Aumenta tensão não declarada entre agências e anunciantes durante a pandemia no Brasil.
PROXXIMA – 07/07/2020
Pyr Marcondes
O momento atual é de tensão para toda a nossa indústria. Uma indústria, como todas as demais, feita de partes. Partes que se complementam. Mas no momento, agências e anunciantes vivem tensão extra entre si, provocada pela pandemia. O que fazer?
Agências e Anunciantes vivem particular momento de tensão em sua relação, que diga-se, vinha já, antes da pandemia, vivendo período de revisão e resignificação.
Ninguém comenta abertamente, mas a crise da pandemia acelerou esses processos e criou áreas adicionais de tensão no relacionamento entre as partes.
Agências registram casos de exigências e demandas bastante acima do razoável por parte de seus clientes, desde que a crise começou. Prazos em tese impossíveis de serem cumpridos, além de jobs e projetos desalinhadas com a capacidade de demanda contrata entre as partes.
Anunciantes mostram-se inquietos e erráticos sobre qual o efetivo papel das agências em um momento como o atual, em que demandas por negócios e bottom line pressionam suas operações.
Há e sempre haverá uma relação desigual nessa equação. O anunciante tem o poder da caneta. A agência é um fornecedor. Um fornecedor mega-estratégico, mas um fornecedor.
Em momentos de crise, não só em nossa indústria, mas em todas, relações desiguais como essa tendem a ver a corda ainda mais esticada e, em muitas ocasiões, a parte mais forte sendo ainda mais demandante, exigente e, muitas vexes, operacional e empresarialmente injusta com a outra parte.
Acontece agora em nossa indústria. Ouvi relatos de ambos os lados.
Sem querer ser mineiro, diria que ambos os lados tem lá sua dose de razão, mas o melhor a comentar aqui não é isso.
É o seguinte: anunciantes não podem viver sem suas agências e deveriam ter nelas, neste momento, uma peça-chave em suas demandas da crise, já que a maior parte das soluções que necessitam implementar vem do mercado e quem entende de estratégias mercadológicas e comunicação das marcas com o consumidor são as agências. De nada adianta apertar o torniquete, porque as agências, que vivem momento de demissões e redimensionamentos críticos, vão espanar. Não vejo qualquer vantagem nisso para ninguém
Já para as agências, eu diria que os anunciantes jamais viveram em sua história momento como o atual, e agora é a hora de provar seu (delas, agências) valor estratégico junto a seus clientes, chamando-os para um diálogo aberto sobre metas comuns a serem atingidas, com os recursos e objetivos previamente pactuados.
Se não acontecer assim, as duas partes, que se inter-dependem sinergicamente, viverão mais e mais momentos de tensão. E, em casos mais extremos, de colapso.
De novo, não vejo de verdade vantagem nisso para ninguém.
A atitude estratégica e operacionalmente mais inteligente no momento é uma atuação unívoca entre si. Um não é, nem nunca deveria ser, inimigo do outro.
Inimigo, caríssimos, é o vírus.