Violência contra a imprensa: a cada dois dias, jornalistas sofreram algum tipo de ataque, em 2022
10 de maio de 2023
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) divulgou hoje o um relatório sobre violência contra a imprensa feito em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e apoio da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), da Associação Nacional de Jornais (ANJ), e do Instituto Palavra Aberta. Desde quando a Abert começou a monitorar os casos de violência contra a imprensa, em 2012, apenas em 2019 e 2021, profissionais de jornalismo brasileiros não foram atingidos de forma letal.
O Relatório ABERT sobre Violações à Liberdade de Expressão também mostra que a cada dois dias a imprensa brasileira sofreu algum tipo de ataque em 2022. Os dados foram apresentados pelo presidente da Abert, Flávio Lara Resende, nesta quarta-feira (10), em Brasília.
O documento cita a avaliação da relatora especial da ONU para liberdade de expressão, Irene Khan, sobre os casos de violência contra a imprensa: “Quando jornalistas são atacados e mortos, e quando há impunidade para o assassinato de jornalistas em países democráticos, significa que a democracia está sendo enfraquecida”, afirma.
Sem motivos para comemorar
Em 2022, as agressões físicas estiveram no topo da lista de violações ao trabalho jornalístico. Foram 47 casos contra os 34 do ano anterior, um aumento significativo de 38,24%. O número de vítimas também subiu de 61 para 74, um aumento de 21,31%.
O relatório aponta ainda uma incidência maior dos vários tipos de violência contra a imprensa em períodos específicos e com viés político. Os ataques em várias cidades brasileiras ocorreram, em sua maioria, nos dias seguintes ao segundo turno da eleição presidencial. Também foram registrados ataques durante a cobertura dos protestos contra o resultado do pleito, em defesa de um golpe militar, e durante a desmobilização de acampamentos em frente aos quartéis do Exército.
O documento aponta que houve uma redução de 5,52% no número de casos não letais e de 7,83% no número de vítimas, em relação a 2021. Mas isso, de acordo com Flavio Lara, não é motivo de comemoração:
“Não há motivos para comemorar. Enquanto um jornalista estiver na mira de quem tenta calar ou atrapalhar o trabalho da imprensa, a liberdade de expressão não será exercida em sua plenitude”, afirmou Lara Resende.
Casos de importunação sexual, que anteriormente não foram registrados, voltaram a aparecer no mapa da violência contra a imprensa. Também os casos de censura e ataques e vandalismos tiveram aumentos de 100% e 25%, respectivamente.
Entre as violências não letais com diminuição em registros estão atentados (-75%), ofensas (-47,17%), injúrias (-50%) e intimidações (-3,85%). O único tópico que se manteve estável, em 2022, foi o de roubos e furtos, com o mesmo número de 2021.
Ataques virtuais e ranking mundial
De acordo com estudo encomendado pela Abert à Bites, empresa de análise de dados para decisões estratégicas, em 2022, ano marcado por eleições gerais, mais uma vez, a mídia brasileira não ficou imune às agressões e correntes de ódio virtuais. Os ataques à imprensa, partindo de aliados do então presidente Jair Bolsonaro, chegaram a 1,32 milhão de posts, uma redução de 6% em relação ao ano anterior, quando chegaram a 1,4 milhão de críticas publicadas no Facebook, Twitter e Instagram.
Os números significam que, em 2022, a imprensa brasileira sofreu 3,6 mil ataques por dia, 150,7 por hora ou 2,51 ataques por minuto, com palavras pejorativas e de baixo calão contra os profissionais e veículos de comunicação.
O relatório também traz informações sobre a situação do Brasil em relação ao ranking mundial de nações perigosas para o exercício do jornalismo. De acordo com dados da organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF), no período de 2003 a 2022, 42 jornalistas perderam a vida no Brasil. Na maioria dos casos, a motivação dos assassinatos estava diretamente relacionada a denúncias e investigações de crime organizado e corrupção.
Ao lado de México, Colômbia e Honduras, o Brasil figura entre os 15 países da América Latina que registaram o maior número de casos de assassinatos de jornalistas nas últimas duas décadas. Já o Observatório de Jornalistas Assassinados da Unesco, aponta que, em 2022, 87 profissionais da mídia foram mortos em todo o mundo, um a cada quatro dias.
O Relatório Abert sobre Violações à Liberdade de Expressão pode ser consultado no site da Abert.
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Texto: Márcia Miranda – Simbiose Conteúdo.