20+1+9: os melhores quadrinhos de 2019

20+1+9: os melhores quadrinhos de 2019

6 de janeiro de 2020
Última atualização: 6 de janeiro de 2020
Helio Gama Neto

ZERO HORA – 27/12/2019

Ticiano Osório

Foi difícil chegar a uma lista, pelo excesso de opções em um mercado onde atuam cerca de 20 editoras. A solução foi criar critérios: para o ranking principal, só valeram quadrinhos inéditos (mas algumas obras saíram no apagar das luzes de 2018) e não considerei séries já em andamento. Algumas dessas e alguns relançamentos estão destacados em um adendo mais abaixo. Os gibis estão em ordem alfabética, não de preferência. Não custa lembrar que é uma seleção bem particular e que, por questão de espaço, deixou de fora muitos títulos acima da média lançados na temporada.

20 melhores inéditos

Aquele Verão

As primas canadenses Mariko (roteiro) e Jillian Tamaki (arte) ganharam os troféus Eisner e Ignatz por esta sensível HQ com tintas autobiográficas. Enquanto passam as férias em uma cidadezinha à beira de um lago, duas amigas adolescentes enfrentam tensões familiares e os anseios da puberdade. Belo, sincero e surpreendente (Mino).

Bezimena

Canadense que cresceu na antiga Iugoslávia, onde por pouco não se tornou uma adolescente vítima de abuso sexual por um homem bem mais velho, Nina Bunjevac conta, em tom de fábula grega e desenhos esplêndidos, a história de um estuprador pelo ponto de vista do predador. A beleza pode ser atordoante e até repulsiva (Zarabatana).

The Black Monday Murders

O roteirista Jonathan Hickman e o desenhista Tomm Coker misturam em um caldeirão sinistro economia, ocultismo e teorias da conspiração – segundo eles, a queda da Bolsa de Valores em 1929, por exemplo, é uma história mal contada. Um gibi pretensioso e exigente, que inclui gráficos e diagramas, mas altamente recompensador. O volume 2 sai em janeiro (Devir).

Duplo Eu

Com a artista Audrey Laine, a francesa Navie faz um poderoso relato autobiográfico sobre obesidade mórbida. Ela ingressa em uma árdua jornada de autoconhecimento, mas também enfrenta desafios externos: o estímulo ao consumo de alimentos carregados de açúcar e gordura e a hipocrisia ou covardia dos amigos (Nemo).

O Eternauta 1969

Dez anos após lançar um dos maiores clássicos argentinos, o roteirista Héctor German Oesterheld produziu uma nova versão, agora com outro artista (o mestre Alberto Breccia) e mais politizada: o protagonista Juan Salvo narra a invasão de Buenos Aires por alienígenas, uma alusão aos governos ditatoriais militares (Comix Zone).

Eu Matei Adolf Hitler

“Hitler sumiu em 1938. A Segunda Guerra Mundial nunca aconteceu. O mundo não deveria ser um lugar melhor?”, pergunta uma personagem desta pequena joia assinada pelo norueguês Jason. Travestida de thriller de ficção científica, a HQ discute os relacionamentos contemporâneos, nossa incapacidade de lidar com frustrações e a violência como curso natural da humanidade (Mino).

Golias

O cartunista escocês Tom Gauld reconta a história de Davi pelo lado do vencido. Nesta meditação bem humorada sobre os absurdos da guerra, Golias deixa de ser apenas um símbolo da brutalidade, como é retratado na Bíblia, para ser visto como um burocrata pacífico, que paga o preço por parecer ser o que não é (Todavia).

Heimat

Radicada em Nova York, a alemã Nora Krug decidiu investigar o passado de sua família para refletir sobre a culpa coletiva pelo Holocausto. Neste fascinante romance gráfico, a autora conjuga franqueza e lirismo, coragem e temor, quadrinhos e fotografia, documentos históricos e recriação artística (Companhia das Letras).

O Homem Sem Talento

O japonês Yoshiharu Tsuge produziu em 1986 este mangá sobre um quadrinista que resolve entrar no comércio de pedras. Seus temas seguem atuais: o valor que damos à arte, o peso psicológico das dificuldades financeiras, o desajuste entre o que queremos ser e o que o mundo espera da gente, a sociedade do cansaço, a obsolescência e o esquecimento a que condenamos os mais velhos (Veneta).

Intrusos

Seis contos sobre masculinidade tóxica – todos versam sobre homens que se intrometem e estorvam a vida de mulheres – compõem a obra do americano Adrian Tomine. Artista versátil, ele imprime estilo diferente a cada história, indo da comédia agridoce e cartunesca à contemplação de cenários e paisagens (Nemo).

Luzes de Niterói

Um dos nossos craques tipo exportação, Marcello Quintanilha retrata aqui um universo tão popular na vida real quanto renegado pela ficção: o do futebol. A partir do olhar de um jogador de subúrbio no Rio de Janeiro dos anos 1950, o autor revê o suicídio de Getúlio Vargas e discute a marginalização do brasileiro típico (Veneta).

O Marido do Meu Irmão

Neste mangá em dois volumes, o cotidiano de um jovem pai divorciado muda profundamente quando bate à porta o canadense Mike, viúvo do seu irmão gêmeo. O olhar inocente da filha do japonês contribui para o didatismo afetuoso empregado pelo autor, Gengoroh Tagame, na erradicação do preconceito (Panini).

Minha Coisa Favorita é Monstro

A obra de estreia da americana Emil Ferris ganhou três prêmios Eisner e os festivais de Angouleme e Lucca. Inspirada na própria infância, ela funde o drama psicológico de uma menina que começa a lidar com sua sexualidade, a estética dos filmes e gibis de terror e as memórias da perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial (Companhia das Letras).

O Preço da Desonra

Um cobrador de dívidas contraídas em combate protagoniza o clássico mangá de Hiroshi Hirata. Apesar de se passar na época dos samurais e de ter sido produzido entre 1971 e 1973, continua atual nas discussões sobre a ética da guerra, sobre a honra e a credibilidade, sobre o peso do dinheiro, sobre o que fazemos para sobreviver e cuidar das nossas famílias (Pipoca & Nanquim).

O Relatório de Brodeck

Em momento algum o francês Manu Larcenet informa o local e a época em que a história se passa. Nem precisaria: ainda estamos impregnados pelo horror do nazismo. O aspecto fabular amplifica o poder da narrativa em chiaroscuro e de sua mensagem: a serpente está sempre à espreita, e o homem é o lobo do homem (Pipoca & Nanquim).

Senhor Milagre

Scott Free, o mestre das fugas da DC, tenta escapar da própria vida. A partir daí, a afinada dupla Tom King (texto) e Mitch Gerads (arte) aborda de forma delicada e inventiva depressão, paranoias, filosofia, religião, família, casamento e o próprio mundo dos super-heróis. Venceu três prêmios Eisner e saiu por aqui em dois volumes (Panini).

Silvestre

Autor que vem sendo premiado a cada ano, o potiguar radicado em São Paulo Wagner Willian bebe do manifesto poético-ecológico Walden, de Thoreau, do folclore brasileiro e universal (até a Cuca dá sua cara) e ecoa Sandman. Faz o leitor se embrenhar por uma floresta desconhecida, depois lhe oferece conforto e comida em uma casa, onde, por fim, opera o assombro. Um espetáculo visual sem igual (Darkside).

Tabu

Trilogia assinada por três jovens brasileiras, cada uma focando em um tema “proibido”: suicídio (Cina, de Lalo), educação sexual para crianças (Piracema, de Jéssica Groke) e aborto (Juízo, de Amanda Miranda). As três, felizmente, nos obrigam a ler nas entrelinhas, a casar por conta própria desenho e palavra, a adivinhar significados (Mino).

Virgem Depois dos 30

Ao traçar o perfil de oito japoneses, o jornalista Atsuhiko Nakamura e o desenhista Bargain Sakurachi lançam luzes sobre um fenômeno que vem ganhando corpo: o dos incels, os celibatários involuntários. São bombas-relógio, que podem explodir em violência contra as mulheres ou cair nas mãos de grupos radicais (Pipoca & Nanquim).

X-Men: Equipe Vermelha

Liderado pela telepata Jean Grey, um time de mutantes da Marvel enfrenta perigos muito contemporâneos: o discurso de ódio, a intolerância, a xenofobia, a política da desinformação. Suas armas são tão simples quanto surpreendentes: a difusão da verdade e a promoção da paz. Dois volumes, escritos por Tom Taylor e desenhados por vários artistas, incluindo o gaúcho Rogê Antônio (Panini).

1 retorno
Disney: merece registro a retomada dos gibis mensais de Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey e companhia, agora por uma editora gaúcha, a Culturama, depois dos quase 70 anos em que os personagens tiveram a Abril como casa.

9 séries e reedições

“Squeak the Mouse”: clássico do italiano Mattioli foi um dos relançamentos de luxo na temporada
Alvar Mayor: os argentinos Carlos Trillo (roteiro) e Enrique Breccia (arte) narram as aventuras de um mestiço – filho de uma indígena e de um cartógrafo espanhol – no Peru do século 16 (Lorentz).

Black Hammer/Gideon Falls: o canadense Jeff Lemire assina duas ótimas séries que já estão no seu terceiro volume. Em Black Hammer (Intrínseca), que tem arte de Dean Ormston, um grupo de super-heróis precisa enfrentar o exílio em uma cidadezinha rural. Em Gideon Falls (Mino), desenhada por Andrea Sorrentino, cruzam-se as histórias de um personagem paranoico e um padre que perdeu a fé. Dave Stewart é o responsável pelas cores, fundamentais em ambos.

Cinco Mil Anos: o paulista Caco Galhardo reuniu centenas de tiras, cartuns e HQs nesta antologia engraçadíssima em que desfilam personagens como Lili, a Ex, El Diabo, Julio & Gina, Pequeno Pônei, Umberto Ego e Gilberto Gildeleuze (Companhia das Letras).

“O Elísio” retrata o inferno de soldado brasileiro na Segunda Guerra Mundial”O Elísio” retrata o inferno de soldado brasileiro na Segunda Guerra Mundial.

Nos 80 anos do Batman, brasileiros narram “a maior injustiça da cultura pop”Nos 80 anos do Batman, brasileiros narram “a maior injustiça da cultura pop”.

J. Kendall: as primeiras cinco aventuras da criminóloga criada por Giancarlo Berardi e inspirada na figura da atriz Audrey Hepburn voltaram ao mercado em formato italiano – maior e com papel melhor (Mythos).

Liga Extraordinária: 1898: as duas primeiras minisséries estreladas pelo grupo que reúne personagens da literatura, como Allan Quatermain, O Homem Invisível e Mina Harker (Drácula), com texto de Alan Moore e arte de Kevin O’Neil, foram reunidas em uma edição luxuosa que inclui um jogo de tabuleiro (Devir).

Marshal Law: paródia ácida e violenta dos super-heróis, produzida na década de 1980 pelas mãos dos britânicos Pat Mills e Kevin O’Neil (Panini).

Saga: o volume 9 deste Romeu & Julieta interplanetário deixou os leitores com o coração na mão – não só pelo que acontece na história, mas porque foi o último antes do hiato por tempo indeterminado em que o roteirista americano Brian K. Vaughan e a artista canadense Fiona Staples entraram (Devir).

Squeak The Mouse: o italiano Massimo Mattioli nos oferece um Tom & Jerry para adultos, recheado de horror, violência e sexo, mas também de reflexão sobre os anseios, as desilusões e as transformações da sociedade dos anos 1980 (Veneta).

Um Contrato com Deus: a coleção Biblioteca Will Eisner começa com a republicação de um dos maiores clássicos do quadrinista americano, acompanhado por A Força da Vida e Avenida Dropsie (Devir).


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Helio Gama Neto