Criadores de conteúdo: como eles estão moldando o futuro da mídia, inclusive os veículos tradicionais

Em um mundo onde rolar o feed do TikTok ou passar horas no YouTube pode competir com o jornal da noite, os criadores de conteúdo tornaram-se peças-chave na forma como consumimos informação. Uma recente pesquisa do Pew Research Institute revelou que 21% dos adultos nos EUA — e impressionantes 40% dos adultos com menos de 30 anos — agora recorrem a criadores individuais para se informar. Essa mudança não é apenas uma tendência; é uma transformação profunda que está redefinindo os pilares da mídia tradicional.
Os dias em que os veículos de comunicação tinham o monopólio da informação ficaram para trás. Hoje, podcasters, youtubers e influenciadores exercem um poder sem precedentes, com sua capacidade de se conectar diretamente com o público e construir comunidades leais. A recente eleição presidencial dos EUA foi um lembrete claro desse poder, já que os candidatos ignoraram as redações tradicionais para aparecer em podcasts populares, como The Joe Rogan Experience e Call Her Daddy, alcançando milhões de pessoas por meio de plataformas que parecem mais pessoais do que os telejornais de horário nobre.
Criadores de conteúdo roubam os holofotes
Os números não mentem. O estudo do Pew, que analisou 10 mil adultos e 500 influenciadores de notícias nos EUA, revelou que 77% desses criadores não têm nenhuma afiliação com organizações de notícias. Eles construíram seus seguidores do zero, baseando-se em carisma, autenticidade e talento para contar histórias. Plataformas como X (antigo Twitter), Instagram, TikTok e YouTube são seus palcos, com o X liderando como a escolha de 85% dos influenciadores de notícias.
Curiosamente, o TikTok se destaca por sua inclusão, apresentando a menor disparidade de gênero entre influenciadores e uma presença significativa de criadores com posições políticas de esquerda. É uma plataforma onde vozes não convencionais prosperam, oferecendo novas perspectivas que ressoam especialmente com o público jovem.
O desafio para a mídia tradicional
As redações tradicionais estão lutando para se manterem relevantes enquanto o público migra para esses disruptores digitais.
Em países como México, Argentina, Brasil e El Salvador, políticos já reconheceram o poder dos influenciadores. Líderes como Andrés Manuel López Obrador, Bolsonar, Javier Milei e Nayib Bukele ignoraram as tradicionais coletivas de imprensa, preferindo youtubers e influenciadores que amplificam suas mensagens diretamente para seus seguidores. López Obrador, por exemplo, tornou-se o streamer mais assistido da América Latina em 2023, com mais de 49 milhões de horas de visualização em seu canal.
Essa tendência reflete uma realidade global crescente. As pessoas confiam em criadores que parecem autênticos e próximos, mesmo que faltem a eles os critérios rigorosos de verificação de fatos e neutralidade associados ao jornalismo. Essa mudança, portanto, traz riscos, como a disseminação de desinformação e o aumento da polarização, à medida que as pessoas buscam criadores que ecoem suas crenças.
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Um chamado à ação para os jornalistas
Para os jornalistas, a mensagem é clara: parem de subestimar os criadores de conteúdo. A batalha não é sobre abandonar os princípios fundamentais do jornalismo, como precisão, contexto e integridade. Em vez disso, trata-se de alcançar o público onde ele está — em plataformas que promovem conexão, interação e lealdade.
Alguns veículos de mídia já estão liderando essa mudança. The Washington Post e Morning Brew adotaram iniciativas lideradas por criadores, enquanto outros, como The Telegraph, implementaram estratégias multiplataforma para adaptar conteúdos às redes sociais. No Brasil, o UOL lançou recentemente o UOL Flash (melhor abrir no celular!) com conteúdo verificado, mas em formato de rede social. Essas abordagens buscam preencher a lacuna entre o jornalismo tradicional e a narrativa moderna, utilizando formatos que ressoam com audiências nativas digitais.
A oportunidade adiante
Imagine um novo tipo de jornalista — um criador de conteúdo inserido na redação. Essa pessoa combina rigor jornalístico com fluência digital, criando histórias que se destacam nas redes sociais. Com o suporte e os recursos certos, eles podem se tornar tão icônicos para uma marca de notícias quanto um âncora já foi no passado.
O futuro do jornalismo não precisa ser uma batalha entre veículos tradicionais e influenciadores. Em vez disso, pode ser uma colaboração que aproveite os pontos fortes de ambos: a credibilidade e a experiência da mídia tradicional com o alcance e a proximidade dos criadores digitais.
Enquanto navegamos nesse novo cenário, uma coisa é certa: a forma como consumimos notícias mudou para sempre. A grande questão agora é se a mídia tradicional conseguirá se reinventar a tempo para manter sua relevância na conversa — ou se ficará em segundo plano em um mundo onde os criadores de conteúdo assumem o protagonismo.