James Hewes: “E-commerce é uma área importante para o futuro da indústria de revistas”

James Hewes: “E-commerce é uma área importante para o futuro da indústria de revistas”

10 de junho de 2022
Última atualização: 24 de agosto de 2023
7min
Com James Hewes, então presidente da Fipp
Márcia Miranda

10 de junho de 2022

Selfie de homem branco de óculos, calvo, cabelos castanhos, barba e terno cinza com blusa vinho abraça mulher de cabelo curto louro, batom vermelho e blusa preta. James Hewes e Regina Bucco
No 44o. FIPP World Media Congress, James Hewes conversou com Regina Bucco sobre o mercado de revistas. Foto: Álbum pessoal.

Há 20 anos na indústria de revistas, James Hewes é o presidente da FIPP e foi o entrevistado da nossa diretora-executiva Regina Bucco nesta despedida da 44º. FIPP World Media Congress, que terminou nesta quinta-feira, 9 de junho, em Cascais, Portugal.

Nesta conversa, ele fala um pouco sobre as boas surpresas que o encontro do setor de revistas trouxe, neste pós-pandemia, sobre a importância do e-commerce, como uma área a que os publishers devem ficar atentos, destaca a Aner e as associações nacionais de revistas como stakeholders importantes na negociação de remuneração com as big techs e conta que ainda há muito trabalho a fazer.

“A transformação digital, particularmente para editoras de revistas, não é assim tão avançada como pensamos. Ainda falta muito para chegarmos ao nível dos jornais e somos muito, muito atrasados quando fazermos a comparação com Netflix ou Spotfy. Ainda temos muito trabalho a fazer”, afirma.

REGINA: James, conte um pouco sobre a sua carreira.

Tenho uma história de 20 anos na indústria de revistas. Comecei na divisão BBC Magazines, mas passei por várias partes da empresa, como o marketing, departamento internacional. Na área de publishing, fui diretor das três maiores marcas da editora, uma revista de automóveis, uma de gastronomia e a Lonely Planet, de viagens. Em 2012 a empresa foi vendida para uma firma de private equity, em um negócio que levou mais de dois anos para se completar. Então, segui para Dubai, no Oriente Médio, para trabalhar no Gulf News, o maior jornal local. Na divisão de revistas, que era toda em papel, minha missão era fazer a transição digital da empresa.

Em 2017 voltei pra Inglaterra e, agora, sou a presidente da FIPP. A associação internacional originalmente era voltada para indústria de revistas, mas agora temos sócios jornais e canais de tv, empresas digitais… somos bem maiores do que éramos.

REGINA: Como é ser presidente da Fipp após 3 anos de pandemia. A mídia se transformou?

A pandemia foi muito interessante para nossa indústria. Época de grandes transformações nas nossas vidas pessoais, mas também nas empresas e no profissional. Para nossos membros foi um tempo para fazer experimentação transformação com o digital. Na Europa as bancas foram fechadas por meses e não havia como vender revistas tradicionais durante a maior parte da pandemia.

Houve um foco mais intensivo sobre duas áreas importantes para nossa indústria no futuro: primeiro as inscrições digitais e isso não é só uma questão de fazer revistas digitais. É uma questão de fazer serviços e conteúdos digitais em que se pode fazer uma estratégia de assinaturas digitais… foi importante para jornais nos anos passados, mas agora também é um foco para outros conteúdos, como lifestile.

A outra área é e-commerce, fazer a relação entre nossos conteúdos, nossos leitores e a possibilidade de comprar produtos e serviços que nós recomendamos. Essa é uma área importante para o futuro da nossa indústria.

Agora, depois da pandemia, todos estes trabalhos foram um bom investimento do futuro dessas empresas. Vimos, passados seis meses, todos os ganhos em assinaturas, quiosques, publicidade nas revistas impressas e digitais e agora temos os bônus de novos métodos de conseguir receita para as nossas brands em forma de resultado de transformação digital que tivemos que fazer por conta da pandemia.

REGINA: As big techs começaram, em alguns países da Europa, a pagar pelo conteúdo. Qual a opinião da Fipp sobre isso?

Achamos que pagar pelo conteúdo é um princípio correto e excelente para a indústria. O único problema é que o valor que o Google e as outras big techs estão pagando ainda não é equivalente ao valor do conteúdo que estamos produzindo. Todos os associados da Aner sabem o tempo e dinheiro que investimos para fazer o fantástico conteúdo que criamos para nossas revistas e sites todos os dias. Isso tem um valor grande… a disposição de negociar das big techs é boa, mas o valor tem que aumentar. E creio que vamos chegar lá no decorrer do tempo. Não agora, no início, mas após alguns anos de negociação e de trabalho conjunto, o valor vai se aproximar de um nível muito mais confortável para nós. Apesar de tudo isso. Essa iniciativa por parte do Google é boa e devemos agradecer por terem iniciado essa negociação conosco. É um bom passo, mas ainda não é o fim da história.

REGINA: Você acha que a Fipp pode fazer essa intermediação?

Acho difícil. Temos representantes em todo o mundo, mas acho difícil fazer uma conversa global sobre esse assunto porque há várias diferenças nos mercados internacionais o que torna quase impossível calcular um índice global… e não sei se isso seria o que o Google e os editores gostariam de fazer. É muito mais importante que os editores individuais tenham relações boas com o Google, Facebook e negociem em relações diretas. Instituições como a Aner devem fazer parte dessas relações, porque associações nacionais podem ajudar os editores a avaliar o real valor do conteúdo, porque isso é coisa nova para nós todos. Associações podem ser uma grande ajuda para os editores neste processo.

REGINA: Tolstoi tem uma frase em que ele diz: “Se queres ser universal, canta sua aldeia”. Penso no mundo de hoje, de globalização, que a existência dos editores regionais e locais é que dá sustentação para toda essa mídia global, porque as pessoas precisam saber o que acontece na sua cidade. Qual é a sua opinião sobre isso? Desse fortalecimento de editores locais?

Interessante agora porque ainda há grandes diferenças nos métodos de publicar revistas e jornais nos diversos países do mundo. Publicar revista no Brasil é totalmente diferente de publicar na Índia ou nos Estados Unidos, mas uma coisa interessante é que o método de publicações de publicidade digital e e-commerce, as best pratices são quase as mesmas em todos os países do mundo.

Agora não é preciso ver como estão fazendo nos Estados Unidos, Alemanha, França, como estão fazendo nos mercados tradicionais, mas estamos vendo exemplos de best practices de países muito diferentes em todo o mundo. Aqui mesmo no Fipp Congress, em Cascais, uma pessoa que vem da Nigéria e está falando sobre as melhores práticas em criação de conteúdo para mercados na África e os aprendizados podem ser aplicados em produtos de meios no Brasil, Argentina, Estados Unidos… e isso é a coisa mais interessante que os aprendizados são uma coisa global. E você encontra exemplos disso em todos os mercados do mundo e este é parte da nossa função, de sem um centro de coordenação para exemplos destas boas práticas em todos o mundo e partilhar estes exemplos com nossos sócios.

REGINA: Qual o seu recado para os editores brasileiros da Aner?

Para os editores e sócios da Aner espero que, em 2023, tenham possibilidade de nos visitar em Cascais no 45º. Congresso da Fipp, em junho. As datas devem ser as mesmas, com sol, mar e pessoas boas e interessantes para encontrar, em uma conferência importante e interessante. Esperamos estar eu e Regina no ano que vem. Até lá!

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Márcia Miranda
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