhecer gente como a gente (apaixonada por revistas). Tudo o que a gente ama na edição independente estava ali: um encontro intimista (media de 15 participantes por sessão) mas cheio de conteúdo afiado. Para completar, o ingresso dava direito a um voucher para gastar em revistas independentes. Para quem ama uma boa banca, como eu, isso já é felicidade instantânea.

Dentre os destaques, dois momentos escolhi dois para dividir.

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Nikki Simpson e o modelo membership para revistas

O primeiro foi a mesa-redonda com Nikki Simpson, do International Magazine Centre, no Reino Unido.
A Nikki tem uma missão muito clara: ajudar editoras pequenas (de times em torno de 10 pessoas) — da ideia até o lançamento e crescimento das revistas — e ela faz isso com bastante conhecimento e uma generosidade rara. (Ela também faz parte da equipe da FIPP, que organizou o evento FIPP Insider no Brasil no início deste ano.)

A sessão dela focou no modelo de membership para revistas — algo sobre o qual escrevi recentemente como uma alternativa ao modelo tradicional de assinaturas. Memberships estão mais alinhadas com essa nova mentalidade de comunidade que muitos leitores buscam hoje em dia: pertencimento, identidade, participação.

Nikki nos guiou por uma estrutura prática para definir o propósito do seu membership, alinhar isso às expectativas dos leitores e usar o que você já tem  – o que ela chamou de “member-izar” seus ativos. (Sim, uma palavra inventada, mas bastante útil!) A mensagem era clara: comece pequeno, comece agora, vá ajustando, mas construa algo que realmente tenha valor para o seu público. Ela compartilhou materiais muito úteis e ainda deixou um convite aberto para o Magazine Street que acontece em outubro, em Glasgow.

Sou uma grande entusiasta do trabalho que a Nikki vem fazendo no International Magazine Centre – é prático, acessível, generoso e cheio de conteúdo valioso. Mas acima de tudo, é construído com base em comunidade.

Colaboração e pessoas confiáveis: elementos essenciais para o sucesso de editores independentes

O segundo destaque foi a palestra de Jeremy Leslie. Jeremy é o criador do MagCulture, no Reino Unido – uma loja, plataforma e ponto de encontro para editores independentes. Na sua fala, ele reuniu trechos de entrevistas com dezenas de editores e criadores que responderam, ao longo dos anos, a uma pergunta simples: O que você aprendeu publicando revistas?

Cada slide parecia um déjà vu da minha própria trajetória como editora. Um checklist de “sim, sim, sim, passei por isso!”. O principal ensinamento  –  repetido por vários entrevistados — foi: comece. Não espere estar perfeito, não complique demais. Comece. Seja ingênuo – você vai precisar dessa ingenuidade para dar o primeiro passo. Sempre me pergunto: se soubéssemos o quanto seria difícil, teríamos começado? Provavelmente não.

Ele também falou sobre a importância da colaboração – cercar-se de pessoas em quem você confia e admira.

Outro ponto forte foi sobre ter clareza no seu ponto de vista. O que você defende? Qual espaço está ocupando? Qual mensagem quer passar? Revistas são feitas de opiniões — e é preciso coragem para ter uma voz clara e forte.

Teve uma citação ótima do Peter Kormanyos, da revista Purgatory Sandwich, aqui de Amsterdã (que também participou do painel no fim do dia):

“Revistas que não estão dispostas a ter uma conversa real com seu público tornam-se irrelevantes e invisíveis.”

Distribuição ainda é um desafio

Depois vieram os aspectos práticos. Revistas tomam tempo e dinheiro. A distribuição é um desafio. Envolve logística, peso, custo. Jeremy fez questão de incluir temas menos glamourosos, como envio pelo correio e impressão – o que é super importante e precisa ser “resolvido”. A verdade é que tudo isso impacta seu produto e seu planejamento. Muitas vezes, o design que adoramos pode não funcionar nos correios. (Flow Magazine é uma bela exceção, aliás!)

Mas tudo isso faz parte do ritmo do processo. É sobre pensar a longo prazo, sobre criar uma estrutura e uma identidade capazes de evoluir com o tempo. Magazines precisam de continuidade, voz e um bom fio condutor.

Dan Jolin, da revista Senet, sugeriu escrever um manifesto logo no início — e reler sempre que necessário. É um guia para manter o foco na missão quando tudo fica mais turbulento.

E para fechar, mais uma citação de Peter naquele dia:

“Abrace o caos. O caos vai fazer perguntas que a ordem nunca faria.”

Em tempos tão caóticos, isso faz mais sentido do que nunca.

E no fim, como sempre dizemos na nossa editora: É só uma revista. Echo Wu, da 1413 Magazine, também disse isso na entrevista dela.

Mas é a sua revista. É real. E quando ela estiver pronta, no mundo, você pode sim sentir muito orgulho dela.

E como todo evento de revistas que a gente gosta de participar, é bom poder encerrar numa nota positiva. Porque afinal a gente precisa de inspiração e motivação para continuar fazendo bem feito.

Lulu Skantze
Editor
Lulu Skantze é fundadora e diretora criativa da Storytime, uma das maiores revistas infantis do Reino Unido. Publicada em cinco países e distribuída em mais de 60, a revista também está em plataformas digitais e audiobooks.Baseada em Amsterdã, Lulu trabalhou em agências de publicidade no Brasil e na Alemanha, além de grandes editoras europeias, dirigindo projetos para marcas como Disney, Mattel e Playstation.Palestrante e consultora em licenciamento, ela também colabora com artigos sobre empreendedorismo e tendências editoriais.Saiba mais em www.storytimemagazine.com e www.storytimehub.com