Jornalismo não fala mais só para classe média branca, diz nova editora de Diversidade da Folha

Jornalismo não fala mais só para classe média branca, diz nova editora de Diversidade da Folha

24 de maio de 2021
Última atualização: 24 de maio de 2021
Helio Gama Neto

FOLHA DE S.PAULO – 08/05/2021

A jornalista Flavia Lima, 46, assume nesta segunda-feira (10) o cargo de editora de Diversidade da Folha. Ela era ombudsman do jornal desde 2019, função em que será substituída pelo jornalista José Henrique Mariante, 54.

A editoria de Diversidade foi criada há dois anos, com o objetivo de aumentar a variedade de profissionais que trabalham no jornal e de vozes contempladas em artigos e reportagens, levando em conta sobretudo aspectos raciais, de gênero e regionais.

“Nesse período, o tema da diversidade passou a ser discutido com mais força dentro da Redação. Não que isso não acontecesse antes, mas agora o assunto ganhou uma certa proeminência. Repórteres, editores e a direção hoje têm claro que o perfil do jornal precisa ser ampliado”, afirma ela.

A missão inicial da nova editora será coordenar a primeira versão do programa de trainees da Folha destinado exclusivamente a participantes negros, que se inicia também nesta segunda-feira.

São 18 pessoas, de diversas partes do país, que participarão de um programa online durante três meses, em que terão aulas, assistirão a palestras e farão exercícios práticos. Após o término do programa, diversos participantes acabam sendo integrados à Redação da Folha, o que deve ajudar na ampliação do espectro racial do jornal.

“Se a gente olhar hoje a Redação da Folha, quantos negros temos? Talvez 5% ou 10% no máximo. A ideia é trazer mais gente de perfis diferentes”, afirma ela.

Segundo Flavia, aumentar a diversidade da Folha é uma questão importante para o próprio futuro do jornal.

“O jornalismo sempre falou em nome de uma classe média masculina e branca, e esse leitorado vem mudando. Temos mais leitores mulheres, mais negros, mais periféricos, mais gente de fora do eixo Rio-São Paulo. O jornalismo digital contribuiu para esse aumento, para essa pluralidade. Para continuar crescendo, e para sua própria sobrevivência, a Folha precisa refletir essa mudança”, diz.

Paulistana, formada em direito pela Universidade Mackenzie e em ciências sociais pela USP, Flavia construiu sua carreira como repórter especializada em economia.

Trabalhou na extinta Gazeta Mercantil, no Valor Econômico, na TV Bloomberg e na revista Dinheiro, antes de chegar à Folha em 2017.

Ela diz que, além da questão racial, buscará também assegurar no jornal o espaço para questões de gênero, pautas com temática LGBT+ e temas que não se restrinjam apenas aos principais centros urbanos da região Sudeste.

Uma oportunidade para o jornal marcar seu compromisso com a diversidade, acredita, é rever sua posição, expressa há anos em editoriais, contrária às cotas raciais. O jornal defende cotas sociais, baseadas em critérios de renda.

“Teremos em 2022 uma ótima oportunidade para o jornal rever esse posicionamento, porque é quando a lei de cotas passará por uma rediscussão. Nós já temos evidências empíricas de que as cotas raciais são importantes e funcionam. A posição da Folha ficou anacrônica”, afirma Flavia.


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Helio Gama Neto