Revistas Independentes: Renascimento da mídia impressa ou uma nova tendência?
Em seu artigo desta semana, Lulu Skantze começa a desenvolver sobre um movimento que está crescendo na Europa e, como toda novidade, ainda está despertando muitas dúvidas na cabeça dos publishers: as revistas independentes. Como o assunto é longo, partimos em duas edições, para não perder o fôlego sobre o assunto.
Saboreiem sem moderação!
Nos últimos anos, o mercado de revistas testemunhou uma mudança significativa no foco dos seus leitores, com editoras independentes emergindo como protagonistas. O declínio das revistas semanais descartáveis – já que seu conteúdo imediato passou a ser consumido online –, deu lugar a uma onda de publicações de alta qualidade e nicho, que atendem a interesses e hobbies específicos.
Esse fenômeno deu origem ao que muitos consideram o “novo luxo” na mídia impressa: revistas independentes que são meticulosamente elaboradas, visualmente deslumbrantes e muitas delas se tornam objetos de colecionadores. E claro, também, mais caras.
O crescimento das editoras de revistas independentes é uma prova do apelo duradouro da mídia impressa, especialmente quando atende a públicos apaixonados e dedicados ao assunto. Ao contrário das publicações mainstream, que geralmente visam um apelo amplo, as revistas independentes focam em nichos específicos, oferecendo conteúdo que ressoa profundamente em seus leitores.
Essa tendência é evidente em vários gêneros, mas especialmente moda, arte, design, viagens e hobbies especializados. Eu sempre fui uma leitora ávida de revistas, mas notei, em torno de 2010, um surgimento de novos títulos que só tem crescido desde então.
Dinâmica de Mercado e Crescimento
Pesquisas indicam que o setor de revistas independentes está experimentando um crescimento robusto. De acordo com um relatório da Media Voices, o mercado global de revistas de nicho e independentes deve crescer a uma taxa composta anual (CAGR) de 4,5% nos próximos cinco anos. Esse crescimento é impulsionado pela crescente demanda dos consumidores por conteúdo especializado e de alta qualidade, que não está prontamente disponível através dos canais de mídia mainstream.
Ou seja: conteúdo de qualidade volta a ter grande valor.
As revistas independentes tornaram-se objetos luxuosos – gramaturas de papel, páginas diagramadas com espaço e imagens lindíssimas e espaço para artistas mostrarem seu trabalho. Essas revistas permitem tudo isso – o que em si já é um luxo criativo.
Títulos como Kinfolk, Monocle e Womankind foram alguns dos primeiros a consolidarem essa tendência, oferecendo publicações belamente projetadas que também servem como peças centrais de mesa de centro e “cool” cafés. Essas revistas frequentemente apresentam altos valores de produção, incluindo papel de qualidade premium, fotografia impressionante e conteúdo editorial cuidadoso.
“Essa atenção aos detalhes atrai leitores que valorizam a experiência tátil de ler uma revista bem elaborada, bem como a longevidade do produto. Tudo também cada vez mais apoiado pelo nosso desejo de “desconectar-se”.
Menos frequentes – algumas bianuais –, mas bastante recheadas, essas revistas servem para nos lembrar do valor artístico das publicações.
Os desafios de ser um independente
Apesar de sua popularidade, as editoras independentes enfrentam grandes desafios. Não seria surpresa, já que os grandes também enfrentam: a diminuição do número de leitores em geral, o fechamento de bancas e livrarias – também relacionado às mudanças de hábito. Os altos custos de produção, as redes de distribuição limitadas e a concorrência da mídia digital são obstáculos significativos.
Durante a pandemia, a greve das fábricas de papel na Europa e a Guerra na Ucrânia fizeram com que os custos de impressão subissem 15% em 2021 e novamente em 2022. No total, em alguns casos, o aumento do custo total da publicação chegou a 70%. A ideia de imprimir qualquer coisa a essa altura, parece bastante insana!
No entanto, existe sempre uma paixão que motiva um editor determinado a “imprimir’ suas ideias. Reconhecendo-me como um desses personagens, devo admitir que organizações como o International Magazine Centre, uma associação liderada pela Nikki Simpson, ajudam os editores independentes a se firmarem e pedirem ajuda no processo. A associação oferece não só uma comunidade para editores independentes se conectarem, mas também fornecedores, cursos e workshops. O Internacional Magazine Centre foi fundado no Reino Unido e muitos dos eventos acontecem em Edinburgo e Londres, mas os membros são do mundo todo.
Nikki Simpson também trabalha com o Professional Publishers Association (PPA), que oferece assistência às grandes editoras. Mas normalmente essas associações têm um custo muito alto para os independentes, então, fundar o International Magazine Centre foi um passo fundamental em conectar a lacuna entre os editores tradicionais e os independentes. Criou-se, desse modo, um modelo de associação que oferece treinamento de habilidades, grupos de discussão e redes de apoio, a Nikki gerou um ambiente colaborativo onde os editores independentes podem prosperar com mais segurança.
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Networking, compartilhamento de ideias e experiências
O International Magazine Centre, em particular, tornou-se um centro para editores de ideias semelhantes, fornecendo recursos e oportunidades de networking que são vitais para o sucesso de todo setor, já que é interessante para todos nós ver mais revistas independentes ganhando território.
Por isso também gosto tanto do papel da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), nesse mesmo cenário, aí no Brasil. Esse mercado precisa estar conectado mundialmente para ganhar força e para que possamos aprender juntos. O conhecimento e o networking que essas associações trazem ao nosso setor são a peça-chave para o sucesso.
Por hoje é só! Mas ainda há muito a falar sobre as revistas e publishers independentes. Então, até o próximo artigo!