“Experimentar é a base da inovação”
MEIO & MENSAGEM – 19/09/2019
Luiz Gustavo Pacete
Quando se fala em empreendedorismo é natural que haja uma associação direta com a abertura de novas empresas e com a vida fora das grandes companhias. No entanto, o intraempreendedorismo é tão importante no processo de transformação quanto a inovação, detectando lacunas internas na atuação de uma empresa e agindo para endereçá-las, apesar da estrutura tradicional do negócio não prever aquela nova área ou projeto. É o caso de Leandro Ribeiro que estando na Fbiz desde sua origem identificou a necessidade de alguns clientes e transformou em um projeto que deu origem à Match, empresa especializada em soluções de marketing digital do grupo e que tem Ribeiro como CEO e cofundador. No 8º episódio da série Transições, ele explica a importância do intraempreendedorismo em processos de inovação.
Meio & Mensagem – Como foi o processo de decisão e transição do mundo corporativo para o empreendedorismo?
Leandro Ribeiro – O meu contato com o empreendedorismo foi por meio do desafio de desenvolver uma área que trabalhasse com automação de marketing e e-commerce, que acabou extrapolando a necessidade do cliente e virou uma necessidade do mercado. Por isso, fundamos a Marketing Tech como sendo um departamento da Fbiz para atender as necessidades dos clientes, que na época eram Netshoes e Multiplus. Com o tempo, percebemos que se tratava de uma necessidade do mercado e não somente daqueles clientes. E isso virou uma oportunidade de negócio. Então em 2016, abrimos as portas para buscar outros clientes dessa natureza, que estavam passando por transformação digital e precisavam de apoio na escolha de tecnologia.
O que te levou ao ecossistema de inovação, por que esse tema te chamou a atenção?
Quando comecei a trabalhar na Fbiz, em 1999, ainda nem era uma agência e estava começando o boom da internet aqui no Brasil. O principal gatilho que nos mostrou a mudança de comportamento do consumidor foi com o projeto que fizemos para a Netshoes, no qual ajudamos a personalizar o seu site e a implementar a tecnologia digital. E tudo isso era muito novo. Na verdade, comecei esse movimento um pouco antes, quando a Fbiz fundou a área de Plataformas e eu era o gerente de Tecnologia da agência. Então, o Reiss (Pedro Reiss, ex-co CEO da Fbiz) me chamou e disse: “eu tenho um negócio aqui que acho que tem valor, mas não sei se vai dar certo. O seu momento é propício para fazer esse tipo de escolha. Vamos juntos?”. E eu topei construir a marketing tech sem nenhuma garantia que iria dar certo e nem se eu teria o meu emprego dali a seis meses. Eu era desenvolvedor e sabia que aproveitar as tecnologias que já existiam para gerar valor mais rápido para os clientes era um caminho para eu usar o meu conhecimento de tecnologia.
De que maneira os seus aprendizados em agência estão sendo aplicados e sendo úteis no dia-a-dia?
Quando eu comecei, a Fbiz ainda era um site (Fulano) e trabalhei em fazer sites, como o primeiro de empresas como Coca-Cola, Unilever, Seda… E esse aprendizado em criar coisas que até então inexistiam me ajudou muito em como a gente estrutura o nosso processo, a nossa venda e como devemos cuidar do cliente. Mas o que foi fundamental e que me ajuda muito até hoje, foi ter tido contato com os profissionais de planejamento, atendimento e criação da agência. Apesar de não ser um profissional dessa área, ter tido contato com esse tipo de trabalho me ajuda muito a entender os problemas dos clientes.
Agora o oposto, quais ensinamentos você está tendo nessa nova realidade que você aplicaria no marketing?
Se tem uma coisa que eu aprendi e estou aprendendo, e para mim isso nunca vai acabar, é que tudo se resume ao relacionamento entre pessoas. Eu saí de uma posição onde eu não tinha nenhum contato com o cliente e hoje eu sou uma das pessoas da Match que os clientes confiam uma boa parte do seu negócio e do seu investimento. E o que eu aprendi é que o nosso principal ativo está na confiança que a gente gera no cliente. Se você demonstra para o cliente que você está mais preocupado com o problema dele do que ele mesmo, essa relação de confiança se torna inabalável. Por isso, o foco do nosso trabalho nunca pode ser somente a parte técnica, o fazer. Temos que colocar as pessoas em primeiro lugar. Eu vejo hoje as marcas tentado fazer isso: não é mais sobre o produto que eu vendo, mas é sobre as bandeiras que eu acredito, é sobre o posicionamento que eu tenho.
Pode indicar quatro insights que sua experiência recente lhe gerou em termos de consumo, experiência, inovação e marketing?
O insight de consumo é que as pessoas vão consumir a novidade. Todo mundo quer experimentar, isso faz parte do nosso dia-a-dia. Todo mundo quer experimentar a nova tecnologia, o novo produto ou a nova experiência. Então, aquele conservadorismo que achamos que as pessoas têm, talvez não seja mais tão válido. O que vemos são pessoas querendo investir na última tecnologia que existe, ainda sem saber muito o porquê, mas só para ser o pioneiro, ser o primeiro a tirar valor daquilo — se é que aquilo gera algum valor. Já sobre o insight de experiência, acredito que sempre vamos estar mudando de desafios ao longo das nossas vidas. Aquela visão que eu tinha quando era novo de que quando fosse mais velho eu teria um alto cargo numa empresa, teria uma posição estável e não precisaria mais aprender coisas novas, isso não existe. O mundo que eu escolhi viver muda muito e todos os dias. E quanto maior fica o seu negócio, não significa que você cresceu e sim, que você voltou para o início de um outro tamanho.