Mr. Conteúdo

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15 de julho de 2019
Última atualização: 15 de julho de 2019
Helio Gama Neto

ISTOÉ DINHEIRO – 12/07/2019

Gabriel Bosa

Você já deve ter passado por essa situação: ao ler sobre um determinado assunto na internet, digamos a cotação do dólar, automaticamente aparecem na tela sugestões de outros artigos relacionados a câmbio, mercado financeiro e economia. Essas recomendações vão direcioná-lo a outros sites que, no fim, vão gerar um lead — seja para a compra de um serviço ou produto ou somente para atrair sua visita. Esse é o negócio da Taboola, plataforma de propagação de conteúdo digital fundada em 2006 e presente em mais de 20 mil sites e blogs em todo o mundo, 700 deles no Brasil (entre os quais, o site da DINHEIRO).

Para chegar ao usuário, a Taboola mantém um sistema de algoritmos alimentado por Inteligência Artificial que reconhece os “traços” deixados por cada um de nós na rede. Assim, se uma pessoa é propensa a pesquisar sobre determinado conteúdo, a máquina irá direcionar de forma espontânea assuntos específicos relacionados ao tema. Mais do que isso, a IA busca identificar o momento do dia e até o humor do usuário para filtrar o material corretamente. “A estratégia é conectar o conteúdo certo, para a pessoa certa, no tempo certo”, afirma o vice-presidente de receita global da Taboola, Ran Buck. Com essa modelagem a plataforma impulsiona mais de 300 bilhões de recomendações mensais para aproximadamente 1,4 bilhão de usuários da internet.

Recentemente, a companhia lançou o Taboola News, plataforma de divulgação de feeds de notícias exclusivo para smartphones do sistema Android. O novo serviço já traz a participação das principais fabricantes de celulares do mundo, incluindo Huawei, Samsung e Sony. Fundada em Israel, com sede em Nova York, a Taboola possui escritórios em 16 cidades e prevê expansão com o lançamento de novos serviços e soluções. Apesar de ser o VP de receita, Buck não abre números. Não é uma obrigação de uma empresa que não tem o capital aberto.

Hoje, a plataforma soma mais de 1,3 mil trabalhadores. Curiosamente, mas não surpreendentemente, a menor parte trata de conteúdo. São 500 voltados para a área de desenvolvimento e pesquisa e 350 na área de vendas. Os 450 restantes estão distribuídos pelos outros setores. No Brasil, a empresa está desde 2016 e mantém em São Paulo a única base de operações na América do Sul. A operação no País começou com nove funcionários e hoje tem 37.

A despeito do sucesso, para muitos, o problema é a qualidade do conteúdo distribuído, muitas vezes produzido por players sem afinidade com o universo da informação profissional. Tanto que o fundador da empresa e seu CEO, Adam Singolda, já afirmou que o “foco nos próximos anos é ajudar a trazer jornalismo e notícias de qualidade para todos os dispositivos”.

Quais os principais desafios do mercado brasileiro?
Eu não vejo desafios, mas sim oportunidades. O mercado brasileiro é de um estilo muito “família”, é o único país onde você não conhece as pessoas, mas no primeiro encontro elas irão te abraçar e beijar. Estamos vindo todos os trimestres do ano, conversamos com nossos parceiros, falamos sobre o que está certo ou errado, o que precisa ser alterado, trazemos ideias de como melhorar o serviço. Não é apenas uma relação de enviar a conta, mas sim de parceria.

Quais as principais indicações acessadas pelos brasileiros comparada a de outros países?
Todos os países têm as suas tendências. No Brasil há muita procura de conteúdo sobre animais, crianças e natureza. Nos Estados Unidos as pessoas se interessam em ler sobre cartões de crédito e assuntos financeiros. No Japão também é muito forte a busca por assuntos financeiros, além da área de entretenimento e fofocas. Já na Tailândia predominam as recomendações sobre turismo, viagens e carros.

É possível falar das principais tendências de inovação no setor?
A nossa principal inovação foi colocarmos a Inteligência Artificial para gerir nosso sistema de algoritmos. Temos quase 50 profissionais especialistas em engenharia de IA que lidam diretamente com deep learning em nossos algoritmos, para deixar ainda mais precisas as recomendações. O sistema consegue entender a hora do dia, o humor do usuário, entre outras coisas. Isso não significa apenas apresentar o conteúdo certo para a pessoa certa, mas também no momento certo, já que o conteúdo que eu consumo pela manhã é diferente do que eu costumo consumir na parte da tarde.

De que forma as novas tecnologias, como conectividade 5G e futuras gerações de smartphones, impactam nos negócios?
Acreditamos a 5G irá ajudar as pessoas a consumirem mais conteúdos em uma velocidade muito mais rápida. Para nós também é importante, pois permite coletar mais dados.

Atualmente há muita polêmica sobre a coleta de dados. Como a Taboola lida com essas questões de privacidade dos usuários?
O trabalho da Taboola é entender o comportamento dos usuários. Nós não coletamos dados pessoais, como data de nascimento, nomes ou gênero. Sabemos apenas o que está divulgado publicamente. Essa é a razão da importância do nosso deep learning e da IA.

Esse tipo de tecnologia é capaz de enfrentar distribuição de fake news ou há outro tipo de solução adotada pela Taboola?
Este é um desafio para todo o mundo. Há três anos nos criamos uma equipe de vigilância para lutar contra isso. Esta equipe lê todos os textos que disponibilizamos
na rede, se alguma fake news é postada, conseguimos descobrir e removê-la.

Em quanto tempo?
Em poucas horas ou dias. Também banimos conteúdos de esquemas fraudu-
lentos, pornográficos ou associados a drogas, violência e pornografia.

Veículos de mídia conseguirão sobreviver sem formar parcerias com empresas como a Taboola?
Em todos os países que temos parcerias com editores, nós somos a terceira ou segunda principal fonte de receita. Ajudamos a ganhar dinheiro de uma forma inteligente através da análise comportamental dos usuários. Todos os editores, não importa de qual país, se preocupam com três coisas: como atrair mais audiência, como fazer essa audiência consumir mais conteúdo e como fazer dinheiro com isso. Nós os estamos ajudando em todas essas etapas sendo muito precisos na recomendação, não apenas de conteúdos patrocinados, mas de conteúdos do próprio site aos usuários.


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Helio Gama Neto